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sexta-feira, 29 março 2024

Cosme e Damião: os riscos dos alimentos consagrados

A tradicional distribuição de doces para as crianças no Dia de Cosme e Damião é inofensiva?

Por Gustavo Costa

Todos os anos, a história dos irmãos gêmeos Cosme e Damião é lembrada por pessoas de diferentes religiões. Em 26 de setembro, o Dia de Cosme e Damião é celebrado pelo calendário da Igreja Católica; no dia seguinte pelas religiões afro descendentes; e finalmente, no dia 1° de novembro, pela Igreja Ortodoxa.

Conta-se que Cosme e Damião (ou Acta e Passio) eram médicos extremamente caridosos, que cuidavam de enfermos enquanto pregavam a fé cristã. Por não se prostrarem diante de outros deuses, acabaram presos e mortos, tornando-se assim mártires de Jesus Cristo por volta de 303 d. C. Os irmãos foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo papa Félix IV (526-30), na Basílica no Fórum de Roma.

Canonizados, tornaram-se populares entre os devotos do catolicismo. Já no candomblé, os dois são associados aos “ibejis”, gêmeos protetores das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces. Vem daí a tradicional distribuição de balas nessa época. Comidas, portanto, consagradas.

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Mas afinal, o que há de errado em ingerir os doces e guloseimas oferecidos durante o Dia de Cosme e Damião? O pastor batista Heleénder de Oliveira Francisco, responde à luz da Bíblia, em 1 Coríntios 8:4-8. “Portanto, em relação ao alimento sacrificado aos ídolos, sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus. Pois mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra, (como de fato há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’), para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos. Contudo, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, ainda habituados com os ídolos, comem esse alimento como se fosse um sacrifício idólatra; e como a consciência deles é fraca, fica contaminada. A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos”.

“Com base neste texto, entendo que quem come tais doces, sem nenhum conhecimento de sua procedência, não atrai sobre si mal nenhum, pois os ídolos não existem. Como diz o apóstolo Paulo, ‘não seremos piores se não comermos e nem melhores se comermos'”.

Para o pastor, o que Paulo fala é que o problema não está na comida e sim no contexto e na consciência de cada um. “Paulo quer dizer, em síntese, que há um só Deus e um só Senhor e comer comida sacrificada a ídolos não traz nenhuma consequência ‘espiritual’ sobre quem o come. Exceto, quanto aos imaturos na fé, segundo o apóstolo, ‘ainda habituados com os ídolos’, comem esse alimento como se fosse um sacrifício, e como a consciência deles é fraca, esta fica contaminada. Paulo dá ênfase à consciência da pessoa, à sua atitude de comer como se fosse um sacrifício idólatra e não propriamente da comida em si. O pecado está, também, em ser um tropeço para irmãos, ou seja, temos que nos preocupar com o nosso testemunho diante de outros cristãos. Se um irmão me vir comer doces de Cosme e Damião e isso ferir a sua consciência e o levar ao escândalo, então eu pequei. Não pelo alimento, mas pela minha atitude”, explicou.

O pastor Erasmo Maia Vieira, da Igreja Batista de Morada de Camburi, Vitória, também cita o apóstolo Paulo e concorda sobre o fato de que esses alimentos não devem ser comidas por causa do escândalo que isso pode trazer aos que são mais sensíveis e imaturos. “Quando damos muita atenção a isso, estamos valorizando como se aquilo fosse realmente poder do mal. As carnes que deveriam servir para consagração aos ídolos pagãos de que Paulo nos fala não devem ser comidas porque são ‘carnes da idolatria pagã’. Não há nenhum mérito espiritual nelas ou demérito. A questão está nos relacionamentos. Assim, quem come por ignorância não tem conseqüência nenhuma. A questão bíblica está nos relacionamentos que devem ser preservados”, alertou.

Para ele, é com a idolatria que se deve preocupar e não com o alimento. “Se pensarmos nos doces em si, bem preparados, não vejo problemas. Mas quando ligamos qualquer coisa a um determinado padrão de religiosidade, temos de observar os padrões bíblicos. Fisicamente, os doces não fazem nenhum estrago, a não ser que estejam contaminados. Não acho também que esses doces tenham algo de encantamento ou mágica que venha comprometer a quem o comer. Entretanto, nossa distância espiritual de tudo aquilo que é idolatria deve ser ensinado aos filhos e deve ser observado com rigor”, frisou.

Diálogo

De acordo com o pastor Erasmo Vieira, o ensinamento sobre o tema deve ser tocado com os filhos de forma natural, sempre embasado no que diz a Palavra de Deus.

“A Bíblia está repleta de textos que condenam a idolatria e tudo aquilo que está relacionado aos ídolos. E que é nossa missão no mundo primar pela adoração do Deus Eterno, como nos refere os quatro primeiros mandamentos da Lei. Neste caso, até como uma compensação, pois crianças pequenas não alcançam compreensivamente essas coisas, os pais devem providenciar balas e chocolates e dar aos seus filhos. A igreja ensina o viver correto, com firmeza, clareza e determinação, o povo mesmo terá a capacidade opinativa sobre o tema”, enfatizou.

É necessário haver uma conscientização do perigo do sincretismo religioso em torno desses personagens que são apresentados de forma sutil, e que pode comprometer a comunhão com Deus devido a certas essas práticas. É o que Para o pastor Marcos Menegone, presidente da Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil/Madureira-ES (Conemad-ES). “Toda orientação é bem vinda e sabemos que a Palavra de Deus deve ser a nossa única regra de fé e pratica, e aí vai a dica: é bom procurar saber as origens de determinadas praticas. ‘Provérbios 22 – 6. Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele'”, falou.

O pastor cita ainda outras passagens da Bíblia, para reforçar o ensinamento que deve ser passado pelos pais. “É Palavra do Senhor Jesus: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele darás culto’ (Mt 4.10). ‘Não devemos ser levados por filosofias vãs (Cl 2.8), antes, prestar o nosso culto racional a Deus’ (Rm 12.1). ‘Devemos, isso sim, nos desvencilhar dos preceitos de homens (Mc 7.7), para que não ofereçamos a Deus um culto vão’ (1 Co 10.19-20)”, apontou.

Mãe de Ana Clara, de 8 anos, a jornalista evangélica Silvia Magna conta que ensina à filha tanto como se deve caminhar dentro dos dogmas da Igreja quanto o respeito as religiões alheias. “Eu respeito a fé alheia e ensino minha filha a respeitar também. Porém, ela é criada de maneira a adorar apenas o Pai, o Filho e o Espírito Santo e nada além disso. Ana entende que há apenas um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus. Para ela não ficar triste, eu a levo pra passear e tomar sorvete. Mas, ensino à ela a importância de se manter afastada de tudo o que distorce o que aprendemos”, falou ela.

Silvia não acredita que seja falta informação sobre datas como o Dia de Cosme e Damião que dê às pessoas a ideia de que seja um acontecimento mais cultural do que religioso. “Eu acredito que é a inércia de alguns pais e mães contribui pra isso. Hoje, a informação existe em maior quantidade e velocidade. E são muitos os canais pelos quais ela chega até a pessoa. Penso que muitas famílias se acomodam e omitem a informação ao invés de esclarecer”, afirmou.

Data religiosa não é brincadeira

O importante, defende o pastor Heleénder, é que se entenda o que a Palavra diz sobre o assunto, com as igrejas orientando seus membros no sentido de que evitem atitudes que firam a consciência de outros irmãos.

“Ao mesmo tempo, os novos crentes que tiveram experiências em religiões pagãs devem ser discipulados, ensinados na Palavra, de modo a entenderem que, em Cristo, abolimos os rituais malignos, que não têm nenhuma relação com a prática do verdadeiro Cristianismo. Já os pais devem orientar seus filhos sobre a nossa fé, sobre em quem cremos e sobre os valores cristãos. Precisam ensinar aos filhos que estas festas são religiosas. Ou seja, expressam os valores de uma determinada religião, que não tem relação com o que cremos. E justamente porque não se alinha com o que cremos, não devemos participar”, disse. Segundo o pastor, o cidadão comum pode acabar assimilando estas datas como algo cultural, mas o cristão precisa ficar atento ao que contraria suas convicções.

De acordo com pastor Erasmo Vieira, o brasileiro muitas vezes enxerga uma data religiosa como algo do folclore por conta da parte lúdica envolvida. “As pessoas conhecem as origens, mas levam a coisa apenas no sentido do ‘brincar’. Geralmente essas origens não são levadas em conta. Para nós, o importante é usar essas datas, dando um toque de cristianismo evangélico como padrão, organização e alvo de glorificar a Jesus. O melhor substitui o bom. O bom substitui o regular. O regular substitui o sofrível. Esse é o processo que a igreja precisa observar, sem precisar entrar em conflitos de ideias ou apologética”. No final das contas, ele diz, o interessante é buscar entendimento com os outros sem perder o foco no que se acredita. E termina citando a Bíblia “‘No que depender de vocês, façam todo o possível para viver em paz com todas as pessoas’ Rm 12:18”.

Esta matéria é uma republicação exibida na Revista Comunhão – setembro/2013, produzida pelo jornalista Gustavo Costa e atualizada em 2021. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi originalmente escrita.

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