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quinta-feira, 28 março 2024

Daniel Guimarães, o cozinheiro de Deus

Profissional da área de alimentação, Daniel Guimarães capacita missionários para produzir alimentos em regiões onde as fomes física e espiritual são questões urgentes

Ivy Coutinho

Daniel Guimarães, também conhecido como “O Cozinheiro de Deus”, é um profissional do segmento gastronômico que escolheu usar seu talento para projetos que propagam a Palavra de Deus. Ele capacita pessoas para que montem unidades de fabricação de alimentos em campos missionários. A empreitada nasceu em 2010, quando Daniel e sua família estavam servindo em Cabo Verde.

As dificuldades por realizar a obra naquele país fizeram com que orasse buscando uma resposta. “Em oração, eu pedi ao Senhor que pudesse olhar para mim e contemplar meu coração ardente para fazer algo por missões, mas estava desfalecendo e não encontrava mais forças para continuar”, conta.

Foi por meio de um sonho que o retorno veio. E assim que acordou, começou a escrever seu projeto. “O principal motivo deste trabalho é que eu consiga chegar a campos missionários de extrema necessidade e possa capacitar pessoas por meio da minha profissão”, relata o chef de cozinha.

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De que forma você resolveu utilizar sua profissão de cozinheiro para fazer a obra missionária atuando em projetos sociais no Brasil e na África. Como surgiu o ministério “O Cozinheiro de Deus”?

O ministério nasceu em meu coração em 2010, em campo missionário, na cidade de Praia, em Cabo Verde. Num certo dia, em meio a um momento de grande dificuldade e muitas lutas espirituais, pedi ao Senhor que Ele pudesse me mostrar algo para abençoar tanto o meu ministério como os projetos nos campos missionários. Acabei adormecendo e, quando acordei, o projeto foi derramado em minha mente.

Durante alguns dias o Senhor começou a revelar o Seu propósito sobre minha vida, por meio do ministério “O Cozinheiro de Deus”. Passei alguns dias em meu escritório, onde fui levado pelo Senhor a meditar em textos das Escrituras em que se falava de alimentação. Fiquei impressionado o quanto a Bíblia tem de historias nessa área. Algumas receitas foram montadas em prosa e verso, e logo fui presenteado com alguns personagens para participar do enredo das histórias. Ainda estou trabalhando nesse material, que no tempo certo vamos disponibilizar aos apaixonados pela cozinha. Vejo que realmente, por meio dos dons e talentos dados pelo Senhor, posso fazer sim muita diferença em meio a comunidades carentes, promovendo a capacitação de pessoas que são inseridas no mercado de trabalho ou na montagem de pequenas unidades de transformação de alimentos. Por meio dos cursos, também podemos levar o alimento espiritual, tão necessário para pessoas que estão precisando do amor verdadeiro de Deus.

Como consegue ensinar no meio de tanta pobreza e pouca fé?

Acredito que Deus me habilitou com talentos e me presenteou com seus dons. Isso é que gera em meu coração o poder de estar em qualquer local e não olhar para as circunstâncias. A vida missionária nos ensina que estar no deserto é a oportunidade de beber dos mananciais do Senhor e provar do Seu maná. O amor do Senhor, sem dúvida, tem sido o grande segredo de olhar as terras secas e acreditar que Ele pode transformar em uma terra que emana leite e mel.

O Senhor tem me presenteado em ser um instrumento e canal de bênção para vidas dessas pessoas. Muitas vezes me surpreende o quanto pessoas que vivem em locais tão vulneráveis têm uma capacidade impressionante de ser tão determinadas e perseverantes em suas caminhadas. Vejo muita pobreza sim, mas a fé tem sido o ingrediente necessário no cotidiano desse povo. Tenho aprendido bastante com pessoas que aparentemente podem estar em um gráfico de extrema pobreza e necessidade, mas por dentro são vencedoras, encontram força e coragem para superar tantos problemas e ultrapassar tantas barreiras e adversidades. A fé desse povo me faz perceber um alicerce forte, que apesar de muitas lutas, as pessoas ainda estão de pé. Isso me faz refletir quantas pessoas possuem tudo, mas ainda são tão inseguras e inconstantes na vida.

No projeto, você capacita pessoas para que elas montem unidades de fabricação de alimentos em campos missionários. Por quantos e quais lugares já passou com seu trabalho? Por que os escolheu para desenvolvê-lo?

Cabo Verde e algumas cidades no Nordeste do Brasil são os locais aonde o projeto já chegou. Acho que não foi uma escolha minha, mas direcionamento de Deus sobre a minha vida. Este trabalho é um desafio que procuro desenvolvê-lo ainda com mais intensidade.

O nosso propósito é continuar a dar apoio aos missionários em campo na construção de projetos que possam fazer a diferença na comunidade onde trabalham, realizando ações estratégicas para levar a Palavra de Deus aos perdidos e trazendo um apoio para a economia local. As dificuldades para realizar a obra fizeram com que orasse buscando uma resposta de Deus.

Conte sobre esse momento especial que teve com o Pai?

Foi um momento bem particular, em que somente na escola de Deus podemos experimentar a boa, perfeita e agradável vontade dEle sobre nossas vidas. Costumo falar que esta escola está direcionada para qualquer pessoa que realmente esteja disposta a viver aquilo que o Senhor já sonhou para um de nós, e que sempre precisamos lhe fazer uma pergunta: “Senhor, estes são os meus sonhos e propósitos, mas o que Tu preparaste para mim? Que sonhos e caminhos traçaste para a minha vida?”.

Sempre somos levados a buscar desde cedo o nosso direcionamento e posicionamento em meio à comunidade em que vivemos, sonhamos e construímos os nossos alicerces. As nossas colunas são levantadas principalmente com ajuda de nossos familiares ou amigos. Parece que a todo momento temos modelos a serem seguidos, padrões determinados pela nossa sociedade, que trarão em um futuro próximo o nosso sucesso decorrente de nossos esforços e determinação pessoal. Mas existe um pequeno detalhe neste processo se fomos ou não acompanhados pelo Senhor em nossas escolhas e sonhos.

Mesmo que ainda acreditemos que nossas escolhas foram todas certas e acompanhadas de perto pelo Pai, existe algo espiritual que vai além do que pedimos ou sonhamos e que Ele já preparou para cada um de nós. Isso se chama “vontade dEle”. Nessa hora, tudo o que tínhamos formado como alicerce perfeito e dentro dos padrões humanos e na melhor escola fica vulnerável na presença do nosso Deus. Então, quando menos esperamos, observamos tudo aquilo que construímos em nossa força e sabedoria em certos momentos de nossa vida e maturidade cristã, reconhecemos que não somos nada e que precisamos colocar tudo isso firmado na rocha inabalável que se chama Jesus. Quando temos o privilégio de sermos chamados pelo Senhor para uma missão, logo percebemos que nosso armamento é ultrapassado e que com nossas estratégias não chegaremos a lugar algum. Então, entramos em desespero e notamos que somos como uma criança em suas mãos e que somente Ele nos levará ao caminho seguro. Foi assim que me senti diante de Seu chamado. O que trazia como alicerce desmoronou em questão de dias, virei pó e, em seguida, barro, para ser moldado e preparado pelas mãos do Oleiro.

Daniel Guimarães, o cozinheiro de DeusO que o motivou a escrever “As Saladas de Daniel”? Sobre o que o livro trata?

“As Saladas de Daniel” é o primeiro de uma série de 12 livros que pretendo escrever. A maior motivação da obra é que por meio de suas vendas, posso me manter nos campos missionários.  Com esses recursos, vamos conseguir gerar projetos autossustentáveis e a manutenção dos missionários em campo. O livro trata de receitas baseadas em uma alimentação mais saudável contextualizando a história vivida pelo profeta Daniel.

A obra também é evangelística, pois desperta a curiosidade daqueles que não conhecem a Palavra de Deus. A história de Daniel na Babilônia nos faz parar e refletir na Palavra, sobre se realmente estamos nos alimentando espiritualmente e se o alimento que estamos ingerindo tem sido rico em nutrientes, vitaminas e minerais que trazem uma real nutrição espiritual em nossas vidas. O livro contém versículos e comentários bíblicos, por meio de um texto leve e receitas deliciosas que trazem um alimento para alma, corpo e espírito.

Você desenvolve também o projeto Hebrom, em que capacita e oferece consultoria de apoio a igrejas, ONGs e trabalhos missionários no Brasil e na África.  Como é esse projeto?

O Hebrom nasceu nos corações de homens e mulheres de Deus, em meio às grandes dificuldades vividas em campos missionários, onde nos deparamos com várias situações de pessoas que sobrevivem de forma desumana. O principal objetivo do projeto é o resgate espiritual e social, são a Palavra e o pão nosso de cada dia. Trabalhamos com três vertentes: na capacitação de pessoas para serem multiplicadores do projeto; com pessoas que são assistidas pelo projeto; e na montagem de pequenos trabalhos de empreendedorismo na geração de emprego e renda. Estamos dando os primeiros passos nestas ações e construindo duas cozinhas pedagógicas, sendo uma em Fortaleza (Ceará) e outra em Maracanaú, cidade vizinha com apoio de uma ONG chamada Bom Samaritano. A intenção é começarmos os cursos ainda na segunda quinzena de março.

Em fevereiro, tivemos uma reunião com a cooperativa de recicladores na cidade de São Gonçalo do Amarante, a 50 km de Fortaleza. Pretendemos fechar parceria com a cooperativa responsável pelo material reciclável do aterro sanitário daquela região. Iniciaremos um curso de panificação para um abrigo de moradores de rua na cidade de Eusébio, que fica a 35 km de Fortaleza, com uma pequena construção de unidade de processamento de produção de pão. Estamos orando para que pessoas possam nos ajudar na compra dos insumos e equipamentos necessários para iniciarmos logo com as ações.

Conte-nos sobre seu outro trabalho, o Escola de Vida?

O projeto Escola de Vida é uma associação de uma igreja cristã em Cabo Verde, onde durante três anos estivemos à frente do núcleo de gastronomia, capacitando pessoas para serem inseridas no mercado de trabalho. Tínhamos uma unidade de processamento de alimentos na segunda maior faculdade do país, que proporcionava o sustento de algumas famílias por meio da geração de emprego. A partir dessa experiência, Deus confirmou em nossos corações que poderíamos multiplicar esse modelo. Esse projeto tem outros núcleos, como os de música, artesanato e educação infantil, com apoio de vários missionários. Escola de Vida foi um presente do Senhor não apenas para minha pessoa, mas também para toda a minha família. Foi a pedra fundamental de nosso ministério em trabalhos sociais, e não tem como esquecermos momentos tão gratificantes e abençoados de Deus sobre nós.

Você criou uma linha de produtos com seu nome para manter os projetos e seus colaboradores. A iniciativa está dando certo? Como?

A ideia de criar a linha de produtos é bem particular, pois me sinto constrangido em pedir apoio financeiro, principalmente para projetos que administro. Tenho utilizado a oração como um meio de chegar ao coração de Deus, pedindo que Ele mesmo possa mover corações que entendam o quanto podem ajudar nesse projeto, tanto doando ou servindo. Boa parte daquilo que temos realizado tem sido de recursos próprios por meio de consultorias particulares na área de alimentação que promovo juntamente com minha esposa.

Os livros têm sido nossa grande expectativa. Tenho orado ao Senhor que possa levantar pessoas nos quatro cantos do Brasil para nos ajudar a divulgar esse trabalho para caminharmos em um só propósito e fazermos a diferença como Igreja que somos e instrumentos prontos para sermos usados.

O que o motiva atualmente em seu trabalho? As conquistas ou os novos desafios?Daniel Guimarães, o cozinheiro de Deus

As conquistas, sem dúvida, nos trazem alegria ao coração.  Mas Deus tem nos chamado para construir alicerces, e os novos desafios são o que fazem a chama arder em meu coração.

Uns plantam, outros regam, e outros colhem. Meu trabalho tem sido de semear e orar para que Deus mande a chuva na hora e na medida certa. A motivação é muito importante para quem se propõe a realizar algo, mas temos que colocar sempre o direcionamento do Senhor em tudo que vamos fazer para não sermos movidos por emoções passageiras. Todos queremos ver tudo sair logo do papel, mas isto foi algo que aprendi com o Senhor: o nosso tempo, muitas vezes, não é o dEle. Precisamos apreender a ter paciência e perseverança em nosso cotidiano, em nossa casa, trabalho, igreja e principalmente quando se trata em resgate de vidas. A oração nunca é demais, precisamos estar em comunhão sempre e atentos à voz do Espírito Santo na orientação de cada etapa do projeto.

As conquistas são resultados de uma longa jornada de trabalho em equipe, tudo isso alinhado diretamente ao Senhor. Sempre alerta e atento para o que Ele deseja fazer em nós e por meio de nós.

Há projetos em mente? Pode nos contar?

Atualmente, estou concentrado no desenvolvimento do Hebrom. Estamos apoiando algumas igrejas e ONGs na cidade de Fortaleza e algumas cidades vizinhas. Pretendo, ainda no primeiro semestre deste ano, fazer uma viagem ao continente africano para visitar alguns projetos e estabelecer parcerias com apoio do Hebrom.

Há bastante missionários na África que oram por esse projeto e nos veem como uma ponte aqui no Brasil para ajudá-los a realizar alguns sonhos que estão parados por falta de recursos ou voluntários.  Sinto-me com o coração bastante apertado e muitas vezes chorando por dentro, por estar nesta posição, de ser uma pequena esperança de voz para ajudar homens e mulheres que doaram completamente suas vidas para servir a outros. Diversas vezes tenho conversado com o Senhor para abençoar o Hebrom financeiramente, assim como o Cozinheiro de Deus, pois daremos respostas mais rápidas e precisas aos projetos da África e do Nordeste do Brasil.

O versículo de 1 Samuel 2:8 tem sido o hino de nossa caminhada; ele diz: “Que ergue do pó o necessitado e do monte de cinzas faz ressurgir o abatido; Ele os faz assentar-se com príncipes e lhes concede um lugar de honra, porque ao Senhor pertencem os fundamentos da terra, e sobre eles estabeleceu o mundo”.

Esta matéria é uma republicação exibida na Revista Comunhão – Fevereiro/2016, produzida pela jornalista Ivy Coutinho e atualizada em 2021 (Priscilla Cerqueira). Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi originalmente escrita.

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