25.5 C
Vitória
sexta-feira, 19 abril 2024

O último romântico

Duvido que exista alguém tão inocente que acredite que estas datas chamadas de especiais (Dias das Mães, Namorados, Pais, Crianças …) sejam uma invenção do comércio para faturar o ano inteiro. Com as propagandas cada vez mais nos convencendo de que temos que comprar algo de que não precisamos e com dinheiro que não temos para impressionar a quem não conhecemos, realmente sobra pouco espaço para enxergar o que essas datas têm de bom para nós.

Por outro lado, sou levado a crer que são datas como essas que ainda nos permitem, nem que seja de leve, sentir emoções que a dureza da vida nos tem roubado. Vivemos para trabalhar, produzir, competir. Não há mais espaço para os pensadores e sonhadores, leitores e cantadores, tanto que cada dia está mais raro existir homens que digam (com sinceridade e sem interesse): eu te amo!

Estou com dificuldades de me convencer que eles existam. E não me venham criticar, pois a cada dia que passa, pressionado e esmagado pelo meio que vivemos, dizer que é romântico é o mesmo que dizer: sou bobo, idiota, sem capacidade de me libertar dessas coisas que atrapalham o trabalho e a competição. Que pena … ser romântico era tão bom!

Percebe-se, mesmo que o objetivo desses “dias especiais” seja puro comércio, que tê-los não é tão ruim assim. Pelo menos uma vez por ano, mesmo que seja de plástico e importada da China, damos flores, ganhamos presentes (nem que seja de R$ 1,99), ouvimos “eu te amo”, chego a arriscar que até sentimos aquele friozinho na espinha, nem que seja por poucos instantes, ansiamos por sentir o toque do outro, desejamos abraçar com mais força, queremos beijar com mais paixão, amar com mais emoção. Que pena … ser romântico era tão bom. Não deveria durar tão pouco!

- Continua após a publicidade -

É óbvio que não estamos fazendo apologia desses dias especiais, mas insisto, tê-los mesmo com todo apelo comercial, é como uma bússola, um anemômetro, uma trombeta a nos chamar a atenção que precisamos mudar nossos valores e princípios, que coisas nunca devem ser mais importantes do que pessoas. É por isso que Jesus ultrapassa a linha racional e diz que deveríamos amar nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem (Mt 5:44), mesmo sabendo que muitas vezes, nossos maiores inimigos são os de nossa própria casa (Mt 10:36). Tristes dias atuais onde expressar amor é sinal de fraqueza, compaixão é sinal de tolice e gratidão de mesmice.

Gostaria sim de fazer apologia (já que não posso sonhar, que é sinal de idiotice) de sermos mais felizes e que nossos valores não sejam medidos pelo que tenho, mas pelo que sou. Que o trabalho e a competição não sejam razão da vida, mas metas que podem ou não ser alcançadas. Razão da vida deve ser o amor, a fidelidade, o compartilhar, o valorizar o outro, nem que seja na solidão de nossos sentimentos de uma única vez por ano.

Mais Artigos

- Publicidade -

Comunhão Digital

Continua após a publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

Entrevistas