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sexta-feira, 29 março 2024

O soberano “não” de Deus

Deus é muito sábio. O silêncio dele é uma maravilhosa maneira de ver que tipo de crentes somos nós. Se o Senhor explicasse seus “não” a cada um de nós… aí seria fácil

O que devemos fazer quando oramos, oramos e oramos a Deus, mas não recebemos o que pedimos? A sensação que temos, nesses casos, é que o Senhor ou não ouviu a nossa oração ou nos virou as costas. Não é verdade. Há um acontecimento na vida de Paulo que pode nos conduzir a uma reflexão bem interessante sobre orações não atendidas: a passagem do espinho na carne.

“Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos […] foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir. […] E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.2-9).

O que diferencia essa experiência de Paulo da sua? A diferença é que, no caso de Paulo, Deus explicou. Ele se manifestou. Estas palavras de Paulo fazem toda a diferença: “Então, ele me disse…”. Sim, o Senhor deu a Paulo uma explicação audível para o fato de não ter atendido seu clamor. E isso tirou do coração dele toda angústia que sente a pessoa que ora mas não é atendida. Havia uma motivo. Mesmo que seu desejo não tivesse sido satisfeito, Paulo agora sabia a razão. E ele podia seguir em paz.

A grande diferença da experiência de Paulo para a nossa é que ele recebeu uma justificativa. Com você e comigo isso não acontece. E aí os “será” invadem nossa mente e ficamos angustiados, cheios de conjecturas, questionando até a onisciência de Deus: “Será que ele não ouviu minha oração?”.

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Claro que ouviu. Deus ouve todas as orações (Sl 139.4). O que acontece é que ele decide não nos dar o que pedimos. Ouve, pondera e responde com um grande “não” — muitas vezes, na forma de silêncio. Ponto. Não há fé no mundo que altere a vontade soberana do Criador do universo. Paulo não tinha fé? Possivelmente a maior do mundo. Mas Deus quis não atender seu pedido, porque, por saber tudo, entendia que, no grande plano de causas e consequências do universo e da eternidade… não atender Paulo era o melhor.

Não há fé no mundo que altere a vontade soberana do Criador do universo

 

A grande vantagem de Paulo é que o Senhor disse de forma inequívoca que tinha escutado a oração mas não a atenderia. Conosco ele não faz isso. Temos de nos contentar com o silêncio. O que pedimos não acontece. Ficamos impacientes, como se Deus tivesse a obrigação de nos atender.

Deus é muito sábio. O silêncio dele é uma maravilhosa maneira de ver que tipo de crentes somos nós. Se o Senhor explicasse seus “não” a cada um de nós… aí seria fácil. Mas o fato de ele decidir não atender e — também — não responder nossa oração revela o alcance de nossa fé, estimula nossa perseverança e nos testa, para ver até onde estamos dispostos a segui-lo e servi-lo tendo somente a graça divina em nossa vida. A graça dele nos basta.

Deus vai negar muitos dos nossos pedidos. Silenciará diante deles. Diante disso, nosso papel é orar, perseverar e esperar com paciência. E se, depois de tudo isso, não formos atendidos, que tenhamos sempre em nossos lábios as palavras do Mestre: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10).


Maurício Zágari é Teólogo, editor da Editora Mundo Cristão, autor de nove livros publicados e jornalista

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