Doença grave e muitas vezes de difícil diagnóstico, o transtorno afetivo bipolar é caracterizado por alterações no humor e nos níveis de atividade do paciente. Com episódios alternados de depressão e de mania, o problema traz um enorme impacto à qualidade de vida, além de causar prejuízos no relacionamento com a família.
Não se conhece uma causa exata, mas há ocorrências que precipitam o surgimento do transtorno, entre eles traumas ou acontecimentos fortes, como o fim de um casamento ou a morte de pessoas queridas. Estudos científicos revelam que, entre as possíveis causas da doença, podem estar fatores genéticos e sociais, sexo, etnia, antecedentes pessoais e familiares e histórico médico.
De acordo com a psicóloga do Hospital Metropolitano Joseane Zamprogno de Oliveira, a complexidade e a variedade dos sintomas atrasam e confundem o diagnóstico da doença, resultando no atraso do tratamento específico. “Muitas vezes, pacientes com transtorno bipolar são erroneamente diagnosticados e tratados como esquizofrênicos, devido aos episódios psicóticos. Em outras, quando o paciente passa pela fase depressiva do transtorno, é tratado como deprimido, devido ao não reconhecimento de sintomas como irritabilidade, impulsividade e hiperatividade”, relata a psicóloga.
Outro fator importante, segundo Joseane, é a taxa de mortalidade entre os portadores de transtorno bipolar. “A mortalidade é elevada, e a causa mais freqüente de morte, principalmente entre os jovens, é o suicídio. Estima-se que até 50% dos portadores tentam o suicídio ao menos uma vez em suas vidas e 15% efetivamente o cometem. Por isso a importância de se levar o tratamento com seriedade”, completa.
A doença pode se manifestar em várias fases da vida, mas o transtorno surge, geralmente, no fim da adolescência e no início da idade adulta. A psicóloga ressalta, ainda, que é possível notá-lo devido ao sofrimento que o paciente passa a ter nos momentos de crise, os prejuízos na escola, no trabalho, nas atividades sociais, de lazer e na vida familiar.
Na prática, observa-se que há aqueles que tendem a ter mais crises de um tipo. Existem pessoas com transtornos bipolares que nunca passaram por fases depressivas, e outras que só tiveram uma fase maníaca, enquanto as situações depressivas foram numerosas.
Durante a fase maníaca, o estado de humor do paciente fica elevado, podendo passar de uma alegria contagiante a uma tristeza profunda. Simultaneamente, o bipolar apresenta sintomas como excitação, elevação da auto-estima e sentimentos de grandiosidade.
Já o humor depressivo é praticamente o oposto. O paciente fica com a auto-estima baixa, se sente inferior às outras pessoas e tem a sensação constante de cansaço.
As manifestações depressivas são mais freqüentes que os de mania e mais comuns que os sintomas mistos. O episódio depressivo é também responsável pela maior carga da doença, com alto índice de pacientes exibindo tendência ao suicídio.
O transtorno bipolar está associado a altas taxas de recorrência e recaída. Por isso, de acordo com Joseane, é extremamente importante a adesão ao tratamento sugerido, para que os sintomas sejam eliminados ou, pelo menos, para que não voltem a ocorrer episódios agudos. “O objetivo principal do especialista que trata esses pacientes é tentar reduzir os fatores que desestabilizam o humor do bipolar, embora a doença não tenha cura” completa.
O tratamento não se limita apenas à administração de medicamentos, mas inclui o gerenciamento de uma doença complexa, que abarca fatores biológicos, psicológicos e sociais. Já existem muitas evidências de que a forma mais benéfica de se tratar os quadros psiquiátricos é a associação entre farmacoterapia e tratamento psiquiátrico.