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quinta-feira, 28 março 2024

Temperamento: a marca daquilo que somos

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O temperamento explica nosso comportamento, mas não deve servir de desculpa para ele. Todo temperamento possui fraquezas e possui virtudes - Foto: Look Studio

Nem bom, nem ruim, o temperamento é uma característica que nos acompanha durante toda a vida. Submetê-lo ao Senhor, colocando-se para ser moldado por Ele, é uma forma de trazer à tona o que temos de bom, sem deixar de lado nosso “eu”, nossa essência humana

Por Syria Luppi

Sabe com quem você vai precisar conviver pelo resto dos seus dias, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, queira ou não? Consigo mesmo. Mas não se assuste: foi-se o tempo que a expressões do tipo “fulano tem um gênio difícil, não vai mudar” ou “esse menino puxou o pai” queriam dizer que a pessoa estaria eternamente acorrentada a determinada característica de personalidade.

Há alguns anos, psicólogos acreditavam que a maioria dos traços típicos era imutável a partir dos 20 anos. No entanto, eles mesmos encontraram evidências de que é totalmente possível ajustá-los. Esse processo não é simples ou rápido, mas é certo que o temperamento não é fixo. Todos nós podemos e devemos fazer mudanças sob pena de desperdiçar nosso próprio potencial.

Estudar temperamentos é algo muito complexo. Os estudiosos do comportamento humano buscam conhecer os mistérios do temperamento no sentido de propagar conhecimento e contribuir para um melhor relacionamento entre as pessoas. De acordo com o pastor e psicólogo Marcelo de Aguiar, da Igreja Batista Mata da Praia, em Vitória, antes de falar de temperamento, é necessário definir alguns termos e conceitos.

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O primeiro deles é o próprio temperamento, entendido como a tendência herdada do indivíduo para reagir ao meio de maneira peculiar. Já o caráter é o conjunto de formas comportamentais, mais elaboradas e determinadas pelas influências do meio, que o indivíduo usa para adaptar-se a esse meio. Personalidade, por sua vez, é a integração dos aspectos físicos, temperamentais e caracteriológicos do indivíduo.

Para Marcelo, nosso temperamento é parte permanente da nossa personalidade e ficará conosco do começo ao fim de nossa vida. Ele poderá modificar-se um pouco à medida que amadurecemos, passando da infância à juventude e daí para a vida adulta. O temperamento é a nossa matéria-prima, enquanto o caráter e a personalidade são aquilo que construímos a partir dele. Isso é o que nos define como pessoas.

Base do comportamento

O temperamento é a base de nosso comportamento. É a partir dele que são construídos o caráter e a personalidade que nos definem como indivíduos. Já na infância, os diferentes temperamentos se manifestam. Por isso, algumas crianças têm mais iniciativa, enquanto outras são recatadas; algumas são calmas e outras, agitadas.

“Temperamento não é defeito. Não é, tampouco, qualidade. É característica. É um ponto de partida para se desenvolver alguma coisa. Temperamentos não são bons nem ruins. O que fazemos com eles é que pode ser ruim ou bom”, disse o pastor e psicólogo Marcelo de Aguiar.

Ao folhearmos as páginas da Bíblia, vemos que Deus usou pessoas com temperamentos distintos para fazer de suas vidas uma bênção. Débora, a intrépida; Jeremias, o tímido; Pedro, o impetuoso; e João, o místico são alguns exemplos. “O Senhor usa pessoas diferentes, de formas diferentes, para realizar obras diferentes. Não é preciso que imitemos ninguém. Podemos ser usados sendo nós mesmos”, lembrou o pastor Marcelo.

O temperamento explica nosso comportamento, mas não deve servir de desculpas para ele. Todo temperamento possui fraquezas e possui virtudes. Sendo parte de nossa natureza humana, ele deve ser controlado por nosso espírito (Gn 4:7; 1 Co 9:25).

Toda característica temperamental traz consigo um potencial e um risco. Quem tem uma natureza extrovertida, por exemplo, pode se tornar um ótimo comunicador – ou um chato. Os tímidos podem ser pessoas sensíveis e generosas – ou, por outro lado, defensivas e solitárias. Precisamos atentar para isso, extraindo do nosso temperamento o que ele tem de melhor, e polindo aquilo que poderia representar um problema.

O temperamento explica nosso comportamento, mas não deve servir de desculpas para ele. Todo temperamento possui fraquezas e possui virtudes. Sendo parte de nossa natureza humana, ele deve ser controlado por nosso espírito (Gn 4:7; 1 Co 9:25).

“Precisamos identificar quais são os aspectos de nosso temperamento que interferem com o nosso desenvolvimento espiritual, e depois iniciar uma renovação do Espírito Santo para superar estas fraquezas. A ideia de reconhecer os pontos positivos e negativos de cada temperamento ajuda-nos a compreender a nós mesmos e aos outros, de forma bem melhor. Quando entendemos que, pelo Espírito Santo, nossas fraquezas podem ser modificadas, passamos a revestir-nos das características do temperamento controlado pelo Espírito Santo”, destacou o psicanalista Izilmar Finco.

“E assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (Co 5:17)

Nessa questão, o pastor Izilmar nos alerta sobre a prática dos Frutos do Espírito (Gálatas 5.22-23). Eles são resultado da presença do Espírito na vida do crente e a prática deles na vida do crente faz toda a diferença na hora de manifestar os temperamentos.

A partir do amor, com os Frutos caminham a alegria, a paz, a longaminidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio. “As questões se completam. Se há em uma pessoa uma dificuldade de controlar um temperamento explosivo, por exemplo, com o entendimento do que são os Frutos do Espírito esse exercício é mais fácil”.

“Temperamentos não são bons nem ruins. O que fazemos com eles é que pode ser ruim ou bom” – Marcelo de Aguiar, pastor e psicólogo

Foi exatamente o que aconteceu com a pedagoga Queite Cristina Fernandes, da Assembleia de Deus Omega, em Jardim São Paulo, Vila Velha. “Controlar meus ímpetos de ‘explosão’ era difícil. Após minha conversão, pude entender a importância da prática dos Frutos do Espírito e tenho uma nova maneira de encarar as diferentes situações da vida”.

Antes considerada de “gênio difícil”, Queite se alegra em vivenciar uma nova fase em sua vida. “Aprendi a avaliar minhas ações, hoje penso muito antes de agir. As melhorias se refletem na minha família, como um todo. Aprendi a dobrar meus joelhos e colocar meu temperamento diante do Senhor”.

A teoria dos quatro temperamentos

No livro “Temperamentos Transformados”, da editora Mundo Cristão, o autor Tim LaHaye sugere a teoria grega dos “Quatro Temperamentos” para que cada indivíduo possa examinar-se a si mesmo, analisando seus pontos fortes e fraquezas, buscando a cura do Espírito Santo para aquelas tendências que o impedem de ser usado por Deus.

O trabalho de Tim LaHaye foi inspirado pela descoberta de uma transformação de temperamento na vida de diversos personagens bíblicos. O apóstolo Pedro é classificado como sanguíneo; Paulo, colérico; Moisés é destacado como melancólico e Abraão, o pai da fé, fleumático.

“Os temperamentos classificados como sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático podem até criar o perfil de algum personagem bíblico, mas vale lembrar que a transformação não depende do conhecimento dos quatro temperamentos, mas da plenitude do Espírito Santo”, disse o pastor e psicanalista Izilmar Finco, da Igreja Batista em Eldorado, na Serra.

“Após minha conversão, pude entender a importância da prática dos Frutos do Espírito e tenho uma nova maneira de encarar as diferentes situações da vida” Queite Cristina Fernandes, pedagoga

Ainda segundo Izilmar, “as personalidades bíblicas que conhecemos foram transformadas antes da formulação da teoria dos temperamentos. A nossa esperança está na promessa de Deus: ‘E assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas’ (Co 5:17)”.

Na opinião de Marcelo de Aguiar, a ideia dos quatro temperamentos não tem fundamento bíblico nem científico. “Não existe um número determinado de temperamentos, assim como não existe uma quantidade limitada de tipos de personalidade. Eles são incontáveis, prova da criatividade infinita de Deus”.

A assistente social Margareth Cipriano Klein Salles, membro da Segunda Igreja Batista em Vila Batista, em Vila Velha, tem aprendido a lidar com o próprio temperamento e se classifica como melancólica colérica. “Às vezes, tenho dificuldade de lidar com meu temperamento, mas já tive muito mais. Hoje procuro estudar mais sobre o tema e consigo me analisar. Não é fácil lidar com nosso temperamento, mas quando a gente começa a entender as diferenças que existem, fica um pouco menos complicado. A maturidade ajuda muito, hoje cometo menos erros do que há dez anos”.

“Em alguma situação, posso magoar alguém sem querer. Por isso, oro pedindo a Deus todos os dias para que Ele me ajude nisso” – Lauderli da Costa Milhioli, funcionário público

Para ela, um dos principais desafios do temperamento é lidar com o do outro. “Seja em casa ou no ambiente de trabalho, temos que buscar compreender as diferenças. É fundamental termos ‘jogo de cintura’ em todos os momentos. O que vale é tomar consciência da necessidade de mudança na forma de encarar um conflito, buscando o bem comum”.

O funcionário público Lauderli da Costa Milhioli, pai de três filhos, membro da Primeira Igreja Batista Praia da Costa, Vila Velha, se considera extrovertido, mas sarcástico e, por isso, acaba confundindo as pessoas. “Sou, muitas vezes, mal interpretado porque as pessoas não sabem se estou falando sério ou brincando. É meu ‘jeitão’. Com o tempo as pessoas acabam percebendo que eu sou ‘gente boa’”.

Lauderli afirma que tem tentado se policiar em relação ao temperamento. “Em alguma situação, posso magoar alguém sem querer. Por isso, oro pedindo a Deus todos os dias para que Ele me ajude nisso”. Para Lauderli, o lado bom do seu temperamento é ser ajudador, prestativo e o que pesa é ser mal interpretado.

Passos para lidar com o temperamento

 Os temperamentos exercem um papel importante em nossos relacionamentos. Eles são capazes de nos dar forças, mas exibem, e muito, nossas fraquezas. Aos olhos dos outros, nosso perfil temperamental desperta atração (“os opostos se atraem”), aversão (“dois bicudos não se beijam”) ou tensão (“os que brigam se amam”).

O pastor e psicólogo Marcelo de Aguiar alerta que precisamos ter força de vontade para não deixar o temperamento atrapalhar os relacionamentos. “Um passo é conhecer melhor você mesmo. Quanto mais tiver consciência de suas características, melhor uso dará a elas. Assim como o salmista, peça a Deus que o sonde. Peça-lhe também que o ajude a lidar com o seu temperamento.”

Outro exercício importante para lidar com temperamentos é reconhecer que os outros não são iguais a você. É importante conhecer e não julgar. “Não espere que eles tenham reações iguais às suas. Não os condene por não agirem da mesma forma que você”, disse Aguiar.

“Quando entendemos que, pelo Espírito Santo, nossas fraquezas podem ser modificadas, passamos a revestir-nos das características do temperamento controlado pelo Espírito Santo” – Izilmar Finco, pastor e psicanalista

Todos nós podemos melhorar nosso temperamento, mas é preciso lutar para isso acontecer. Manter sempre o diálogo é um caminho, além disso, é preciso não ficar colocando a culpa no temperamento. “Você é responsável por suas palavras, atitudes e escolhas. Peça ao Senhor que o ajude a seguir na direção certa”, lembra o psicólogo.

Um passo decisivo é praticar os Frutos do Espírito. Somente colocando-se integralmente para ser moldado por Deus, será possível ter qualidade de vida emocional e espiritual.

Esta matéria foi publicada originalmente na Edição 166 da Revista Comunhão, de Junho de 2011 e atualizada em 3 de Janeiro de 2019. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

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