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sexta-feira, 19 abril 2024

Daniel Dias: Superação e fé no esporte

Daniel Dias é considerado um dos maiores medalistas paraolímpicos do Brasil.

A força e a alegria de um jovem atleta paraolímpico que impressiona. Daniel Dias, 33 anos, coleciona medalhas em Paraolimpíadas, virou o maior nadador paralímpico da histórica do Brasil

Por Gabriela Gonçalves

O currículo impressiona. São 25 medalhas em duas Paraolimpíadas, 10 ouros, quatro pratas e um bronze. Daniel Dias tem ainda 19 ouros em Parapans, outros oito em campeonatos do mundo, dez recordes mundiais e um prêmio Laureus, o “Oscar do Esporte”.

Tranquilo e sempre sorridente, este jovem, nascido com apenas 37 semanas e menos de 2kg, sempre foi um guerreiro. Muito cedo, aprendeu a vencer suas primeiras provas, quando precisou se adaptar a usar próteses e frequentar constantemente a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

Foram muitos os momentos de lágrimas, mas também de vitórias e, acima de tudo, de crescimento numa fé que se mostra inabalável Nesta entrevista para a Comunhão, Daniel revela a força de sua crença, o gosto por instrumentos musicais, sonhos e desejos que vão além das raias da piscina. “Sempre aceitei (a deficiência) e fui feliz assim. É questão de escolha. E eu escolhi ser feliz. O resto nós buscamos com determinação e fé”, diz ele, com simplicidade.

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Conte como é sua trajetória religiosa? Como você conheceu a fé e há quanto tempo?
Eu nasci em um lar evangélico. Meus avós paternos já eram evangélicos também. Quanto se tem um verdadeiro encontro com Jesus, tudo muda em sua vida. Sua visão do mundo, a família, igreja, testemunho. Jesus é tudo em nossa vida. Eu cresci vendo isso, experimentando o amor de Deus e constatando que quando a gente crê em Deus, tem fé e vai em busca dos nossos sonhos, podemos fazer o impossível acontecer, porque o nosso Deus é o Deus do impossível. Na minha vida, e na minha vida esportiva, tem sido assim.

Existe a tendência natural das pessoas não aceitarem as dificuldades e limitações que a vida impõe, sentindo-se injustiçados por Deus em casos de perdas, deficiências, doença etc. Já se sentiu assim? O que fez?
Confesso que pensei sobre isso sim, algumas vezes, mas nunca no sentido de me achar injustiçado. Deus deu muita sabedoria aos meus pais e eles sempre me incentivaram e me motivaram. Meus pais sempre foram o meu alicerce, em qualquer momento, de dificuldade ou de alegria. E, acima do apoio que sempre recebi deles, o Espírito Santo de Deus me assistia, me assiste e creio que me assistirá sempre. Pois quando você se entrega a Jesus, Ele sempre nos conforta, em quaisquer situações, através do Santo Espírito. É uma promessa dEle.

Qual é sua rotina devocional? Como concilia tantas horas de treino com a dedicação a Deus?
Eu acredito que a nossa vida deve ser sempre em sintonia com Deus. Dessa forma, quando estou em casa, procuro ler a palavra de Deus, praticar a oração, e também, quando estou nos treinamentos, sempre que é possível, meus pensamentos estão voltados para Deus.

Com que frequência você lê a Bíblia, ora e vai à igreja? Qual igreja você frequenta?
Eu faço a leitura da Bíblia diariamente, e orar, para mim, é uma atividade constante, principalmente à noite e de manhã. Quanto a frequentar a Igreja, eu procuro frequentar sempre que estou em minha cidade ou, quando possível, mesmo em compromissos de trabalho em outras cidades, eu tento dar um jeito de ir à igreja também.

Você ora pedindo vitória nas competições?
Não. Peço a Deus que me abençoe e que consiga, nas competições, aplicar o que treinei. Deus me deu o dom da natação e procuro fazer o meu melhor sempre. O esporte é uma maneira de eu mostrar ao mundo o amor de Deus, o que Ele pode fazer na nossa vida quando a gente acredita nEle. Eu sempre procuro passar isso. Qualquer um poderia ganhar as medalhas que tenho, qualquer um poderia ser o melhor do mundo, então, por que eu? Deus tem um propósito nisso, e eu procuro passar isso para as pessoas aonde quer que eu vá.

Como tem sido sua acolhida nas igrejas? Houve preconceito nesses ambientes em algum momento?
Não me lembro de ter passado por algum constrangimento nas igrejas, a não ser que tenha sido “velado”. A recepção dos irmãos sempre foi muito carinhosa.

Que tipo de atividades realiza na igreja? Participa de missões ou trabalhos voluntários?
Já fui baterista no grupo de louvor e hoje ainda participo no grupo de louvor da Terceira Igreja Presbiteriana, em Bragança Paulista, mas como ministrante e vocalista. É uma experiência fantástica poder agradecer a Deus por tudo o que Ele faz, todos os dias, nas nossas vidas, seja através da música ou do esporte. São ferramentas que Deus nos dá para estarmos falando de Seu grande amor para as pessoas e evangelizando, levando a elas a verdadeira paz, que não encontram se não procurarem no lugar certo, que é Deus. Em missões, procuro ajudar com algumas contribuições financeiras, quando posso, e através de orações.

Você se sente mais obrigado que a maioria a servir de exemplo de bom cristão através de seu testemunho? Qual o papel que Deus desempenha na forma como você lida com isso?
Mais obrigado não, mas com mais responsabilidade, sim. Na verdade, todos nós, uma vez declarados cristãos, temos que brilhar e procurar dar bons exemplos. Deus me assiste através de Seu Espírito Santo. Eu procuro, mesmo com a minha deficiência física, mostrar que somos todos iguais perante Deus. Deus não vê a aparência.

Como jovem, o que você pensa da castidade e do casamento? Isso é necessário para você “cumprir o plano de Deus”?
Sem sombra de dúvida! E isso é bíblico, portanto, é instrução de Deus para nós. Participo do movimento “Escolhi Esperar”. Precisamos orientar nossos adolescentes e jovens de que Deus deseja que nos guardemos incontaminados do mundo, conforme Rm 12: 1, 2. Tenho consciência de que sirvo de exemplo para muitos outros jovens, por isso, como disse antes, considero uma grande responsabilidade agir dentro do que diz a Palavra.

O que faz para ajudar outros jovens a se manterem na igreja, mesmo em meio a dificuldades?

Sabemos que hoje o mundo oferece muitos atrativos e ‘prazeres’ para atrair a atenção de jovens e adolescentes. Sempre que posso, tento incentivá-los a se manterem firmes no Caminho do Senhor. E cito sempre Rm. 12: 1, 2, uma passagem de que gosto muito. Acredito ser importante disseminar a Palavra do Senhor sempre que possível e procuro falar do amor de Deus em concentrações, junto com outros irmãos… fazemos cultos e reuniões de oração. Mas o testemunho sempre fala mais alto.

A liderança religiosa a que foi submetido influenciou suas decisões na vida pessoal e no esporte? Como?
Eu tive, graças a Deus, uma educação muito boa de meus pais e em minha igreja, através de meu avô, avó e alguns pastores e presbíteros. Mas a influência na vida pessoal e esportiva foi, primeiramente de Deus, e depois de meus pais.

Se não fossem suas limitações, você acredita que seria a mesma pessoa?
Não sei responder. Deus quis que eu nascesse assim e me usa desta forma. Eu não sou especial por ter deficiência e ainda assim ter conseguido tantas conquistas importantes no esporte; sou especial por ter Jesus em minha vida, que posso dizer que é um milagre desde o primeiro sopro. Ele tem me usado da maneira que sou, me deu pais maravilhosos que, com a sabedoria D’Ele, me educaram, me levaram à igreja e são exemplos para mim. Minha mãe às vezes colocava para mim uma música que diz que nós somos obras-primas de Deus. Essa música sempre me marcou, porque mostra que Deus vê o nosso interior, o nosso coração, e não a nossa aparência, o que a gente é aqui. As pessoas podem me olhar e ver que falta algo fisicamente em mim, mas em muitas delas pode faltar algo espiritualmente. Então, não há razão para ficarmos tristes porque falta um braço ou outro membro qualquer.

E você, se considera mais um exemplo de superação ou um exemplo de fé?
Não me vejo como exemplo, embora muitos coloquem desta forma. Fico feliz quando me dizem que sou exemplo.

Existe algum versículo da Bíblia que inspira você de modo especial?
Sim. Mt. 19:26, que diz: “E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível”.

Em Londres você participou de oito provas e conquistou seis ouros, quatro novos recordes mundiais e um paraolímpico. Tudo ocorreu dentro do esperado? Qual a sensação de viver tudo isso?
Aconteceu mais do que eu esperava. A sensação é de muita alegria e de que, depois de muito treinamento, os resultados vieram, graças a Deus. Depois dos resultados de Londres, fui considerado o maior nome do esporte paraolímpico brasileiro. Devo graças a Deus por tudo isso.

Por que você evitou comentar muito o recorde durante a competição? Agora que acabou, a ficha já caiu – você é o maior atleta paraolímpico da história do Brasil?
Recordes são marcas que vêm e podem cair a qualquer momento. A medalha fica.

Você diria que esta competição mudou a visão externa sobre o esporte paraolímpico?
Acredito que sim, mas lutamos ainda para sermos reconhecidos com atletas de alto rendimento. Agora, eu e meu treinador estamos focados nas Paraolimpíadas no Rio, em 2016.

Qual é seu próximo sonho?
No momento, eu quero me casar e constituir minha família. E, se Deus quiser, em dezembro estarei em curtindo férias com a minha família.

O que gostaria de deixar como mensagem aos leitores da Revista Comunhão?
Muito obrigado pelo carinho e torcida. Que Deus os abençoe muito e espero ter contribuído para a edificação de muitos com as respostas. Sonhem e coloquem seus sonhos nas mãos de Deus. Sonhem sem destruir os sonhos de seu próximo. Um abraço a todos!

A Entrevista é uma republicação da Revista Comunhão, de novembro 2012

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