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quinta-feira, 28 março 2024

Entrevista: Nelson Bomilcar

Um polivalente. Assim pode ser definido Nelson Bomilcar, paulista de 51 anos, casado e pai de dois filhos. Conhecido como pastor, cantor, escritor, músico, compositor e conferencista, Bomilcar tem, há 32 anos, rodado o país apresentando os seus arranjos, canções, produções e workshops. Tendo atuado na Aliança Bíblica Universitária (ABU) com o grupo Vencedores por Cristo e pastoreado na Cidade Universitária, em Campinas (SP), atualmente está envolvido no Instituto Ser Adorador, e desenvolve atividades no treinamento de vários ministérios de juventude e missões como ABU, MPC, JOCUM e AME. Ferrenho defensor da “velha escola” da música cristã, o pastor falou à Comunhão sobre o mercado fonográfico, além de fazer críticas à superficialidade notada recentemente no mundo gospel.

Comunhão- Apesar de ser um cantor renomado e lançar CDs, você não gosta de usar termos do mercado, como “música de trabalho”, por exemplo. Qual a razão disso?

Nelson Bomilcar- Não estou envolvido indústria da música gospel. Faço questão de frisar isso, já que sou da geração da música cristã. A indústria que se instalou realmente faz com que o artista “trabalhe” o que é vendável. Mas no meu trabalho, uso canções da minha experiência com Deus. No CD Caminhos do Coração fiz um registro das 15 músicas que tem histórias nesses 32 anos de história com o Pai.

Comunhão- Sabemos que gravadoras e distribuidoras são necessárias para que os louvores cheguem às massas. Entretanto, em sua opinião, elas têm um uma relação conturbada com alguns integrantes de grupos ou ministérios musicais. Na sua avaliação, elas são mais benéficas ou maléficas? E qual seria a alternativa para democratizar o acesso aos CDs?

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Nelson Bomilcar- Elas têm a sua importância, mas muita coisa precisa mudar. Conheço os bastidores das gravadoras e posso dizer que os donos não têm interesse nessa “democratização”. As gravadoras querem uma música de forte apelo popular, que seja consumida rapidamente. E muitas vezes você vê autores, compositores, poetas com trabalhos magníficos e de conteúdo, mas que não são considerados “vendáveis” e acabam deixados de lado. Infelizmente, quase todas as gravadoras, inclusive as evangélicas, ainda vivem sobre o chamado “jabáculê”, trabalhando seu orçamento em mídias de massa para a veiculação dos seus produtos. Hoje não existe espaço para a diversidade, para materiais que façam pensar. O que se busca são pessoas formato musical, que possam ser consumidos principalmente por rádio e televisão. Isso só será contornado por um pouco mais de ética por parte das gravadoras, além da valorização ao artista. São raras as que pagam direitos autorais e que ajudam o músico a ter uma vida digna. Normalmente o retorno financeiro fica quase em sua totalidade para os empresários.

 

Comunhão- Quais seriam, em sua opinião, as formas ideais de usar a música e a arte de modo geral em favor do Reino de Deus?

Nelson Bomilcar- A música do Reino de Deus deveria sempre ter um forte conteúdo na Palavra, no sermão que Jesus pregou no Monte, registrado em Mateus 5-7. É uma música que encanta e vive a perspectiva da Nova Aliança. E que não se reporta aos conceitos do Antigo Testamento, como a adoração do louvor hebraico. Temos a disponibilidade da obra que Jesus fez na cruz.

Comunhão – Existe, a seu ver, alguma razão para a ausência generalizada de artistas plásticos no mundo gospel? E indo mais a fundo, existe preconceito contra artistas em geral?

Nelson Bomilcar- Acho que todos que estejam a serviço da mensagem de Deus devem ser valorizados. Seja através de artes plásticas, seja expressão corporal, poesia, música ou pintura. No mundo cristão existe uma forte resistência quanto às artes. Muitos líderes ainda acham que a cultura é demoníaca e não pode ser usada pela igreja. Com isso os artistas acabam marginalizados. Já toquei em conjuntos de música popular e posso dizer que boa parte dos músicos dos centros culturais saíram de igrejas evangélicas. Ou seja, uma grande perda para as igrejas, que não souberam administrar o talento que possuíam. Sinal que faltou a valorização e a oração por esse artista. Vigora ainda hoje o pensamento de que o indivíduo convertido precisa deixar de ser artista, o que é um absurdo, algo que a Bíblia não ensina. Sou filho de uma cantora do rádio nos anos 40, evangélica, e que sempre trouxe para casa um sustento digno.

Comunhão- Louvor e adoração: o que estes conceitos têm de semelhante e de diferente entre si?

Nelson Bomilcar- Basicamente a adoração expressa o nosso estilo de vida. Ela tem pouco em comum com a música, apesar da música ser uma expressão de adoração. Adoração é aquele conceito bíblico “quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazeis tudo para glória de Deus”. Se você é um profissional, um jogador de futebol, um artista, não importa. Na vida, nos relacionamentos, tudo deve trazer e manifestar a glória do Pai. Já o louvor é o princípio ensinado em 1 Pedro 2:9, que diz que somos o povo eleito para anunciar as grandezas de Deus. Então, louvor é falar do Pai, exaltar os atributos dEle.

Comunhão – Para ser considerada louvor, uma música ou canção precisa ter sido composta por autor evangélico?

Nelson Bomilcar- Não. A verdade é sempre verdade, seja na boca de um incrédulo ou na de um cristão. E o que vemos atualmente é um mundo gospel que abandonou o Evangelho, que canta uma mensagem absolutamente estranha aos ensinamentos de Jesus. Por outro lado, vemos o Evangelho, a verdade, em canções de músicos não cristãos. Hoje, para você encerra um culto você quase precisa usar alguma música de Lenine, Chico Buarque ou Paralamas do Sucesso, já que eles estão usando mais a mensagem do que nós. Colocar a palavra Jesus na música não a torna necessariamente cristã.

Comunhão – O Espírito Santo é forte em eventos evangélicos. Temos, por exemplo, o Jesus Vida Verão, que há 16 anos reúne cantores cristãos e resgata vidas para Jesus. Como você vê esse tipo de festival ?

Nelson Bomilcar- Tenho acompanhado pouco esse tipo de festival, mas já participei de alguns. Enquanto certos tipos de eventos acabam servindo apenas como estratégia de marketing, com as gravadoras divulgando seus cantores, outros – raros – realmente se preocupam em levar a mensagem do Evangelho fora do ambiente da igreja. Esses últimos devem ser parabenizados. Em todo caso, devemos sempre analisar qual o foco de determinado evento, se ele se preocupa de fato com a Palavra ou é apenas uma vitrine de novidades. Nesses 32 anos de carreira, estive em alguns e deixei de participar de outros. Prefiro me apresentar em restaurantes do que em eventos que apenas se dizem cristãos.

Comunhão – Fale um pouco a respeito do Instituto Ser Adorador e do programa de rádio pela internet. Qual o objetivo deles?

Nelson Bomilcar- O instituto tem como finalidade assessora trabalhos artísticos e musicais em igrejas do Brasil inteiro. Ajudamos a estruturar as iniciativas que levem a mensagem de Deus. Sou missionário da Igreja Batista Kerigma de Curitiba e da Igreja Bíblica Evangélica da Comunhão, em São Paulo, que têm me dado respaldo para realizar esse trabalho pelo país afora. Já o programa Sons do Coração, na Rádio Trans Mundial, leva música cristã contemporânea para a rede mundial de computadores. Há um ano e meio, pessoas do mundo inteiro podem conferir o melhor da música cristã dos últimos 40 anos pelo endereço www.trasmundial.com.br. Toda semana, disponibilizamos um novo programa, com cantores e ministérios que contribuíram – às vezes anonimamente- com a nossa música.

Entrevista publicada na edição nº 115 da Revista Comunhao, em março de 2007

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