Todo pai anseia, mas sofre, com a saída dos filhos. Essa é a ordem natural: que os filhos saiam de casa para cumprir os propósitos de Deus para suas vidas
Por Fábio Hertel
Existe uma centralidade geográfica na Parábola do Filho Pródigo contada por Jesus enquanto estava à mesa, e que foi registrada pelo doutor Lucas (Lucas 15:11-32). Há um lugar comum que serve de palco e promove encontros entre o filho pródigo, o filho mais velho e o pai. Esse lugar é a casa do pai.
Se um intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) estivesse interpretando essa parábola, certamente poderia criar um cenário imaginário à sua frente – porque essa é uma técnica de interpretação – sinalizando e colocando a casa no centro e, a partir da casa, sinalizar o movimento dos três personagens: o filho pródigo sai de casa (v. 13), o filho mais velho se aproxima da casa (v. 25) e o pai permanece em casa (v. 22). Observando esse cenário, podemos extrair muitas riquezas.
Todo pai anseia e, ao mesmo tempo, sofre com a necessária saída dos filhos. Porque, cá pra nós, essa é a ordem natural: que os filhos sejam treinados, discipulados, equipados e saiam de casa para cumprir os propósitos de Deus para suas vidas. Mas não antes de cumprirem alguns protocolos. O que o filho mais novo ainda não havia aprendido é que, até no mundo espiritual, existem regras, rituais, etapas e processos. E, para que a saída seja suave e promissora, é preciso contabilizar horas de desfrute à mesa e receber a bênção do pai.
Ele ficou de recuperação nessa etapa, tanto que teve que voltar para refazer essas matérias.
O filho mais velho se afastou da casa e estava muito ocupado em bater as metas do seu empreendimento, e somente “quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu as músicas e danças” (v. 25). Ou seja, não há festas verdadeiras, significativas e realizadoras fora da casa do pai. Estando próximo, muitas vezes de forma clandestina ou descomprometida, você pode até identificar a playlist, mas, para se alegrar e festejar intensamente, você precisa entrar de corpo e alma em casa.
Já o pai apresenta uma proposta vitoriosa de sucesso empreendedor e uma paternidade ativa, presente e intencional. Ele possuía propriedade, bens, casa, gado, funcionários, enxoval em estoque – roupas, sandálias, anel – caixa em liquidez, tanto que, assim que requisitado, rapidamente repartiu “os haveres”, ou seja, ele possuía recursos disponíveis e abundantes. Mas a característica mais “instagramável” desse pai é que, apesar de ser um homem próspero e bem-sucedido, sempre estava presente em casa. Ele possuía uma visão paternal e energia física para ver de longe e correr na direção do filho mais novo. Promovia tempo e argumentos para conversar e conciliar o filho mais velho. Alimentava uma alegria no coração e disposição para promover festas com fartura, músicas e danças dentro de casa. Tudo isso para torná-la um ambiente alegre e desejável.
Isso pode soar como um escândalo para homens empreendedores que justificam sua ausência por conta do trabalho. Mas esse pai não se apoiou na mentira “ou cuido dos negócios ou cuido da casa”. É mister cuidar desta sem desprezar aqueles.
Quando nos lembramos que Jesus veio para, de forma inédita até então, revelar Deus como um pai amoroso, o que podemos concluir é que todos desfrutamos de riquezas deliciosas quando permanecemos na casa do Pai. Permaneçamos, pois, na casa do Pai. Amém!
Fabio Hertel é empresário, Bacharel em Teologia, Psicanalista Clínico, Membro da Missão Praia da Costa e host do “Tá Legado Podcast”