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quinta-feira, 28 março 2024

Música e cultura

Se existisse um panteão para as palavras de significado mais amplo, por certo, “música” e “cultura” estariam entre os destaques. Cultura é tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que lhe confere uma identidade. Não existe cultura superior ou inferior. Existe cultura que se deve respeitar. E a música é parte da cultura de cada povo. Ela é o cartão postal de qualquer cultura. Quer conhecer um povo? Conheça a sua música. Os outros elementos dessa cultura – comida, roupas, ideias – virão no pacote.

Muitas pessoas, inclusive, aprendem outra língua apenas escutando e cantando músicas da cultura que fala essa língua. Por três anos, ensinei violão para um norte-americano apaixonado pela música brasileira. Ao explicar-lhe o significado de diversas letras de músicas acabei por contar a história do Brasil e seus aspectos culturais. “Feijoada completa” (Chico Buarque), “Asa branca” (Luiz Gonzaga), são só alguns exemplos. O Brasil desenvolveu uma diversificada cultura que impressiona até os próprios brasileiros. Faça uma viagem no repertório dos compositores brasileiros e concluirá isso.
A música tem a tarefa de ser a porta-voz das melhores e piores ideias de qualquer cultura. A cultura liberal norte-americana, por exemplo, expandiu-se não apenas através do cinema. Isoladamente, a música angariou seus troféus. Explorada à exaustão, a cultura “sexo-drogas-rock-and-roll” ganhou o mundo através da música.

Em contrapartida, a cultura musical evangélica norte-americana também ganhou o seu espaço, afinal, os Estados Unidos era um país quase que totalmente cristão, que exportava música para o mundo todo, inclusive, o Brasil, via missionários. Pode-se dizer tranquilamente que a cultura musical evangélica brasileira nunca foi legitimamente brasileira, mesmo sendo cantada em língua portuguesa. Com o tempo, o estilo norte-americano mudou – do órgão e corais passou-se às guitarras e baterias – e os músicos brasileiros acompanharam. Musicalmente, os brasileiros são norte-americanos cantando em português. Nascemos sem identidade; e continuamos.

A verdadeira cultura musical brasileira passa pelos seus típicos instrumentos – tamborim, pandeiro, sanfona, cavaquinho, violão de cordas nylon – e não na guitarra elétrica, no violão de cordas aço ou nos sintetizadores. Por isso, cada vez mais, os músicos evangélicos se distanciam dos incrédulos. A nossa melhor arma, a música, está distante da realidade cultural do brasileiro.

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Infelizmente, o cristão brasileiro foge do samba, do baião, da timbalada, da catira, como o Diabo foge da cruz.
As igrejas evangélicas que desejarem entrar na guerra contra os cânceres que estão destruindo o Brasil – a corrupção, as drogas, o crime – obrigatoriamente, terão que mudar a mentalidade musical. Contra a cultura “sexo-drogas-samba/pagode/sertanejo/timbalada/carnaval” não adianta música norte-americana. As vidas que precisam ser alcançadas são legítimos brasileiros que amam a rica cultura brasileira. Parem de tentar enganá-los com música americana. Eles escutam, respeitosamente, mas dificilmente a mensagem desce ao coração como desceria através dos estilos legitimamente brasileiros que eles nasceram e cresceram ouvindo. Pela pregação, talvez.

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