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terça-feira, 16 abril 2024

Família: pais guardiões

Foto ilustrativa

O que mais se sobressaem nos últimos tempos são episódios de tragédia, corrupção, violência e perda de virtudes e valores. E a família é a instituição mais afetada por essa desordem

 

Nas manchetes dos jornais, nas chamadas da TV, nos destaques de portais da internet, nas notícias do rádio e em todas e quaisquer outras formas de comunicação.

O bombardeio desses acontecimentos negativos é, na verdade, reflexo de um mundo que está cheio de conflitos e problemas, principalmente por conta da instabilidade social dos dias de hoje. E a família, acredita-se, é a instituição mais afetada por essa desordem. Por isso, e não à toa, as estruturas familiares estão cada vez mais complexas.

E na complexidade do seio familiar, novos hábitos se implantam. Pais não têm mais tempo para os filhos, e filhos não reconhecem a função dos pais. A busca pelo poder tem se tornado o objetivo da humanidade. Não há mais espírito fraterno nem tempo de comunhão. As relações parecem ser cada vez mais superficiais e individualistas. Não há motivação para satisfazer o outro; apenas a intenção de saciar o próprio ego.

Nesse contexto, crianças inocentes se autoflagelam e tiram a própria vida. Jovens desrespeitam a autoridade, infringem normas de convivência e a lei. Difícil reconhecer, mas esse é um costume que começa em casa, por meio de pais ausentes, permissivos e negligentes. São muitas as contradições praticadas pelos pais, afinal também são tempos difíceis para eles aplicarem, na prática, o que as teorias sugerem.

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Em contrapartida, a Palavra de Deus não muda, é eficaz e adverte que ‘os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá’ (Salmos 127:3). O que dizer, então, sobre gerar filhos nesta conjuntura? Como criar este bem valioso no início deste século? Como protegê-los de toda essa circunstância assustadora? De que forma orientá-los com exatidão e respaldo bíblico? Qual a maneira correta de educá-los no caminho da Verdade?

Formando valores

A Bíblia Sagrada previne e aconselha quanto à educação dos filhos em Provérbios 22:6: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles”.

O pastor Dinart Barradas, ministro da Universidade da Família, adianta que não existe um método mágico para educar filhos, nem tampouco um sistema de blindagem contra os já citados perigos do mundo ou para evitar que a ausência dos pais seja minimizada, substituindo-a por qualquer outro artifício elaborado para auxiliá-los na educação dos filhos.

“Creio que o ambiente mais seguro para a criança ou adolescente chama-se casamento sólido e compromisso sério dos pais com a formação moral e espiritual de seus filhos”, resume Dinart. Nesta sociedade de consumo, segundo o pastor, todos estão em busca de concretizar sonhos e aspirações que, muitas vezes, nem são reais, mas ilusórias. Conceitos como autoestima afastam as pessoas da devoção paternal.

Este antagonismo entre o que predomina na sociedade e aquilo que Deus espera de nós gera o conflito de interesses. Cuido dos meus filhos ou persigo minha carreira profissional? Fico muitas horas fora de casa para ganhar mais dinheiro e prover conforto ou dedico mais tempo à minha família com uma vida mais simples? Saio de casa com os filhos dormindo e só os encontro à noite quando estão esgotados e carentes ou participo mais do desenvolvimento emocional, espiritual e intelectual deles?

Para o ministro da Universidade da Família, não dá para minimizar a importância da mãe nos primeiros anos de vida de uma criança. Segundo o pastor Dinart, ela é a responsável pela formação dos valores e princípios que acompanharão a criança pelo resto da vida. Enquanto isso, o pai carrega sobre si o encargo de formatar a visão de mundo, sexualidade e equilíbrio na vida dos filhos.

Sem esses dois agentes – mãe e pai -, a criança recebe apenas parte do que necessita ou recebe influências distintas daquelas que seus pais gostariam de ver incutidas na vida dela. Em detrimento disso, os pais devem definir qual é o seu sistema de valores e crenças. Sem essa definição, ficam todos à deriva, entregues ao relativismo de uma sociedade sem valores cristãos, sem pudores e marcada pela conveniência.

Uma vez definido esse sistema de valores e crenças, o modo de vida da família será a maior influência positiva sobre a vida da criança. A ausência dessa definição também será uma influência que definirá uma vida sem regras, limites e totalmente permeável a qualquer aproximação e assédio.

O filme “Clube do Imperador”, por exemplo, analisado pela ótica da paternidade, mostra determinada cena em que o professor visita o pai de um aluno problemático e fala de sua tentativa de influenciar o rapaz. O pai, senador americano, responde: “O senhor pode ensinar qualquer coisa ao meu filho, mas ele sempre fará aquilo que eu quiser, pois eu sou a maior influência na vida dele”. Ou seja, aí se reforça a importância de ser exemplo e educador.

Autoridade exemplar

O ditado popular “costume de casa vai à praça” é uma verdade encarada diariamente por pais que se esmeram para doutrinar seus filhos corretamente. Ainda mais porque esta geração é bastante esclarecida, com acesso a uma enorme gama de conhecimentos, nas mais diversas áreas da vida. Ao mesmo tempo que esse fator facilita o diálogo e a comunicação aberta para orientação, por outro lado, todo esse conhecimento gera uma precocidade cada vez maior.

Isso leva a maioria dos pais a uma crise, pois não sabem como lidar com esse choque de gerações. Além disso, as crianças e jovens de hoje em dia são cada vez mais desprovidos de compromissos, sejam eles espirituais, sociais ou cívicos. Por essa razão, o pastor da Igreja Batista Renovada de Cachoeiro do Itapemirim, Marcos Mansur, acredita que a maior fonte de proteção e motivação ainda está no exemplo.

Para ele, a criação e uma família equilibrada ainda são os maiores responsáveis pelo sucesso dos filhos, que, por sua vez, são o retrato dos pais. O processo motivacional começa desde muito cedo, através dos bons exemplos e da convivência saudável. “Os pais estão perdidos em frente aos desafios da nova geração. Eles não sabem encontrar o equilíbrio entre o sistema rígido e tradicional, no qual foram criados, e o moderno, com todas as influências da mídia, da tecnologia e da pressão social”, reflete o pastor.

Diante disso, faz-se necessário que os pais reflitam e se posicionem de uma maneira mais presente em relação aos seus filhos. É preciso que compreendam que relacionamento, tempo, cuidado, afeto, carinho e atenção são riquezas muito maiores do que os bens materiais. Os filhos precisam ser ensinados sobre isso e essa função está inteiramente sob a responsabilidade dos seus progenitores.

Sem dúvida alguma, os pais são os principais guardiões e transmissores dos valores e princípios, que devem ser repassados de maneira sistemática aos filhos, pois a sociedade depende radicalmente disso, uma vez valores e princípios funcionam como os muros e os limites de um povo. É por isso que em Deuteronômio 6:6-9, Deus orienta os pais da nação israelita, e também a nós, a ensinar e transmitir a Palavra, os valores e os princípios de manhã, de tarde, à noite, na mesa, andando pelo caminho e escrevendo nos locais estratégicos da casa.

O modelo ideal a ser seguido é aquele em que se reforçam valores como respeito ao próximo e à natureza, importância de verdadeiros relacionamentos, comunhão com Deus e sua Palavra, obediência aos pais, às leis e às autoridades. Também é preciso transmitir valores de trabalho, compromisso e responsabilidades. “Nossos filhos precisam saber que tudo na vida possui um preço”, enfatiza Mansur.

Praticar o que almeja ver sendo reproduzido pelo filho é indispensável e deve ser incrementado com um bom diálogo aberto, relacionamentos sólidos em casa, transparência, ensino de valores éticos e espirituais. Assim, ele saberá quais são seus limites e, consequentemente, entenderá onde estará protegido das adversidades do mundo.

Corrigindo com amor

O pastor Marcos Mansur, que é casado há 26 anos com a pastora Eliude Mansur e é pai de Marcos Júnior (24) e Lays (22), comemora possuir uma família abençoada e ministerial. O casal, além de desenvolver um ministério com forte ênfase em famílias e casais, também soube dar assistência ao próprio lar. O fruto dessa dedicação é ver seus filhos envolvidos com o serviço do Rei e bem empregados no mercado de trabalho.

Uma das regras seguidas pelo casal é de que “os limites são de fundamental importância para o desenvolvimento da musculatura emocional e psicológica dos filhos”. Se eles não aprenderem isso em casa, irão pagar um preço muito alto ao longo de toda a vida. Estarão em sérios riscos e apuros. Por outro lado, estabelecer limites não significa ser ditador nem violento. Isso é inaceitável.

O equilíbrio vem através de uma comunicação franca e aberta, na qual há explicações, argumentações e até negociação, se for o caso. Se os herdeiros se sentirem amados e respeitados, eles entenderão com alegria. O pastor Dinart Barradas explica que a paternidade é como um funil: nos primeiros anos de vida, a criança necessita de regras mais rígidas, limites mais estreitos e da presença da autoridade paterna.

Esses pontos são os substitutos naturais na vida da criança para a sua falta de sabedoria, experiência de vida e habilidades. À medida que a criança cresce e assimila os conceitos e valores de seus pais, já não há a necessidade de uma presença tão forte da autoridade, e migra-se então para o que chamamos de influência relacional, que se concretiza nos anos da adolescência e juventude.

A inversão desse processo é que provoca o autoritarismo, pois se tende a dar demasiada liberdade para crianças e tenta-se controlar os adolescentes, gerando neles uma rejeição pela autoridade paterna, desencadeando todo um processo de desgaste e afastamento, quando o relacionamento deveria caminhar para uma amizade consolidada pelos anos de influência positiva dos pais desde a mais tenra infância.

Tratando-se de correção, a educadora e apresentadora do programa Supernanny, Cris Poli, traz alguns alertas para os pais. Ela explica que, na realidade, os pais têm menos tempo para ficar com os filhos e educá-los e, por isso, estão inseguros com respeito a sua autoridade e têm medo de colocar limites.

Por isso, ela orienta que é preciso colocar as regras de maneira racional, clara e concreta de acordo à idade da criança, fazendo um combinado de obediência e disciplinando à criança o comportamento certo quando ela não obedece. Educar é uma construção diária, que precisa de dois pilares para manter-se em pé: amor e limites.

“É preciso ter consciência de que a responsabilidade da educação dos filhos é dos pais, não deixando a educação deles nas mãos de terceiros (escola, babás, empregadas, igreja ou avós) e investindo no tempo passado com o filho, tempo de qualidade”, exorta Cris Poli.

Amigos fiéis

Uma amizade de confiança transmite segurança. A educadora Cris Poli descreve o perfil ideal para a família contemporânea, ressaltando que os pais devem ser presentes, perseverantes, firmes, amorosos, coerentes, com atitudes de convicção e dispostos a investir na educação dos filhos. De acordo com ela, é fundamental para a formação do caráter do filho, fazer tudo isso sem medo ou insegurança.

Desse modo, a melhor forma de repassar e cultivar os valores e virtudes de um lar aos herdeiros é disponibilizando tempo de qualidade para conversar, brincar, dialogar e conhecer os filhos, no dia a dia, dando o exemplo e sendo modelo desse comportamento que se está querendo ensinar.

Não é necessário, segundo Cris, criar os filhos em uma “redoma de vidros” para minimizar os impactos depreciativos do mundo atual. É preciso criá-los com autenticidade, honestidade, abertos ao diálogo, firmes nas convicções e nos limites, além de respeitosos. Por isso, os progenitores não devem ter medo de dizer “não” para guiar os filhos ao alvo concreto.

A apresentadora do Supernanny também orienta que os pais demonstrem o amor que sentem por seus filhos por meio do toque, do beijo, do abraço, da conversa e do tempo de qualidade que passam com eles. Segundo a educadora, este é um investimento que dará frutos durante toda a vida.

A aproximação com os filhos é um dever tanto do pai quanto da mãe. Homens e mulheres têm papéis diferentes na dinâmica da família, mas ambos devem conversar, brincar, trocar fraldas, fazer mamadeira ou preparar o café da manhã. O importante é que os filhos cresçam sabendo que podem contar com os dois.

Essa proximidade é importante, inclusive, na temível hora das perguntas e comentários inesperados. É sempre preferível que os pequenos saibam sobre esses assuntos com a própria família. Uma excelente forma de demonstrar proximidade é falar com o filho sobre as experiências que já viveu. Isso aproxima pais e filhos, tornado os progenitores os principais conselheiros e pessoas confidentes.

“Contrariando o senso comum, educar tem a ver com doação. Tem a ver com transmitir princípios de vida, formar caráter, dar à criança o que há de melhor dentro de nós. Quando somos pais (e, devo dizer, principalmente quando somos mães) é que podemos experimentar algo minimamente semelhante ao amor de Deus por nós. É um sentimento muito difícil de explicar, mas que reconhecemos na hora em que pegamos nosso filho nos braços pela primeira vez”, reflete Cris Poli.

A MATÉRIA ACIMA É UMA REPUBLICAÇÃO DA REVISTA COMUNHÃO. FATOS, COMENTÁRIOS E OPINIÕES CONTIDOS NO TEXTO SE REFEREM À ÉPOCA EM QUE A MATÉRIA FOI ESCRITA.

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