O que esperar da aproximação entre Brasil e Israel com o governo Bolsonaro? Vamos a um mapeamento das relações judaico-brasileiras
Desde a eleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil, em outubro último, Israel passou a ser considerado aliado de primeira hora do novo presidente, ao ponto de seu primeiro ministro, Benjamin Netanyahu ter se tornado o primeiro mandatário israelense a comparecer à cerimônia de posse no Brasil. Isso se deu devido aos acenos claros de Bolsonaro e seus filhos em buscarem a aproximação com o Estado judeu, mesmo antes do início da campanha, propondo, inclusive, a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, o que tem por pano de fundo agradar à comunidade evangélica pró-Israel no Brasil.
As relações entre o Brasil e os judeus remontam ao período colonial. Devido às perseguições religiosas promovidas pelos reis católicos da Espanha (1478) e, posteriormente em Portugal (1497), os judeus residentes na península ibérica tinham três opções: morrer nos tribunais da santa inquisição, fugir para países como Inglaterra e Holanda, onde havia certa tolerância religiosa ou que abdicar de sua religião para se manterem vivos. A estes foi dada a denominação de cristãos novos que, para evitar represálias adotaram novos sobrenomes, muitos derivados de plantas, frutas, animais, etc. – Logo, alguém com os sobrenomes Oliveira, Pereira, Coelho, Silva, Silveira tem alguma probabilidade de ter ascendência judia. Muitos judeus fogem da metrópole e se instalam na colônia. É aqui que os caminhos do Brasil e dos judeus se cruzam.
Mesmo antes do início da campanha, Bolsonaro e seus filhos buscam a aproximação com o Estado judeu propondo, inclusive, a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, o que tem por pano de fundo agradar à comunidade evangélica pró-Israel no Brasil.
Durante mais de um século os judeus se integraram ao cotidiano da colônia, até que, a partir da segunda década do século XVII os holandeses invadem o nordeste brasileiro. Como citado anteriormente, a liberdade religiosa na Holanda atraiu muitos judeus para os Países Baixos. Esses, por sua vez, vieram para o Brasil a fim de participarem do lucrativo comércio açucareiro e de escravos. Em 1637 é fundada na cidade do Recife a primeira sinagoga do continente americano. Com a derrota holandesa (1654), os judeus foram obrigados a venderem suas propriedades e voltarem para a Holanda. Um grupo rumou para o norte e, na foz do rio Hudson, fundou
Nova Amsterdã, atualmente Nova York. Os que ficaram no Brasil, mais uma vez foram obrigados a se aculturar ou rumar mais para o interior da colônia, deixando vestígios preservados até hoje.
Com a proclamação da independência (1822) e com a promulgação da primeira constituição (1824) foi assegurada uma relativa liberdade religiosa. Na prática, não havia mais perseguições de cunho religioso e alguns judeus imigraram para o país, atraídos pelo ciclo da borracha no norte do séc. XIX. A partir do séc. XX, com o aumento do antissemitismo, levado ao extremo durante o governo nazista alemão, muitos judeus refugiaram-se no Brasil. Em 1947, sob o secretariado do brasileiro Osvaldo Aranha (1894-1960), as Nações Unidas promulgam uma resolução, que culminaria em 1948 na criação do moderno Estado de Israel.
Nos anos mais recentes, sob os governos petistas, por razões ideológicas houve um distanciamento diplomático entre o Brasil e Israel com o governo brasileiro se alinhando à causa palestina. O que se espera com o governo Bolsonaro é que a antiga aliança entre o Brasil e o povo judeu caminhe para um patamar nunca antes atingido.
Rafael Simões é Coach Integral Sistêmico pela Febracis. Bacharelando em Teologia pela Faculdade Unida de Vitória (ES) e graduado em Comércio Exterior pela Faesa (ES).