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terça-feira, 23 abril 2024

Entrevista: Cris Poli

Uma argentina radicada no Brasil há trinta anos se tornou um fenômeno de audiência na TV brasileira. Cristina Poli, a Super Nanny, tem ajudado muitas famílias brasileiras prestando socorro com suas técnicas e habilidades como pedagoga, mas também como mãe e avó.

A experiência de mais de 40 anos como profissional ajuda na hora de conversar com as crianças e as famílias. Mas o que pouca gente sabe é que ela é uma cristã evangélica, que afirma que quem realiza a transformação nas famílias é Deus.

Casada há quase quarenta anos, ela é mãe de dois filhos e uma filha, todos adultos e casados. A avó Cristina também acompanha de perto o crescimento dos três netos, mas assegura que, assim como ensina no programa, “o amor tem de andar junto com o limite”.

Muito simpática, atenciosa e risonha, ela conversou com a revista Comunhão. Falou sobre sua vida, trabalho e conversão, que aconteceu há dezessete anos, quando participou de um culto na Igreja Vida Nova. “Nunca mais me afastei do Senhor”, afirma.

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1. Você acabou por se tornar uma estrela da TV brasileira. Acredita que isso estava nos planos de Deus para você?
Bom, na verdade, foi uma surpresa. Quando me convidaram para fazer o teste, eu não conhecia o programa. Fui lá no SBT, conheci e gostei da proposta. Porque ela tem bastante a ver com o que acreditamos aqui na escola, o trabalho de unidade com as famílias, de restauração. O teste deu certo, depois gravei o programa-piloto que acabou se tornando esse sucesso que todo mundo conhece. Mas eu nunca imaginei que fosse ter o sucesso que teve e que continua tendo.

2. De que forma a sua crença influencia no seu trabalho?
O que eu falo e o que eu passo para as famílias é o que eu acredito e vivo aqui na escola, e na minha casa. Não tem nada estudado, nem escrito. É o que está dentro de mim. Por isso que falo com convicção, e mesmo não falando de Deus explicitamente, são princípios da Palavra que tenho aprendido e utilizado no dia-a-dia. É isso que eu acho importante, e que dá credibilidade ao que faço.

3. Quem necessita mais de educação hoje: pais ou filhos?
Sem dúvida os pais, não é?! (Risos) Porque os filhos se encaixam tranquilamente, uns com mais dificuldade, outros com menos, nas mudanças que os pais realizam. Na forma de encarar a disciplina, na forma de encarar o comportamento, a organização da família, enfim. As mudanças que eu levo para os pais, se eles têm consciência daquilo que têm que fazer, se eles apóiam ou concordam. As crianças não têm muita dificuldade de adaptação.

4. Com qual deles é mais difícil lidar durante a gravação dos programas?
Com os pais também, porque eu preciso convencê-los a estar do meu lado, no meu ponto de vista, para poder introduzir as mudanças. Se não concordam, as coisas não acontecem.

5. Antes de o programa estrear, você imaginava que a demanda por ajuda seria tão grande? Quais eram suas expectativas na época e quais são agora?
Nunca imaginei! É até uma coisa que surpreende bastante, porque são muitas famílias pedindo socorro. Hoje, eu vejo como o programa entra nas casas e vai abrangendo um número bem grande de pessoas. Por ser televisão, por ser um canal popular, ele abrange muito mais do que essas 19 mil famílias inscritas. E ainda têm algumas que não se inscrevem por vergonha. As famílias se identificam, porque apesar de cada família ser única, de ter um histórico e um contexto, os problemas são muito parecidos. No que se identificam, vão aplicando os métodos, as mudanças que eu levo. E pessoas têm me contando sobre as mudanças simplesmente por estarem assistindo o programa. Isso é muito legal.

6. Qual a diferença entre ter autoridade e ser autoritário?
A diferença é enorme. Porque autoridade é uma coisa que está com você, que você precisa conquistar, que precisa ser exercida. E as crianças reconhecem as pessoas que têm autoridade. A pessoa autoritária é completamente diferente. Uma pessoa que grita, que impõe pela força. A atitude é completamente diferente. E eu tenho encontrado muitos pais autoritários do que com autoridade. Que querem impor sua autoridade, mas não sabem como fazer isso, até porque têm dúvida da sua própria autoridade como pais.

7. Como os pais podem se auto-afirmar?
Primeiro, entendendo o que é autoridade. Que ela está com eles e que eles precisam fazer uso dela. É um trabalho de conscientização dos pais. E depois que eu passo os métodos e as medidas para tomarem com as crianças, isso os ajuda a exercerem essa autoridade.

8. O que você acredita que faça mais “estragos” no caráter da criança: os excessos ou as carências? Por quê?
Eu acho que tanto uma coisa quanto a outra são prejudiciais para as crianças. O ideal é que o pai possa encontrar o meio termo entre a “falta de” e o excesso. O que faz mais estragos nas crianças é aquilo que eles ouvem falar mas não vêem praticar. Por exemplo, o pai que fala que não pode falar palavrão, mas fala palavrão, o pai que fala que não pode mentir, mas mente… Isso faz muito estrago porque a criança fica confusa entre o discurso que ele está ouvindo e aquilo que ele está vendo do pai, que é o modelo dele (o primeiro modelo da criança são seus pais). O mais importante é não causar confusão na cabeça das crianças, porque isso cria um adulto com mente dupla, e isso é muito ruim para a personalidade da criança.

9. Em sua opinião, qual o maior ensinamento que a Bíblia dá aos pais quanto à educação dos filhos?
O maior ensinamento é um versículo que eu gosto muito: Provérbios 22:6 “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”. Eu vejo que tem a ver com aquilo que eu acabei de falar, o instruir a criança significa andar com ela, passar os ensinamentos dia após dia, e andar com ela no caminho que ela deve andar, sempre a guiando. Isso é muito importante: o pai andando com o filho no caminho que ele entende que deve ser seguido e mostrando para ele com exemplo. Isso deve ser feito, pois permanece para a vida toda.

10. Se o princípio do uso da “varinha” para a correção é aconselhado, conforme Provérbios 23:13 (“Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá”), por que você acredita que não se deve utilizá-lo?
Eu acredito que esse versículo, esse procedimento, tem que ser usado com entendimento, com discernimento e debaixo de oração. É uma coisa que somente aquele que tem entendimento da Palavra, que teve a revelação da Palavra e a base de oração, é que pode aplicar esse versículo. Essa não é uma licença para espancar a criança. É uma coisa que tem que ser usada com entendimento, discernimento, coordenação e oração.

11. Durante muito tempo a relação entre pais e filhos foi baseada no autoritarismo. Depois chegou à liberalidade. Hoje temos uma leva de filhos autoritários. Onde encontrar o equilíbrio?
Isto é um trabalho de formiguinha. Tem que ser começado com convicção e consciência. Eu creio que na hora em que os pais entendem que tem algo errado com os filhos não devem se culpar, mas introduzir as mudanças… Sempre dá tempo de a gente corrigir aquilo que está errado. Isto é o que está acontecendo com estas famílias que pedem socorro. Estão vendo que aquilo que fazem com os filhos, nem eles estão gostando, nem eles estão agüentando, e pedem este socorro porque não sabem como fazer. E é aí que entra o sucesso do programa, porque não é simplesmente apontar um erro, mas dar uma solução para o problema.

12. Você afirma que “os pais não devem temer dizer ‘não’ para os filhos, ensinar-lhes regras e dar-lhes responsabilidades”. Por que colocar isto em prática é tão difícil?
(Risos) Porque é muito mais cômodo você concordar com tudo que a criança quer do que assumir a sua autoridade e responsabilidade. Muito mais cômodo eu chegar em casa cansada depois de um dia de trabalho e concordar com tudo que meu filho me pede. Porque eu não tenho o trabalho de falar “não”, de colocar limites, de pensar se o que o filho está pedindo é certo ou errado, de transmitir para ele. Só que o que está acontecendo é que os resultados são muito ruins.

13. Se esta situação não for revertida, onde você acha que a sociedade irá parar? Você afirmou que ainda dá tempo de mudar. Como enxerga a sociedade dentro de mais duas ou três décadas?
Eu acho que sempre dá tempo se o pai percebe que existe algo para mudar. O primeiro passo é esse, o pai se conscientizar de que precisa mudar. O que a gente está vendo na sociedade, na juventude, de agressão, de violência, de tudo de ruim que está acontecendo, é um sinal de que é preciso tomar uma atitude, porque senão cada vez mais vai piorar. Às vezes, eu nem acredito naquilo que estou vendo e ouvindo. Mas sempre é tempo para mudar. Às vezes, os pais falam: “Ah, meu filho já tem 13 ou 14 anos, já passou da idade”. Vai dar muito mais trabalho, sem dúvida, mas vale a pena tentar. Muitos pais que participaram do programa falaram para mim: “Se meu filho continuar deste jeito vai virar um marginal. Eu não quero isto para ele”. É muito triste ouvir isso. Claro que quanto antes melhor. Mas sempre dá tempo. Esta é a minha posição e a dos educadores em geral. Eu trabalho em escola com crianças a partir de um ano e meio até o terceiro colegial e a gente vê como é possível introduzir mudanças mesmo entre os adolescentes.

14. Você tem apenas duas semanas convivendo com a família, durante a gravação dos programas, para tentar ajudá-la a “pôr ordem” na casa. Como você acredita que consegue isso?
(Risos) Com Deus no meio. É Ele quem está do meu lado para fazer isso. Tem a minha experiência, mas a direção é de Deus. Porque eu creio que Ele está do meu lado, e eu tenho pedido a Ele antes de trabalhar, antes de entrar na casa, que Ele me dê graça, me dê sabedoria, me dê as palavras e a direção certa para trabalhar com cada família. Até mesmo os pais, às vezes me perguntam: “Como foi que você conseguiu fazer isto com o meu filho?”. E é Deus agindo porque Ele quer que haja mudanças. Ele está intervindo, sem dúvida. Sempre oro por estas famílias.

15. Qual a maior lição que os pais podem aprender com os filhos? E os filhos com os pais?
Os pais precisam aprender com os filhos sobre a liberdade e espontaneidade que as crianças têm. Eles são sinceros, são abertos, são livres, e isto é muito precioso para eles. E os filhos precisam aprender com os pais sobre caráter, e a firmeza naquilo que está fazendo. A convicção e o bom exemplo dos pais é que ensinam. Se você aprende isto com seus pais, com certeza vai ensinar isto para seus filhos também.

Matéria publicada na edição nº 120 da Revista Comunhão em agosto de 2007

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