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sexta-feira, 19 abril 2024

A emocionante história da cantora Flordelis

Uma jovem carioca que, com poucos recursos, se dedicou a cuidar de crianças e adolescentes em situação de risco social. Essa é a história da professora Flordelis, mãe de 50 filhos, quatro biológicos e 46 adotivos, que chamou a atenção do Brasil.

A missionária Flordelis enfrentou muitas privações e obstáculos, teve contato com chefes do tráfico de drogas e foi perseguida pela polícia ao defender os filhos. Em 2009, sua história se tornou filme.

O documentário “Flordelis – Basta Uma Palavra Para Mudar” é uma coletânea de depoimentos emocionantes dessa trajetória de amor e fé. No elenco, a missionária encena o seu próprio papel e mais de 20 atores renomados da dramaturgia brasileira dão vida aos demais personagens. Em entrevista exclusiva para Comunhão, Flordelis conta como teve forças para seguir em frente nos momentos mais difíceis de sua missão e como é, atualmente, a sua vida em família.

Como foi a sua infância?

Nasci e me criei em uma favela chamada Jacarezinho, no subúrbio do Rio de Janeiro. Desde pequena, tive contato com a triste realidade das crianças que são criadas pela vida, filhas de pais que precisavam trabalhar fora e não tinham tempo de dar os devidos cuidados à família. Essas crianças ficavam largadas pelos becos onde moravam e tinham contato com todos os tipos de violência.

O que te despertou a realizar um trabalho com crianças dependentes de drogas e vítimas da violência urbana?

Percebi que poderia agregar mais ao evangelismo, ampliando a minha missão para alcançar muitas pessoas que precisavam de amparo e cuidados especiais. Por causa disso criei o “Evangelismo da Madrugada”, que faço todas as sextas-feiras. Saio de casa à meia-noite e me dirijo aos bailes funks e a outros locais da cidade para falar de Jesus.

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Como você iniciou a missão?

Depois do Carnaval do ano de 1994, aconteceu uma chacina na Central do Brasil provocada por um grupo de extermínio. Muitas crianças morreram e 37 escaparam e me pediram ajuda. Na época, era professora e já tinha acolhido cinco adolescentes que tinham saído do mundo do tráfico. Mesmo assim, não pensei duas vezes, recebi todos eles em minha humilde casa. Mas não foi fácil. Cheguei a ter que conversar com chefes do tráfico de drogas e fui perseguida pela polícia.

A Bíblia diz: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” (Pv. 22:6). Como é ter a responsabilidade de cuidar de tantos filhos em um mundo tão corrompido como o dos dias atuais?

Apesar da triste história de vida dos meus filhos, atualmente é bem mais fácil lidar com eles. Passamos muitos momentos difíceis juntos e isso fortaleceu a nossa família. Eles não são perfeitos, mas cumprem o mandamento do Senhor, me honram e obedecem em tudo, evitando qualquer tipo de falha para não me magoar e também para não desagradar a Deus.

O que te levou acreditar que daria conta de cuidar de todos os seus filhos, adotivos e biológicos?

Não escolhi ser mãe de tantos filhos, simplesmente aconteceu! Quando percebi estavam todos eles na minha frente, dependentes de mim. Não foi planejado. Certa vez, a psicóloga do juizado de menores me disse: “Flor, não foi você que os adotou, eles que te adotaram”. Concordo com ela.

Há amor para todos eles em seu coração?

Com certeza! Eles são a razão da minha vida e não consigo me imaginar sem a companhia de cada um deles. Porém, não deixo de corrigi-los quando é necessário. Conheço a manha de cada um, do mais novo ao mais velho.

Você acredita que o que aconteceu na sua vida foi um propósito de Deus para superar os traumas do passado?

Sim. Só posso entender o que aconteceu em minha vida como um propósito de Deus. Foi tudo muito rápido. Vieram 14 bebês de uma vez e outras crianças ainda muito pequenas e os demais já eram jovens e adolescentes. O passado já superado vem na lembrança quando sento com os meus filhos e conto as suas histórias de vida. Todos eles têm consciência de suas origens e, nos dias de hoje, servem de exemplo de superação para os amigos.

Alguma vez você chegou a pensar que fosse ser derrotada nessa missão?

Dizer que nunca me senti fraca seria uma mentira, mas derrotada jamais! Sempre achei que tudo ia dar certo, porque Deus estava no comando. Sabia que não iria perder os meus filhos.

Para você, o que é ser mãe? Qual o sentido do amor verdadeiro?

Existem dois tipos de mãe: a biológica e a do coração. Mas para mim, mãe é aquela que se doa. Esse é o sentido do amor verdadeiro.

Deus, por meio de sua Palavra, nos deixou um conselho: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt. 22:39). Como é possível se doar a alguém sem sequer conhecê-lo e ter garantias de receber algo em troca?

Esse foi o grande problema que enfrentei com a minha família, pois meus parentes não entendiam o amor incondicional que me levava a cuidar das crianças. Eles achavam que eu estava jogando fora a minha juventude e que todo o meu esforço não daria em nada. Porém, não esmoreci. Cada um dos meus filhos precisava apenas de uma palavra de amor. Dei essa oportunidade a eles.

Segundo a Palavra, “a mulher sábia edifica o seu lar, mas a insensata o derruba com as próprias mãos” (Pv. 14:1). Como é o seu relacionamento com os seus filhos e esposo?

Encontro em Deus sabedoria para conduzir o meu lar da melhor forma possível e, em casa, todos colaboram cumprindo suas tarefas para que tudo fique em harmonia, como deve ser um lar firmado no Senhor.

Você enfrentou muitas dificuldades para continuar no propósito de cuidar dos seus filhos. De onde você tirou forças e determinação para vencer tantos empecilhos?

Na fé em Deus e no relacionamento com o meu esposo, o pastor Anderson do Carmo, que sempre me apoiou.

De início, você não tinha recursos financeiros para cuidar dos seus filhos. Vocês chegaram a passar privações?

Sim, passamos por muitas privações. Algumas vezes não sabíamos nem o que teríamos para comer no dia seguinte, mas Deus sempre providenciava algo. Também encontrei pessoas como Herbert de Souza, o Betinho, que me apoiaram e ajudaram.

Você ainda acolhe crianças em situação de risco em sua casa?

A minha casa não comporta, mas continuo indo às favelas para atender jovens, adolescentes e crianças e, também, sou muito procurada por eles. Atualmente, tenho o Instituto Flordelis de Apoio ao Menor, onde essas crianças são ocupadas durante o dia com aulas de música, artesanato, entre outras atividades.

Qual recompensa você espera ter por esse trabalho?

Espero ver os meus filhos continuando a minha história e incentivar outras pessoas a se levantem para fazer algo a mais. Para ajudarmos ao próximo não precisamos ser ricos de bens materiais. O que temos a fazer é parar de criticar e reclamar do mundo, e agir. Precisamos fazer a nossa parte.

Em um país de tantos exemplos negativos, corrupção e violência, você espera ser um exemplo de paz e amor para aos brasileiros?

Espero somente fazer a minha parte e procurar ajudar a quem não teve uma oportunidade na vida e acaba sendo vitima da violência que nos rodeia.

Com o seu exemplo, você espera incentivar outras pessoas a serem solidárias?

Sim, com certeza, pois ser mãe é a melhor coisa do mundo!

Você acredita que atitudes como a sua podem ajudar a minimizar a desigualdade social no País?

Acredito que somente com um conjunto de ações vindas dos governantes e, também, dos cidadãos brasileiros a desigualdade social no País poderá ser reduzida.

De onde surgiu a ideia do filme “Flordelis – Basta Uma Palavra Para Mudar”?

O produtor, até então editor de moda, Marco Antônio Ferraz assistiu a uma entrevista minha em um programa de TV e teve a ideia de registrar minha história em filme. Achei interessante e aceitei o desfio. O documentário, produzido em preto e branco, traz passagens marcantes da minha vida com meus filhos, partes da difícil luta que enfrentei para chegar até aqui.

Qual mensagem você espera transmitir com o filme?

O filme “Flordelis” também será exibido fora do País. Com isso, espero plantar a semente do otimismo em muitos corações. Se as pessoas acreditaram, até o fim, no que fazem com certeza dará certo. Sou um exemplo disso, jamais desisti e passaria por tudo novamente. O documentário não é uma vitória só minha, mas de todo o povo de Deus. Sou a primeira evangélica com uma história no cinema mundial. Essa produção é uma fonte de evangelismo e toda a sua trilha sonora é gospel.

Creia e se apegue em Jesus, pois Ele é a saída para todos os problemas. Mas faça a sua parte também, colabore para a vitória.

A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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