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quinta-feira, 25 abril 2024

Pai, presença que faz a diferença

Foto: Reprodução

Num mundo que se aprofunda cada vez mais no egocentrismo e no abandono de valores fundamentais, a presença do pai no contexto familiar é cada vez mais questionada.

Se hoje crianças são criadas, e até mesmo geradas, sem a presença paterna, seria mesmo importante ter o pai dentro de casa? O que representa a paternidade e qual o seu propósito ao ser criada por Deus?

Uma pesquisa realizada com ratos no Centro Universitário de Saúde McGill, em Montreal (Canadá), tem dado o que falar. Pesquisadores retiraram, logo após o nascimento, os pais de filhotes de ratos de uma espécie monogâmica, em que o casal cria junto a prole, deixando os filhotes somente com as mães. Eles perceberam, ao final de 30 dias, que as células dos ratinhos privados dos pais enfraqueceram na produção de ocitocina, um hormônio responsável pela calma e pela sociabilidade. Os ratos sem pais também se demonstraram menos interessados no compromisso com outros ratos.

O trabalho foi apresentado no Congresso Mundial de Psiquiatria Biológica, na França, no começo de julho, e apesar de a pesquisa ainda não apresentar dados que possam associar as reações dos roedores às humanas, as experiências cotidianas mostram que há diferenças biológicas, psíquicas, emocionais e espirituais entre a vida de crianças que crescem junto ao pai e aquelas que são privadas desse direito.

No Brasil, uma em cada quatro crianças não tem o nome do pai no registro de nascimento e, de acordo com a socióloga Ana Liése Thurler, a criança que não sabe quem é o pai tende a ser mais fragilizada emocionalmente. Ela é autora da tese de doutorado “Paternidade e Deserção: Crianças sem Reconhecimento, Maternidades Penalizadas pelo Sexismo”, pela Universidade de Brasília (UnB), que analisou dados entre 2000 e 2006. A professora estima que 25% do total de 25,1 milhões de crianças nascidas nesse período não têm documentada a origem paterna.

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Mais do que um sobrenome, a presença do pai expressa proteção, afeto, provisão e, entre tantas outras coisas, uma faceta do caráter de Deus. “O pai não é somente o chefe da família, o que transmite segurança espiritual, financeira e emocional. O pai representa Deus no coração dos filhos. Quando o filho tem um relacionamento sadio, inteiro, com o pai, fica fácil falar de um Deus amoroso, zeloso, protetor, provedor. Mas falar deste Deus para um filho carente de pai torna-se, com certeza, bem mais difícil. O pai representa a identidade de Deus na vida dos filhos”, disse Luzanny Vieira, uma das responsáveis pelo ministério Veredas Antigas, da Universidade da Família, sediada na Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV).

Para ela, nenhuma mãe, por melhor que seja, consegue assumir de fato o papel do pai na família. “Pela misericórdia de Deus, a mãe que cria os filhos sozinha até consegue grandes proezas, mas ela não consegue preencher a lacuna da paternidade, porque Deus definiu com clareza esses papéis. O grande projeto do coração de Deus é a família, e qualquer personagem que falte nesse contexto familiar vai deixar o cenário incompleto”, disse Luzanny.

O coração paterno de Deus

Em toda a Escritura, há revelações sobre a pessoa de Deus. Ele se mostra como o Senhor (Ez 20:19), o amigo (Jo 15:14), o rei (Sl 10:16), o médico (Mt 9:12), entre tantas outras formas. Porém, nenhuma é tão sublime e de tão grande alcance como a sua revelação como pai.

Deus é o pai paciente, que não perde as estribeiras com nenhum dos seus filhos. Deus também é o pai justo, que disciplina quando necessário. E a sua disciplina não está dissociada do seu afeto, já que a Bíblia diz que Deus disciplina os filhos que ama (Hb 12:7-8) e o pai que não disciplina, na verdade, não está dando nenhuma prova de amor ao filho (Pv 13:24).

Deus tem toda autoridade, mas não é um pai autoritário. Ele tem todo poder, mas não usa desse atributo para infringir o direito de escolha dos seus filhos. Deus Pai conhece os corações, mas não usa de sua onisciência para manipular. Ele é um Pai cheio de amor, que ama incondicionalmente, sem pedir ou cobrar nada em troca.

A parábola do filho pródigo exemplifica bem isso (Lc 15:11-32). O filho rebelde pediu sua parte na herança, gastou-a, arrependeu-se e voltou. O versículo 20 diz que o filho ainda estava longe quando o pai o viu e correu ao seu encontro. O filho não foi rejeitado, mas perdoado. Não foi humilhado, mas sim abraçado. Não foi punido, mas recebeu do pai amor, vestes e calçados novos, um anel e uma festa de acolhida.

Deus se revela como pai e espera que os pais dependam dEle para exercer de forma excelente sua paternidade, como fez Manoá, pai de Sansão. Sem saber o que fazer após receber a notícia de que sua mulher estéril ficaria grávida, Manoá orou ao Senhor, pedindo instrução de como cuidaria do filho que iria nascer (Jz 13).

O apóstolo Paulo, em sua carta aos efésios, também dá instruções de como o exemplo de Deus deve ser seguido pelos pais. “Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor” (Ef 6:4).

No entanto, muitas crianças não têm a oportunidade de conhecer a paternidade concebida por Deus, por não terem bons referenciais paternos dentro de casa. “Muitas crianças têm pai, mas pais ausentes, ou que não são bons referenciais. As crianças esperam ver no pai aquela figura que sai para trabalhar e volta com o pão. Só que muitas nem sabem no que o pai trabalha”, disse a assistente social Josemaira Coutinho, que atua num projeto social com 102 crianças, em Flexal 2, Cariacica.

Segundo ela, a falta de bons referenciais dentro de casa pode aumentar, ainda mais, a atração das crianças e adolescentes pela criminalidade. Para evitar que isso ocorra, Josemaira iniciou um projeto para realinhar as famílias com o propósito de Deus. “Trata-se de um grupo de vivência que oferece à família meios de resgatar os laços afetivos e atender às crianças em suas necessidades básicas, proporcionando um desenvolvimento saudável, dentro do contexto familiar, nos aspectos físico, psíquico e social”, disse a assistente.

Tal pai…

A presença da figura paterna pode não só influenciar, como mudar o destino de muitas crianças. Foi o que aconteceu na vida do missionário da Jocum (Jovens Com Uma Missão) Sidney Dias, 32 anos. Órfão aos sete anos, Sidney chegou a passar fome junto com seus irmãos, na periferia da cidade mineira de Coronel Fabriciano.

“Éramos cinco filhos e o sustento da minha casa era dado pela minha mãe. Quando ela morreu, passamos por grande aperto. Cada um tinha um pai diferente, mas nenhum morava com a gente. Eu só vi o meu pai biológico uma única vez, por cinco minutos. Ele me pagou um sorvete e depois sumiu”, disse Sidney.

Preocupado com a situação da família, principalmente dos menores, o irmão mais velho de Sidney, logo após ter se convertido, ficou sabendo de uma Casa Lar para crianças, que funcionava dentro da base da Jocum, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e decidiu deixar Sidney e o outro irmão de nove anos aos cuidados dos missionários.

“Havia um grande risco de a gente não ficar. Ele contou toda a história para os missionários Roland e Isabel, que tomavam conta da casa. Lá, já havia 32 crianças, mas mesmo assim eles nos aceitaram. Fiquei lá dos sete aos 18 anos e toda referência de pai que tenho hoje é do tio Roland, que sempre demonstrou muito afeto, atenção e carinho por mim. Eu me sentia seguro com ele e sempre que tinha que tomar decisões eu perguntava pra mim mesmo como ele agiria se estivesse no meu lugar”, disse o missionário.

Após sair da Casa Lar, Sidney decidiu seguir os mesmos passos do seu ‘pai adotivo’. Ingressou na Jocum, casou-se em 2006 e, nos primeiros anos da sua carreira missionária, também tomou conta de órfãos. Hoje, ele aguarda a chegada do seu primeiro filho.

“Trabalhei num orfanato e fui ‘pai social’ de 11 crianças. A minha história se parecia com as das crianças e eles se identificavam comigo por causa disso. Um deles chegou a me falar que ia terminar de estudar e trabalhar num lar social também. A minha vida seria muito diferente se eu não tivesse tido essa referência de pai que eu tive. Agora, com meu filho, vou ensinar tudo que aprendi. Ele vai ter a oportunidade de escolher, mas eu não vou perder a oportunidade de ensinar”, concluiu Sidney.

No Espírito Santo, um dado chama a atenção. Apesar de, na grande maioria dos casos de divórcio, os filhos ficarem sob a guarda da mãe, em 8% dos casos de divórcio no Estado a guarda dos filhos foi concedida aos homens. É o maior percentual na Região Sudeste, segundo dados do IBGE registrados em 2007.

O comerciante Walbimar José Ribeiro, 51 anos, faz parte dessa estatística. Após dois divórcios, ele assumiu a guarda dos três filhos. Mesmo sem muita experiência e preparo, passando por privações e por maus momentos, ele investiu na educação e criação dos três, zelando para que hoje eles se tornassem homens íntegros e tementes a Deus.

“Eu não queria o divórcio mas, infelizmente, aconteceu. Meus filhos quiseram ficar comigo e hoje dizem que se orgulham de mim, que são homens de verdade por causa dos ensinamentos que dei a eles. Não me arrependo de ter ficado com eles, foi a melhor coisa que eu fiz. Pedi muito a Deus, pois eu não sabia como agir, e Deus me ajudou em tudo”, disse Walbimar, que é membro da Igreja Batista de Goiabeiras.


Dica de leitura

Duas pulgas e nenhum cachorro
Craig Hill
Universidade da Família

A diferença que o pai faz
Josh Mcdowell & Dr. Norm Wakefiel
Candeia

Pai e Filho
Tony Parsons
Sextante


A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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