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sexta-feira, 29 março 2024

Entrevista: Pastora Sandra Andrade

Quando recebeu a notícia de que estava com carcinoma lobular infiltrante, um tumor de cinco centímetros localizado na mama direita, Sandra Andrade tinha apenas 37 anos. Já era casada, com duas filhas pequenas. O impacto foi amenizado porque seu corpo já era templo do Espírito Santo e Sandra sabia que para algum propósito aquele mal lhe serviria. Deus permitiu que Sandra perdesse um dos seios. Mais que toda dor que isso lhe pudesse causar, Sandra recebeu forças para reerguer a sua vida e amor para ajudar outras pessoas que sofrem com a doença.

Hoje, pastora da Igreja Nova Vida e líder do ministério Revifé, ela afirma, na entrevista concedida a Comunhão, que o câncer foi, de alguma forma, bom para a sua vida, e que é necessário que os cristãos se juntem à sua luta.

A sua luta pela conscientização e recuperação de mulheres com câncer de mama nasceu do seu próprio sofrimento com a doença. Como foi esse período da sua vida?

Quando ouvi que estava com câncer, estava terminando a minha pós-graduação em Desempenho Escolar. Conhecia o câncer na família – duas tias maternas haviam tido o mesmo tipo de câncer. Tinha noção do que estava ocorrendo, e louvo ao Senhor por nunca ter questionado Sua soberania, mas não critico quem questiona. Eu já conhecia este Deus maravilhoso, já conhecia a graça do Senhor Jesus, já conhecia a presença constante do Espírito Santo na minha vida. Antes do câncer, já havia passado por momentos também muito difíceis, e creio que o Senhor estava me preparando em meio à dor. Como eu poderia questionar o meu Senhor? Eu não aceitei a enfermidade: eu entendi que Deus não iria me falar por que, mas sim, o para que… como me falou.

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A mastectomia mudou em quê a sua vida?

Como mulher, não mudou nada. Continuo casada, e nunca passei por rejeição. Acredito que por eu mesma ter enfrentado a cicatriz logo no primeiro curativo, esta minha atitude se refletiu positivamente em todas as áreas da minha vida. O que mudou foi a questão da mobilidade e força no lado operado, já que passei por uma mastectomia radical da mama direita, com retirada dos pequenos e grandes músculos, e também esvaziamento axilar que resulta em falta de defesa do braço direito. Como eu, todas as mulheres e homens que passaram pela mesma cirurgia precisam ter cuidados com o braço. Evito ao máximo o calor excessivo de fogão, passar roupa e trabalhos pesados. Mas reconheço que muitas vezes até esqueço que não tenho a mesma mobilidade de antes.
Mexeu com o meu braço, com a minha coluna, mas, graças a Deus, nunca mexeu com a minha alma e, principalmente, com o meu espírito, que é o Espírito de Deus.

Como foi o impacto na sua família?

Foi muito forte, até porque minha mãe havia tido duas irmãs com câncer, e uma delas havia falecido da doença e deixado um filho de dois anos. Sem contar as minhas filhas e meu esposo, que não conseguiam reagir pelo impacto, e meus pais, com meu irmão acidentado e entrando na sétima cirurgia de fêmur.

A senhora lançou recentemente o livro “O câncer não é uma sentença, é apenas uma palavra”, pela MK Editora. Como foi chegar a essa conclusão?

Na verdade, este livro foi lançado de forma independente em 1999, com o estímulo da minha diretora do curso de pós-graduação (sou analista em Desempenho Escolar), doutora Fernanda Barcellos. E aconteceu quatro anos depois, quando consegui editar 4 mil exemplares e, depois de algum tempo, não tendo mais condições financeiras de editar, Deus me concedeu a graça de ter o material avaliado e aceito pela então recém-criada MK Editora, em abril de 2004.

A “Pedalada Contra o Câncer” já se tornou um evento tradicional no Rio de Janeiro. A última foi realizada em agosto deste ano. Como é o envolvimento das pessoas e que repercussão tem um evento como esse?

Imensa. A do dia 19 de agosto foi a sétima, e nosso desejo é que o evento venha a ser incluído no calendário oficial do Estado do Rio de Janeiro. Também estamos abertos a realizá-lo em todo o Brasil. Temos como madrinhas da Pedalada as atrizes Paula Manga, Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães. A Associação Evangélica Revifé, que foi fundada por mim, quando ainda estava careca e fazendo quimioterapia, desenvolve uma campanha brasileiríssima: Câncer de Mama… Prevenir é o alvo! Criada por uma brasileira mastectomizada (que sou eu) e assinada por uma estilista brasileira, que é a Cláudia Simões.

Que frutos você já colheu desse trabalho?

Os principais frutos talvez eu não tenha como relatar, pois desde o dia em que ouvi o chamado do meu Pai para ser primeiramente tratada por Ele e depois usada para ajudar a outros, tenho trabalhado para o Reino de Deus e em nome do Rei Jesus. Sou uma pessoa que crê no sobrenatural de Deus, e tenho sido testemunha disto.
Deus me concede inúmeros momentos para o Seu agir através de minha vida.
Por intermédio do Revifé, realizamos atendimentos em nosso escritório, no Centro do Rio de Janeiro, e na medida do possível doamos roupas, alimentos, remédios, perucas, próteses, sutiãs especiais. Atendemos a todos os que nos procuram, sem distinção de sexo, cor ou religião.
Como serva de Deus, pastora e psicoterapeuta, também atendemos pessoas de todas as pessoas , que em muitos casos só se diferenciam nas condições financeiras ou sociais, mas se igualam na dor, no sofrimento, na solidão e, infelizmente, no descaso da sociedade, governo e família. Em cadastro, sem contar atendimentos por telefone, temos mais de 1.200 pessoas atendidas. Realizamos palestras de prevenção ao câncer de mama, próstata, útero e ovário e doenças sexualmente transmissíveis, em igrejas, escolas, empresas, universidades e comunidades carentes. Também recebo convites para testemunhar e pregar em igrejas de todas as denominações.

Que recomendações principais você dá às mulheres para a prevenção do câncer?

Que façam o auto-exame regularmente, independentemente da idade. Se menstrua, realize-o no décimo dia após o início da menstruação. Se não mestrua, ou se for homem, escolha uma data marcante, como, por exemplo, a data do seu nascimento. Naquele dia de cada mês realize o auto-exame. Não o faça para encontrar alterações, mas que principalmente seja para o conhecimento de seu corpo, pois só podemos perceber alterações, e desde quando surgiram, quando nos tocamos, quando nos olhamos. Se surgir algo diferente do normal, procure um especialista em mamas (um mastologista) e não se apavore. O medo é um aliado para a baixa imunidade, que propicia o surgimento de inúmeras doenças. E caso o diagnóstico seja positivo para câncer de mama, peço que se lembrem que Davi enfrentou Golias e que ele declara para aquele gigante que ele, Golias, vinha na força dele, e que ele, Davi, ia na força do Deus que servia.

Como são as condições de tratamento atualmente?

Desumanas. Não posso detalhar em todos os estados e municípios, mas através do que vejo e testemunho aqui no Rio de Janeiro e por alguns depoimentos recebidos via e-mail e telefone, me entristeço ao ver como são tratados os pacientes que dependem de hospitais municipais, estaduais e federais. Para fazer uma mamografia, há muita dificuldade. Fila de espera para encaminhamento, o que em alguns casos favorece o avanço da doença a ponto de quando a pessoa for atendida ouve que não há mais o que fazer. Então a pessoa não pode mais ser operada e é tratada com paliativos e só lhe resta esperar a morte. (…) Mas em meio ao caos, eu creio que Deus fará algo grande e tremendo, pois o Seu Espírito está atuando, e mesmo através desta entrevista eu creio que Ele já está agindo ao gerar no coração e na mente de quem agora lê esta matéria que é necessário um posicionamento diante de Deus, prontos para servir, e diante dos homens no exercício da cidadania.

Que dicas você dá para a criação de um projeto como esse em outros estados? Como mobilizar as pessoas? Como levantar recursos?

O Revifé é a única associação deste nível e trabalho missionário genuinamente cristão e comprometido com o Reino de Deus. Em todo o Brasil, temos associações diversas e que trabalham muito bem. Em nosso estatuto e, principalmente, no que Deus colocou em meu coração há 10 anos, a visão que temos é a de lançar sementes, gerar filhos do Revifé onde Deus nos permitir. Esse projeto que já saiu do papel só precisa de pessoas que tenham amor e compaixão pelas almas. As pessoas precisam conhecer a realidade do câncer que já se tornou uma calamidade pública, pois dificilmente encontramos alguém que não tenha tido um parente ou amigo acometido por um tipo de câncer.

Aqui no Rio de Janeiro temos alguns mantenedores. Louvo ao Senhor por eles, mas isso não cobre as nossas necessidades.Temos ainda materiais como livros, DVD, CD, camisetas e bonés com a grife do Revifé (o Sol) e a camiseta com o auto-exame estampado e assinado pela Cláudia Simões.
Estou com os documentos encaminhados na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para adquirir o nosso título de Utilidade Pública, o que nos ajudará muito, mas tenho vivido e trabalhado até hoje na total dependência de Deus. Um trabalho de formiga que nos levou a ser reconhecida pela Sociedade Brasileira de Mastologia e, em dezembro de 2005, me tornou membro filiado da sociedade. Glorifico ao Senhor Jesus por saber que tudo o que tenho visto e vivido é para que todos saibam que quando Ele chama, Ele capacita e dá a provisão.

[important color=blue title=Serviço]
Associação Evangélica Revifé
Rua Carlos de Carvalho, 52 – Loja F – Centro
Rio de Janeiro – RJ
Tels.: (21) 3181 9573 / 9188 0884
www.revife.com.br
e-mail: [email protected][/important]

Entrevista publicada na edição nº 111 da Revista Comunhão, em Novembro de 2006

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