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quinta-feira, 25 abril 2024

Sociedade Objeto

Um dia destes, estando num ônibus do Sistema Transcol, que faz o transporte de massas na Região Metropolitana da Grande Vitória, observei a dificuldade de uma jovem senhora, com uma criança de colo, no afã de buscar uma melhor situação de conforto no veículo lotado. Para a surpresa de todos, não houve uma pessoa sequer disposta a oferecer o seu lugar para ela. O cobrador então, numa atitude de compaixão, clamou aos que estavam assentados para que cedessem a sua cadeira.

Vivemos exatamente neste tempo em que atitudes de gentileza vão se tornando cada vez mais escassas, de tal modo que expressões como “por favor”, “muito obrigado”, “bom dia” etc, assim como ações de dar prioridade às “damas” no acesso a quaisquer ambientes, prestar atenção nos idosos, ajudar o semelhante a transportar os seus pacotes e auxiliar deficientes na travessia de rua, vão se tornando “peças de museu”. Quem sabe um dia algum ente público acabará por inaugurar algo como o Museu da Gentileza.

Bear Grylls, em seu programa “Running Wild With Bear Grylls”, recebeu Barack Obama, numa aventura no Alaska. Ao final das atividades, antes de pedir para orar pelo líder norte-americano, o apresentador perguntou ao convidado ilustre: como gostaria que as suas filhas, Natasha e Malia Ann, agissem no desenvolvimento pessoal? Obama respondeu que elas deveriam ser prestativas em relação às necessidades de seus semelhantes e gentis. Como é bom ver que essa cultura das boas práticas interpessoais não está, ainda, restrita aos tempos passados. Foi ótimo ter visto isso da parte do presidente dos Estados Unidos da América.

Quando pensei num título sugestivo, refletindo sobre o fato de a sociedade, cada vez mais apegada às novas formas de comunicação, pode estar perdendo a sensibilidade, senti como se estivéssemos dando mais valor aos smartphones do que propriamente aos indivíduos, no aspecto estritamente pessoal, como se todos fôssemos nos tornando objetos, num processo sistemático de objetificação. Em geral, essa palavra, ou esse conceito, expressa mais a questão sob o ponto de vista masculino, ao considerar mulheres como seus objetos sexuais. Mas trago o termo aqui numa compreensão mais ampla, no sentido de “está valendo muito mais a pena uma troca de WhatsApp do que um “face to face” (cara a cara).

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Quando pensava sobre esse tema, lembrei-me do texto de Paulo na carta aos Filipenses – 2:2-5 – em que o apóstolo traz informações importantes para vasta comunhão e cooperação em amor entre os irmãos. Ao ler esse conteúdo nos Escrituras, é possível fazer uma boa reflexão.

Uma sociedade deformada poderia ser levada a agir como se houvesse uma sequência de versículos, em pseudo-heresias 2:2-5, cujo texto seria mais ou menos assim: “Completai a minha tristeza, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo desprezo, a mesma má vontade, sentindo coisas distintas uns dos outros. Tudo façais por contenda ou por vanglória, e por orgulho; cada um considere a si mesmo superior aos outros. Cada um preste atenção apenas para o que é propriamente seu, e nunca para o que diz respeito aos outros. De sorte que nunca haja entre vocês o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”.

Talvez isso já comece a se parecer com o mundo real no qual todos nós habitamos. Eu sei que posso estar exagerando demasiadamente, mas não podemos nos esquecer de que “quando deixamos de olhar com gentileza os nossos semelhantes, estamos deixando de olhar com gentileza ao próprio Senhor” – Mateus 25.42-43.

Nisso pensai!

João Carlos Marins é pastor e especialista no tema responsabilidade social

 

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