Nos últimos dez anos, o uso de drogas aumentou 23% no Brasil, que já responde por 20% do consumo no mundo. Problema também atinge o público evangélico
Por Cristiano Stefenoni
O Dia Nacional do Combate às Drogas e ao Alcoolismo, celebrado nesta terça-feira (20), joga luz sobre um problema que está longe de ter solução. O Brasil já responde por 20% do consumo de drogas no mundo. O Relatório Nacional de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que cerca de 6 milhões de brasileiros já provaram cocaína alguma vez na vida.
Os dados alarmantes mostram que o consumo de droga no país cresceu 23% nos últimos 10 anos. Nesse universo destruidor, 5,6 milhões de adultos e 442 mil menores já consumiram crack, óxi e merla. Além disso, 39,5 milhões sofreram algum tipo de transtorno mental por causa das drogas, alta de 45% em 10 anos.
Quando o assunto é bebida alcoólica, o cenário também é preocupante. Um levantamento feito pelo Centro de Informações sobre Saúde do Álcool (CISA) – o “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2023” – mostrou que 45% dos brasileiros ingerem bebida alcoólica em festas, eventos sociais e até mesmo em casa. Desse total, 25% são jovens (18-24 anos) e 23% são adultos jovens (25-34 anos).
Outro fato constatado pela pesquisa é o estrago feito pela bebida entre o público feminino. A cada hora, cerca de duas mulheres morreram em razão do uso nocivo de álcool, e 15.490 brasileiras perderam a vida em 2020 por motivos relacionados ao consumo da substância. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o consumo de álcool pode causar mais de 200 doenças e lesões.
Drogas dentro da igreja
Engana-se quem pensa que essa triste realidade é algo distante do meio evangélico. Mesmo os que praticam alguma religião podem cair nessa armadilha, como é o caso de S.S, de apenas 23 anos de idade, membro da Igreja Batista. Atleta amadora e bolsista do governo, há cinco anos ele trava uma batalha contra a dependência química. A libertação tem sido conquistada à base de muita terapia e oração.
“Depois de ser abandonada pelos meus pais, estou tendo apoio gratuito de um psicanalista. A terapia me indica os caminhos e a arte de dizer ‘não’. Deus tem sido importante nesse processo, por cuidar de mim e por dar paciência aos que estão lidando comigo”, conta S.S.
A pessoa em questão é paciente do pastor batista Francisco Veloso, que também é psicanalista e doutor em Dependência Química. Ele explica que ninguém está livre de passar pelo drama do vício. “As drogas e o alcoolismo têm atingido a igreja e muito. Eu mesmo tenho atendido, inclusive, pastores que estão usando drogas, e alguns acabam indo para o homossexualismo também”, relata Veloso.
Ele explica que, com o passar dos anos, a batalha contra as drogas tem se tornado cada vez mais difícil, principalmente, por falta de informação e educação, mesmo com toda a tecnologia disponível.
“A prevenção é o único caminho para se combater de forma eficaz as drogas, mas faltam políticas públicas de prevenção. Como cobrar aquilo que não é ensinado? As drogas têm aumentado no mundo por falta de orientação”, afirma.
Fé exerce papel fundamental no tratamento
Para o doutor em Psicologia e psicanalista especialista em Neurociência, pastor Édson de Oliveira Pinto, é inegável o papel da fé na terapia humana, não só no tratamento da dependência química, como também em outros contextos, como a prevenção ao suicídio.
“Uma pessoa que tem fé consegue pagar uma promessa com tanta segurança, de maneira tão positiva que isso exerce sobre o seu corpo um efeito altamente positivo. No que diz respeito às drogas, a fé é o elemento central para ajudar uma pessoa na saída de dependência química”, garante o doutor.
O pastor explica que, quando o tratamento do dependente associa medicamentos, psicoterapia e fé, a resposta positiva aumenta em 70%. “Dependendo da abordagem espiritual, podemos ter uma resposta fantástica. Essa relação com a divindade que o ser humano cultiva é muito forte. Acreditar em uma promessa faz toda a diferença”, ressalta.
O especialista também alerta para a importância da prevenção, principalmente para que se evite a experimentação. “A prevenção primária é aquela em que a família, a igreja e os determinados atores sociais agem de forma que a pessoa a criança ou o adolescente não tenha contato com a droga. A outra prevenção é a secundária, quando uma pessoa já teve contato com a droga, mas foi ocasional. Nesse caso, o trabalho é para evitar que se dê sequência ao uso, para que esse quadro não fique crônico”, explica.
Vacina é raio de esperança
O médico psiquiatra Dr. José Luis Leal de Oliveira afirma que a medicina tem atuado de várias formas para ajudar no combate às drogas. Uma dessas iniciativas é a vacina anti-cocaína que está em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Infelizmente, carecemos de pesquisas que validem tratamentos medicamentosos, mas estamos bastante esperançosos com a pesquisa da UFMG, que está na fase três, da vacina anti-cocaína. Contudo, o tratamento dos derivados da cocaína continua sem medicação com eficácia comprovada, restando exclusivamente as abordagens terapêuticas não farmacológicas, como psicoterapia e mudanças no estilo de vida”, enfatiza.
O doutor diz que nem todos precisam tomar medicação e que, às vezes, somente psicoterapia e grupos como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Amor Exigente ajudam o paciente a se abster. Ele também alerta para que os pais fiquem atentos dentro de casa em relação ao comportamento dos filhos.
“É muito importante a detecção precoce, afim de evitar prejuízos mais graves e aumentar a chance de resposta precoce. Devemos atentar para alguns sinais do desenvolvimento de dependência química, como mudanças no padrão do sono, prejuízo financeiro, alterações no apetite e no peso, isolamento social, irritabilidade e hostilidade”, orienta.
A droga que transforma humanos em zumbis, assista: