Por que a Igreja pode aprender com as árvores? Como aprendemos na ‘ecologia’ este princípio tão importante de comunidade?
Os seres humanos foram criados para viver em comunidade. E a nossa fé foi criada para ser nutrida e incentivada dentro de uma comunidade da igreja. Parece difícil ver esse design tão bonito novamente após diversas situações que podem ocorrer na comunidade de fé.
Seja pelas falhas morais de um líder, intensa divisão, abuso de abuso sexual ou crueldade mesquinha, a ruptura de uma comunidade da igreja sempre deixa estragos em seu caminho.
No entanto, há uma lição impressionante de esperança (e um aviso) na maneira como Deus criou florestas para crescer. Assim também, o mesmo Deus que nos diz para irmos à formiga quando estamos com preguiça (Pv 6: 6), nos deu uma bela analogia e exemplo de como as árvores crescem juntas.
“Uma árvore pode ser tão forte quanto a floresta que a rodeia”, explica o engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben. Ele explica a natureza comunitária da floresta em seu livro The Hidden Life of Trees.
Árvores, amigas ou concorrentes?
Estudos de ecologia sugerem que as árvores trabalham socialmente juntas para o bem da floresta como um todo. Isso contraria as teorias mais antigas de que as árvores eram concorrentes em uma luta darwiniana por recursos.
Árvores, segundo Wohlleben, são interdependentes. “Árvores individuais da mesma espécie estão conectadas umas às outras através do sistema radicular”, descobriram cientistas alemães na região montanhosa de Harz. Nesse sistema as árvores podem se comunicar através das “redes de fungos em torno das pontas das raízes”.
As árvores também se comunicam emitindo um “gás de alerta” para as árvores vizinhas sobre ameaças próximas. Eles avisam-se mutuamente sobre pragas, secas e doenças, permitindo que outras árvores façam alterações para suportar melhor esses perigos.
Além disso, elas usam seu sistema radicular para ajudar outras árvores em momentos de necessidade, trocando nutrientes e compartilhando água. O aspecto social da floresta é tão forte que Wohlleben usa palavras como “amigos” em uma entrevista para descrever o relacionamento entre duas árvores interconectadas. Ele também explica que as árvores jovens sob a sombra pesada de árvores maduras não conseguem fotossintetizar adequadamente, de modo que as “árvores-mãe”, as árvores maduras, “amamentam seus filhotes” compartilhando nutrientes através do sistema radicular.
Assim, esses descritos de Wohlleben e outros pesquisadores criam representações úteis para explicar o comportamento orientado à comunidade das florestas antigas.
O que a floresta ensina?
“Mas por que as árvores são seres sociais? Por que eles compartilham comida com sua própria espécie e às vezes chegam a alimentar seus concorrentes?”, Wohlleben pergunta.
“Por si só, uma árvore não pode estabelecer um clima local consistente. Mas, juntas, muitas árvores criam um ecossistema que modera extremos de calor e frio, armazena uma grande quantidade de água e gera muita umidade. E nesse ambiente protegido, as árvores podem viver para ser muito antigas”, afirma o engenheiro.
Assim como todo membro da igreja tem valor, Wohlleben diz: “Toda árvore, portanto, é valiosa para a comunidade e vale a pena permanecer por tanto tempo quanto possível. E é por isso que até indivíduos doentes são apoiados e nutridos até se recuperarem.”
Um estudo descobriu que a falta de relacionamentos fortes aumentou o risco de morte prematura por todas as causas em 50%. Um efeito no risco de mortalidade comparável ao de fumar até 15 cigarros por dia e maior que a obesidade e a inatividade física. De acordo com a pesquisa da Harvard Health Publishing, a qualidade de nossos relacionamentos afeta tudo, desde a função endócrina e imunológica até a atividade do sistema nervoso.
E a pesquisa mostra os benefícios claros para relacionamentos e comunidade saudáveis. Ter relações de qualidade em abundância resulta em melhor saúde mental, menos doenças e vida mais longa.
O mesmo Deus que fez interdependentes as florestas não perturbadas também fez com que nossos corpos, mentes e espíritos precisassem de comunidade para nossa saúde mental e física.
As árvores e a saúde espiritual
Espiritualmente os cristãos fazem parte de um “povo escolhido, um sacerdócio real, uma nação santa” (1 Pedro 2: 9). Somos igualmente parte do corpo de Cristo, para que “os membros tenham o mesmo cuidado um pelo outro. Se um membro sofre, todos sofrem juntos; se um membro é honrado, todos se alegram juntos” (1 Cor. 12: 25–26, ESV).
A Bíblia nos diz para compartilhar com aqueles que têm menos (2 Cor. 9); cuidar dos vulneráveis (Sl 82: 3-4), dos órfãos e das viúvas e dos oprimidos (Is 1:17); para alertar os outros sobre o perigo (1 Tes. 5:14; 2 Tes. 3:15); e agir com unidade (1 Cor. 1:10). Da mesma forma, as florestas cuidam das árvores doentes e das árvores jovens e macias que crescem sob a sombra, e compartilham informações e nutrientes entre si.
Se as comunidades nos fortalecem quando somos fracos, oferecem amor e apoio e nos ajudam a alertar sobre perigos, o que acontece quando essa comunidade desaparece subitamente? A floresta nos dá uma analogia mais sombria aqui.
Entretanto, ao contrário das árvores, não estamos somente conectados às nossas comunidades locais. Somos enxertados no próprio Jesus. Por isso Ele é nossa fonte de fé e perseverança (Rom. 11), e essas são boas notícias para nós quando enfrentamos comunidades desfeitas. Como uma árvore na floresta, todos podemos torcer um pelo outro e ficar mais fortes juntos. Ao contrário das árvores, também temos o poder de deixar situações prejudiciais e encontrar comunidades mais saudáveis.
Wohlleben explica que a floresta comunal pode suportar até ventos ao nível dos furacões, pois “a comunidade arbórea se une para ajudar cada árvore individualmente”. É uma bela imagem do que a comunidade da igreja é capaz quando enfrentamos as tempestades da vida juntos.
*Com informações de Christianity Today
