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terça-feira, 23 abril 2024

A Filosofia Hedonista Na Igreja Contemporânea

Embora possa parecer imperceptível para muitos, é possível ver a influência da filosofia hedonista na igreja nas últimas décadas

Por Joarês Mendes de Freitas

Hedonismo é uma filosofia de vida que tem na busca do prazer o seu objetivo mais elevado e considera sua satisfação o fundamento da conduta moral. Suas origens remontam à Grécia antiga, ao tempo de Sócrates (470-399 aC) através da escola Cirenaica na pessoa de Aristipo (435-356 aC). O também grego Epicuro (341-270 aC) classificou o hedonismo entre natural, quando a busca é pela satisfação dos desejos naturais ou inerentes ao ser humano, e não naturais, quando extrapola esse limite do que pode ser considerado uma necessidade. Para o inglês Henry Sidgwick (1838-1900) o hedonismo psicológico é a única força motivadora para as ações humanas, enquanto no hedonismo ético, os homens veem o prazer (suas posses) como o fator mais importante da sua existência. 

Apesar de o termo hedonismo ser pouco usado nos dias atuais, as suas manifestações são bastante comuns na sociedade contemporânea. O consumismo que leva multidões aos centros de compras muito mais pelo prazer de possuir coisas do que pela necessidade; o crescimento exponencial do mercado de entretenimento que gera satisfação pessoal; a crescente valorização das experiências sensoriais que resultam em um estado de bem-estar, seja físico ou psicológico; o abandono dos padrões tradicionais de expressão da sexualidade e a sua substituição por uma liberalidade que desconhece limites; o predomínio cada vez mais acentuado dos interesses individuais (egoístas) em detrimento do bem-estar coletivo.

Embora possa parecer imperceptível para muitos, é possível ver a influência da filosofia hedonista na igreja nas últimas décadas. Sua forma mais ruidosa provavelmente seja a chamada teologia da prosperidade. Seus pregadores prometem uma espécie de “céu na terra, aqui e agora”, anunciam o fim de toda enfermidade, do sofrimento e da pobreza. Nada parece mais distante daquilo que Jesus diz em João 16.33: “Neste mundo vocês terão aflições; mas tenham ânimo! Eu venci o mundo” e dessas palavras de Paulo: “Assim como a natureza, que geme até agora como que em dores de parto, mesmo nós que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente aguardando o dia da nossa redenção” (Romanos 8.22-23).

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Prosperidade é um conceito bíblico. O problema ocorre quando o sentido da expressão ganha uma conotação predominantemente (e por vezes exclusivamente) materialista, isto é, o seu foco perde a verticalidade e se torna horizontal, sendo relacionada aos aspectos temporais da existência humana. Nesse sentido, C.S. Lewis (1898-1963) afirma: “Mire o céu, e você terá a terra como lucro. Mire a terra, e você não terá nem uma coisa, nem outra.”

John Piper (1946 -) lembra que o breve catecismo de Westminster, aprovado em 1647, na Escócia, contém essa declaração: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre”. Com isso, Piper fala de um possível “hedonismo cristão”, porque os filhos de Deus têm nele a sua fonte de prazer, como diz Paulo aos Filipenses “Para mim, o viver (o sentido da vida) é Cristo” (1.21).

Joarês Mendes de Freitas, Pastor emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória, ES.

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