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terça-feira, 19 março 2024

A chave para sair do vermelho

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Planejamento familiar: especialistas apontam o caminho para organizar as contas, fugir da crise e investir os extras - Foto: Reprodução

Planejamento familiar: especialistas apontam o caminho para organizar as contas, fugir da crise e investir os extras

Carro, aluguel, impostos, contas de água, energia e telefone, escola, alimentação… A lista de despesas de uma família é extensa e, em tempos de crise, o mínimo descontrole pode ser suficiente para deixar o orçamento no vermelho. Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), em agosto deste ano, mostra que 58% dos lares têm compromissos financeiros a honrar. Esses débitos foram classificados em três patamares: 14,6% das unidades domésticas estão muito endividadas, 20,7% mais ou menos endividadas, e 22,7% pouco endividadas.

O mesmo levantamento conclui, ainda, que 24,4% das famílias têm contas em atraso e que 9,4% não possuem condições de pagá-las. Encabeçando o ranking estão as pendências com cartão de crédito, carnês e financiamento de veículos. Resultado: dívidas contraídas e não pagas geram juros e multas, o que complica cada vez mais a situação.

Na casa do auxiliar de marketing Joatan Alves, que frequenta a igreja evangélica Vida de Jacaraípe, na Serra, a contabilidade já registra déficit. Ele mora com a esposa e as duas filhas gêmeas, de 8 anos. O vilão, aponta, são as parcelas da compra do automóvel. “Tudo aumentou de preço, como combustível e energia, e o salário têm contas em atraso e que 9,4% não possuem condições de pagá-las. Encabeçando o ranking estão as pendências com cartão de crédito, carnês e financiamento de veículos. Resultado: dívidas contraídas e não pagas geram juros e multas, o que complica cada vez mais a situação. Na casa do auxiliar de marketing Joatan Alves, que frequenta a igreja evangélica Vida de Jacaraípe, na Serra, a contabilidade já registra déficit. Ele mora com a esposa e as duas filhas gêmeas, de 8 anos. O vilão, aponta, são as parcelas da compra do automóvel. “Tudo aumentou de preço, como combustível e energia, e o salário não acompanhou. O resultado foi o atraso no pagamento, com a necessidade de um refinanciamento para quitação”, explicou o pai.

Para piorar, com a condição econômica ruim para todo mundo, as clientes de sua mulher, que é manicure, estão fazendo as unhas em casa e só solicitam o serviço em ocasiões especiais. O jeito foi recorrer a uma conversa séria. “Pretendemos fazer um planejamento detalhado, mas a princípio já decidimos cortar lanches e passeios. As meninas, apesar de novas, já entenderam o quadro e estão colaborando”, contou ele.

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“A família precisa listar todos os gastos, da conta na padaria ao financiamento do veículo, por exemplo. Só assim saberá para onde está indo o dinheiro e se estão gastando mais que possuem” Mário Vasconcelos, economista e consultor financeiro

Assim como na residência de Joatan, um bom planejamento pode ser a solução para balancear receitas e despesas. A saída é mais comum do que se imagina, de uma forma ou de outra as pessoas estão buscando fôlego financeiro. Prova disso são os 85,9% dos brasileiros que precisaram ajustar o orçamento doméstico por causa da crise econômica este ano, de acordo com estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

Planejando com eficiência

Mas qual o segredo para um planejamento eficiente? Na opinião de Paulo Roberto G. Coelho, diretor financeiro da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) no Pará e no Amapá, a primeira questão a avaliar é o padrão ideal de vida que se leva. “Muitas pessoas recebem R$ 5 mil e querem ter o estilo de vida de R$ 10 mil. Dessa maneira, se endividam e veem os juros consumirem seus sonhos”, explica o especialista, que também é autor da coluna “Finanças em Dia” da denominação para os países da América do Sul.

Para sair do sufoco e formar reservas, avisa, é preciso se perguntar: As roupas que visto são do meu padrão econômico? O carro que tenho é compatível com minha renda? O bairro, a região onde fixei residência, está compatível com meu salário? As viagens de férias estão dentro de minha realidade? A frequência com que vou a restaurantes está comprometendo o orçamento?

Coelho frisa que é essencial ter a consciência de viver em conformidade com as entradas financeiras. “Muitos, no afã de manter um estilo de vida que não condiz com a receita, contraem empréstimos e mês após mês aumentam suas dívidas até que o desânimo vem. Aí pensam que encontrarão alívio abandonando a família, divorciando-se ou até mesmo atentando contra a própria vida”, lembra.

Após analisar o estilo de vida, o passo seguinte é apresentá-lo à família. Consultor financeiro em economia doméstica, Mário Vasconcelos diz que é preciso reunir todos os integrantes, inclusive as crianças. Sem brigas ou acusações, colocam-se no papel todas as dívidas e qual a contribuição financeira de cada um. Visualizando tudo o que se ganha e com o que é preciso gastar, fica mais fácil cortar e poupar, ensina o economista. “Vocês decidirão juntos as ações a serem tomadas, como pesquisar em vários supermercados antes da compra do mês, reduzir conta de celular e energia ou cortar passeios”, observou ele, que acrescenta ter aumentado consideravelmente o número de palestras sobre o tema em igrejas e empresas.

“Em tempos de crise, corte sangrias. A partir disso, você se equilibra aumentando a receita, e não apenas eliminando despesas” – Josué Campanhã, pastor e presidente da Sepal

Para organizar as cifras, é necessário buscar modelos de planilha, disponíveis na internet em várias formas. A dica é iniciar pelo mais simples, que separa receitas e despesas. “A família precisa listar todos os gastos, da conta na padaria ao financiamento do veículo, por exemplo. Só assim saberá para onde está indo o dinheiro e se está gastando mais que possui”, alertou Vasconcelos.

E quando o assunto são as despesas elevadas, o cartão de crédito lidera a lista dos inimigos. Atualmente, a taxa anual de juros pode chegar a 480%. A dica então é reduzir o número de parcelas e, se possível, o volume de compras. “Se for comprar 5 kg de arroz ou um lanche, dê preferência ao débito. Há pessoas que, mesmo tendo dinheiro para pagar, passam coisas pequenas no crédito e depois se enrolam”, recomendou.

A mesma coisa vale para o cheque especial. “Faça planos de, por exemplo, num período de seis meses, eliminar os débitos com cartões e cheque especial. Para isso, você vai precisar de paciência, persistência e muita disciplina”, lembrou.

Mas atenção! Cartões, financiamentos e cheques não devem ser a única preocupação. Há ainda os chamados consumos imperceptíveis, cujo destino acaba se tornando incerto. É aquela nota de R$ 50 que está na bolsa no início do dia e “some” à noite. “Anote tudo o que gastar para que se torne fácil identificar depois, ao fazer uma retrospectiva. Você vai ver que de R$ 50 em R$ 50 poderá ter gastado mais de R$ 10 mil no ano.”

Outro passo para o bom andamento do planejamento financeiro familiar é aumentar o poder aquisitivo. A dica é dar preferência aos pagamentos à vista com desconto e evitar parcelamentos.

“Em tempos de crise, corte sangrias. A partir disso, você se equilibra aumentando a receita e não apenas eliminando despesas”, indica o Pr. Josué Campanhã, presidente da organização religiosa Servindo aos Pastores e Líderes (Sepal). Elevar a renda é outro ponto importante. Para isso, é possível oferecer serviços, fazer horas extras ou comercializar algo. Mas o pastor adverte: equilibre a agenda com as atividades em família, a área espiritual e a saúde. “Avalie quanto você vai arrecadar com esse extra, quanto tempo vai levar e que campos da vida podem ser comprometidos. Isso é fundamental para que você não resolva de um lado e complique do outro”, comentou.

Investindo os extras

Colocou as obrigações em dia e sobrou dinheiro? O que a família vai fazer com ele também entra no planejamento financeiro. Campanhã indica guardá-lo em uma reserva de emergência. “O ideal é estabelecer um percentual, que pode ser em cima da renda total da família. Ou, ainda, é possível estipular um alvo que cubra os gastos da casa durante certo período.” Uma pesquisa do Instituto Data Popular apontou que 15,7% dos consumidores usaram recursos da poupança para cobrir despesas em janeiro deste ano.

O percentual foi o maior em mais de 10 anos da sondagem, feita pela Fundação Getúlio Vargas. Não à toa, a caderneta teve um saque líquido (o quanto as retiradas superaram os depósitos) recorde de R$ 53,57 bilhões em 2015. Mas, com cálculos e controle, também é possível usar o dinheiro extra para realizar projetos, como comprar uma casa ou fazer uma viagem. Campanhã ressalta que muitas famílias conseguem investir em sonhos sem comprometer outras áreas. “Quem não tem um planejamento financeiro em casa já tem um plano para fracassar. É preciso torná-lo parte da rotina para ter sucesso”, conclui.

Quem faz garante que dá certo. Na família do pastor adventista Moisés Oliveira, a organização contábil é o motivo para a crise passar longe. Segundo a esposa dele, Silvana Noemi Oliveira, os cortes aconteceram, mas não comprometeram o pagamento dos compromissos, as compras, os passeios e até mesmo a devolução do dízimo. Tudo porque eles sempre usaram as planilhas.

“Muitas pessoas recebem R$ 5 mil e querem viver o estilo de vida de R$ 10 mil. Dessa forma, se endividam e veem os juros consumirem seus sonhos” – Paulo Roberto G. Coelho, diretor financeiro da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Pará e no Amapá, autor da coluna “Finanças em Dia”

Para manter as contas no azul, além dessa disciplina, as crianças são estimuladas a economizar. Tanto Esther, de 12 anos, como Thiago, de 8, possuem um cofrinho para poupar o que ganham. “Eles são bem conscientes e, quando desejam algo, sabem que precisam economizar para ter”, explicou Silvana.

Autor de 27 livros, dos quais 19 são na área de finanças, o preletor Ivonildo Teixeira frisa que o melhor é uma vida dentro das possibilidades de seus ganhos. Uma das suas recomendações é fazer despesas com o dinheiro que possui e reservar o que é Deus. “Sugiro que você faça um curso de planejamento familiar. Peça ao Espírito Santo para ser o seu orientador; tenho certeza de que Ele o orientará a eliminar muita coisa supérflua e ainda separar dízimos e ofertas”, afirmou. Por fim, será possível identificar a diferença de gastar e investir. “Com sabedoria, você mostrará que tem a cabeça no lugar e, com a ajuda do Todo-Poderoso, alcançará uma vida financeira saudável”, garante.

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 232 da revista Comunhão, de Janeiro de 2017. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

 

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