Como identificar sinais de sofrimento emocional em adolescentes para agir de forma acolhedora a fim de proteger vidas e fortalecer a saúde mental em família
Por Patrícia Esteves
A adolescência é uma fase marcada por transformações intensas, desafios e descobertas. No entanto, para muitos jovens, essa etapa pode se transformar em um território de sofrimento silencioso, onde a ansiedade, o bullying e outros fatores podem desencadear graves consequências. Uma recente pesquisa da britânica Universidade de East Anglia revelou uma conexão alarmante entre os sintomas de ansiedade social e pensamentos suicidas, indicando que a falta de intervenção pode ter resultados devastadores.
Especialistas alertam que a atenção dos pais e responsáveis é indispensável. “A falta de diálogo e a interpretação errônea dos sinais apresentados corroboram para o comportamento suicida iminente”, enfatiza Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência, pesquisadora e supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Segundo ela, é comum que pais de adolescentes confundam sintomas de sofrimento mental com as mudanças típicas da fase.
O bullying, por exemplo, é um fator determinante e amplamente subestimado. De acordo com o Journal of Maternal and Child Health, adolescentes que enfrentam esse tipo de violência têm 2,7 vezes mais chances de desenvolver comportamentos suicidas. Em um cenário global, o Unicef estima que 150 milhões de adolescentes sofram bullying nas escolas, muitas vezes sem o amparo de uma legislação protetiva, como a Lei 13.185/2015 no Brasil, que classifica o bullying como “intimidação sistemática”.
Mas os números alarmantes não contam toda a história. Muitas vezes, os sinais do sofrimento juvenil são expressos de forma sutil — mudanças no sono e no apetite, queda no rendimento escolar, isolamento social, ou até mesmo frases aparentemente inofensivas, mas carregadas de pessimismo, como “não vejo saída”. Esses sinais clamam por atenção.
Este é um chamado à vigilância, mas também à esperança. Com a ajuda de profissionais, o apoio de uma rede de fé e o amor incondicional da família, é possível resgatar e fortalecer os jovens que enfrentam as tempestades emocionais da adolescência. Porque, ao final, o que eles mais precisam é de um lar onde sejam ouvidos, acolhidos e amados — um reflexo do amor de Cristo.
Confira abaixo uma série de situações e “sintomas” aos quais é preciso ficar atento:
Mudanças no sono e no apetite: “Fique atento tanto na insônia como na hipersonia, quando há sonolência diurna excessiva e/ou duração excessiva do sono; e nas alterações do apetite, seja comendo mais do que o normal ou menos que o de costume”, diz Monica Machado, psicóloga e especialista em saúde mental, com foco em questões emocionais e comportamentais, especialmente relacionadas a adolescentes.
Queda no rendimento escolar: este é um sinal evidente de que há algo de errado com o jovem. “A depressão, por exemplo, altera a forma e velocidade do raciocínio, além da concentração”, elucida a psicóloga.
Automutilação: segundo Danielle Admoni, em média, 70% dos jovens que se automutilam acabam fazendo pelo menos uma tentativa de suicídio. “A autolesão está relacionada à incapacidade de gerir as emoções, fazendo da dor uma maneira de manifestar o sofrimento psíquico”.
Comentários negativos/pessimistas: frases como “a vida não vale a pena” ou “não vejo saída para os meus problemas” devem ser levadas a sério, pois podem refletir uma ideação suicida. “A sensação de descontrole dos próprios sentimentos pode levar à violência em jovens predispostos a esse comportamento, principalmente se confrontados com frustrações”, afirma Monica Machado.
Dores e alterações no organismo: sentir mal-estar frequentemente, e sem causa específica, pode ser sintoma de depressão ou outro transtorno. O indivíduo costuma sentir dor nas articulações e nos membros, dores nas costas, problemas gastrointestinais, cansaço excessivo, alterações da atividade psicomotora.
O que fazer?
Segundo as especialistas, todos esses fatores, quando combinados com a dificuldade natural que os jovens têm de expressar seus sentimentos, tornam a prevenção ao suicídio ainda mais desafiadora.
Portanto, a primeira providência a ser tomada é buscar ajuda com profissionais de saúde mental. Normalmente, o tratamento envolve terapia, podendo haver indicação de medicamentos, a depender do diagnóstico. “Vale lembrar que, por mais importante que seja a rede de apoio, ela não substitui o acompanhamento médico e terapêutico”, pondera Danielle Admoni.
Para além da ciência, um dos preceitos básicos é estar sempre por perto. “Seja acessível ao seu filho o tempo todo, para qualquer demanda. Muitas vezes, apenas este ‘estar disponível’ já promove a sensação de acolhimento e segurança que seu filho tanto precisa”, pontua a psicóloga Monica Machado.
“Além disso, evite julgamentos precipitados e entenda que circunstâncias estressantes da vida podem ser fatores de risco para o suicídio de jovens”, finaliza Danielle Admoni.