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quinta-feira, 25 abril 2024

Entre o apedrejamento e o acolhimento, prefira o que fará você se sentir melhor!

Estes meus dois últimos dias têm sido de muita correria, viagem internacional, preparativos, reuniões e … tristeza.

Desde a madrugada da última segunda para terça-feira meu telefone não pára de receber mensagens, links, notícias, comentários … alguns amigos mais chegados me enviam áudios e ligações. Todos fomos surpreendidos pelas notícias e num misto de estupefação e tristeza, tentamos entender os motivos para que uma pessoa bem-sucedida em sua carreira profissional colocasse tudo a perder por uma questão tão distante da realidade de uma pessoa que professa e divulga a fé e a doutrina cristã.

Mas não quero me ater na pessoa em si, mesmo tendo algumas percepções bem definidas sobre o que pode ter contribuído para este desfecho tão trágico. Quero dedicar estes próximos minutos para tecer alguns comentários, que poderão ser aplicados a todas as pessoas que pretendem ou que já seguem uma carreira artística. Com algumas adaptações, estas mesmas observações também se aplicam a nós, “simples mortais” no dia a dia de nossas vidas cotidianas.

Presença constante em aeroportos, viagens, entrevistas, shows, cultos, apresentações, ensaios, deslocamentos, visibilidade, redes sociais, gravações … a vida de um artista de música cristã é intensa. Acompanho esta rotina faz quase 30 anos e sei o quão cansativo e intenso é … o quanto demanda de atenção, disposição, dedicação, força de vontade e até preparo físico.

Quem pensa que vida de artista é moleza, deveria passar uma semana acompanhando de perto a rotina sacrificante de compromissos com data e hora marcadas, a necessidade de estar sempre sorrindo e simpático (mesmo quando se dorme 3h apenas ou se alimenta mal e coisas do tipo!). No entanto, mesmo com todos estes compromissos há uma questão que não deve ser negociada ou relegada a um plano de menor importância, a saber: a necessidade de estar em comunhão e atuante em uma igreja local.

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Infelizmente tenho percebido muitos artistas que estão trabalhando intensamente pelo Reino, caminhando de forma solitária, autônoma, alguns até se auto proclamando pastores e pastoras, como se o título bastasse para suprir o tempo de convívio e cuidado de líderes. Este é um erro fatal! Todos nós precisamos estar inseridos numa igreja local. Temos que ter o suporte de um pastor, de um líder, precisamos ter ‘tempo de banco’ para aprender mais, para ouvir, ser discipulado, conviver com outras pessoas e dividir experiências. Todo artista precisa saber controlar sua agenda para que as oportunidades não atrapalhem o tempo de relacionamento com a igreja local.

Estar constantemente em ambientes religiosos não é suficiente para atender carências e demandas individuais que são só supridas na igreja local, onde o artista é tratado como uma pessoa comum, com suas idiossincrasias, necessidades e falhas inerentes a qualquer ser humano.

Portanto, se você é artista e não tem participado com certa regularidade das atividades de sua igreja local, resolva esta questão o quanto antes. Muitos artistas optam por reservar ao menos um domingo por mês para estar em suas respectivas igrejas locais. Outros reservam cultos semanais para estarem presentes de forma fixa. E vale lembrar que estar na igreja local não significa participar do ministério de louvor ou fazer solos durante o culto, o correto é estar na igreja local como um simples membro, sentado no meio da congregação, recebendo naturalmente a Palavra, sem ser sequer notado pelos demais. Isso faz toda a diferença!

É importante salientar de que ser um artista de música cristã não é para qualquer um, afinal a música tem um papel muito importante na propagação do Evangelho, no agir do Espírito Santo e, por isso mesmo, atua em regiões espirituais de grande impacto. Não querendo discutir doutrina ou religião, o fato é que quem se habilita a usar seu talento artístico para Deus deve estar preparado para enfrentar grande oposição espiritual. E como aguentar o tranco se não houver preparo? Como enfrentar demandas opostas se não estivermos cheios do Espírito Santo, cheios de conhecimento da Palavra, discernindo claramente as ciladas do inimigo?

Não podemos ser obscuros de pensamento e acreditarmos que sozinhos poderemos ser suficientes para lidar com toda a pressão e opressão no trabalho de propagação da mensagem de Cristo. Quando uma referência comete um ato negativo inesperado, o alcance negativo de suas atitudes parece que é potencializado ao máximo! Basta vermos o impacto deste acontecimento por estes dias, chegando ao Trend Topics do Twitter, sendo matéria em sites e blogs seculares.

Neste momento me vem à mente a imagem de uma manada de antílopes e leões à espreita analisando onde dar o bote para garantir sua refeição … o leão não vai de encontro à massa, ele observa quem está desgarrado, muitas das vezes filhotes sem experiência de vida ou mesmo algum animal doente, debilitado … ele jamais irá enfrentar os mais fortes, os mais ágeis, os mais astutos. O foco dele será sempre o mais vulnerável. E o mesmo acontece em nossa vida espiritual. O diabo não irá afrontar quem está cheio do Espírito Santo, pelo contrário, o alvo dele será os mais débeis, os mais fracos, os mais cheios de si, aqueles que se julgam espertos e que podem caminhar sozinhos tornando-se presas fáceis. A necessidade de estarmos todos inseridos em igrejas locais não é uma tradição, mas uma atitude de autopreservação, uma atitude de maturidade e humildade espiritual. Estejam todos atentos a isto!

Ainda sobre este momento tão triste para todos nós tenho percebido reações muito distintas, não só do público como dos artistas. Vivemos dias difíceis e muito estranhos, sem dúvida. Tempo em que o ódio se torna corriqueiro e as pessoas não dissimulam sua vontade de destruir o próximo, mesmo quando este nem está tão próximo assim, quando sequer se conhece ou tem relacionamento mais íntimo. Todos se julgam capazes e liberados para expor suas opiniões e julgamentos.

A própria existência de um site com foco em divulgar notícias negativas, em expor a vergonha e falhas alheias é algo surreal para o meio cristão. Não há nada bíblico que justifique isso! Mas o que de fato me chama a atenção é a tremenda falta de amor e de compaixão com a fraqueza do outro como se todos nós fôssemos suficientemente fortes, coesos, coerentes. Não mesmo! Todos, indistintamente temos nossas fraquezas, nossas falhas e o que nos faz diferentes é identifica-las e saber mantê-las controladas.

Quando julgamos o outro, de uma forma indireta estamos dizendo que somos superiores a ele, de que este tipo de problema não nos atingiria e de que temos controle total de nossos atos e pensamentos. Quando na verdade, o próprio Senhor Jesus nos ensina na passagem da mulher adúltera de que ninguém está livre para julgar o outro. O que Ele nos ensina é que devemos ter compaixão de quem está em pecado e que devemos ser instrumentos para a mudança e não para o seu sepultamento ou apedrejamento. Fico imaginando quem são os pastores desta patuléia que resolve atirar pedras para todos os lados? Qual igreja esta turma frequenta? Por que certamente quero manter máxima distância! Muita mesmo!

Em contrapartida tenho visto muitas manifestações solidárias. Pelas redes sociais muitos artistas mandando mensagens de apoio, oferecendo suas orações, carinho e respeito. Isto é o que me faz ainda acreditar em algo melhor do que estamos vivendo por estes dias. O que precisamos é disseminar o amor, o amor transbordante, aquele amor que constrange a ponto de por si só transformar uma situação terrível e para muitos irreversível. Estamos diante de um momento único onde, diria até que de forma surpreendente face ao espírito beligerante e acusatório reinante, podemos fazer uma diferença tremenda sobre as expectativas. Se orarmos, se acolhermos, se demonstrarmos carinho ilimitado, creio que tudo pode ser revertido. E eu digo isso com muita certeza de que seria exatamente desta forma que cada um de nós gostaria de ser acolhido caso estivesse vivendo situação semelhante.

Espero que nos próximos dias possamos orar especificamente por esta vida e por tantas outras que se encontram em situação análoga, escondidas pelo cotidiano de suas infelizes rotinas. Que possamos demonstrar todo nosso amor e preocupação e que nossas atitudes sejam para reerguer e não apedrejar! Minha sugestão é para que cada um de nós assuma uma posição de não expor mais ninguém, mas sim de proteger, de acolher.

Esta é uma palavra que neste momento surge com muita força em meu coração, acolher. Sendo pai de 3 meninos, minha vida toda foi de pegá-los no colo (faço isso ainda hoje mesmo com 2 homenzarrões maiores do que eu), abraça-los forte e fazê-los sentir protegidos, acolhidos. Estes momentos são únicos e sei o quanto são importantes para meus filhos. Que façamos o mesmo neste momento, ou melhor, sempre, com aqueles que estão perto e com aqueles que sequer conhecemos.

Façamos a diferença!

P.S. – para complementar este texto não creio que exista uma música tão perfeita como “A Lei e o Amor” brilhantemente escrita e interpretada por Séo Fernandes.

Mauricio Soares, Diretor de A&R da Sony Music Brasil

 

 

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