27.1 C
Vitória
terça-feira, 16 abril 2024

Educação: responsabilidade dos pais ou dos “tios”?

Educação: responsabilidade dos pais ou dos “tios”?
Professores são carinhosamente chamados de “tios e tias” pelos alunos das séries iniciais. Esse falso parentesco pode ser um trampolim para que pais deixem de lado sua responsabilidade com a educação das crianças?

Muitos pais estão terceirizando o cuidado com os filhos e repassando a responsabilidade da educação moral, ética e até mesmo religiosa para os chamados, carinhosamente, “tios”, que não são os seus irmãos. E isso não se restringe mais à escola, pois há “tios” para tudo: esporte, música, arte, transporte, cantina. E até mesmo em época do recesso escolar, os pais acabam repassando o momento de brincadeiras para os “tios” da colônia de férias.  A educadora Maria Ione Coutinho, no artigo “Modismo da tia: intervenção no ensino da Educação Infantil”, diz que o hábito de chamar o professor de “tio” veio da década de 60, quando as mulheres saíram para o mercado de trabalho, uma forma de aliviar a “culpa”. Ao percebemos que não se refere só aos professores, mas também a outros profissionais que vêm ocupando o lugar que deve ser dos pais, que receberam de Deus o privilégio e a responsabilidade de educar seus filhos.

A começar em casa
Escola e família são mundos distintos. Muitas vezes professores fazem o papel de um pai ou de uma mãe, mas isso não é o que a Bíblia nos orienta. Em vários trechos vemos a necessidade do ensinamento em casa, como em Provérbios 22:5 “Educa o menino no caminho que deve andar e até quando envelhecer nãos se desviará dele”.  Assim fazendo, os pais estarão plantando um coração segundo o propósito de Deus, seguindo o que diz Provébios 4:23 (de guardar o coração, porque dele procedem fontes de vida) e Deuteronômio 6:7, ordenando aos pais que ensinasse aos filhos sobre o amor e temor ao Senhor, com o objetivo de que os filhos colocassem sua esperança no Deus vivo, como falou Davi (Sl 78:7).
Substitutos no tempo com os filhos O diretor nacional do Growing Families International, pastor Dinart Barradas, que trabalha há mais de 20 anos com a restauração de famílias, fala sobre a importância de se ter tempo para criar os filhos, principalmente, com os princípios cristãos. Dinart aponta que muitos pais, hoje, têm deixado os ensinamentos para os substitutos da educação, da religião, do lazer e até da brincadeira. “Para dar prioridade à carreira e ao ganho financeiro, os pais estão deixando seus filhos com substitutos, pois não têm tempo para estar em família, orar, ler a Bíblia, brincar, ensinar, e têm que trabalhar mais para pagar os substitutos”.  Com isso os filhos se distanciam dos seus pais e da igreja e começam a reproduzir valores que não são os vivenciados pela família “Os pais estão cada vez mais competentes no mercado de trabalho e menos competentes em lidar com os filhos, e nas questões domésticas. Muitos casais jovens não sabem lidar com a vida doméstica, porque não foram treinados para isso, como por exemplo, os pais não levam os filhos ao supermercado, aos serviços porque estão com pressa, e as crianças não são treinadas para o dia a dia doméstico”.

Em relação ao ensinamento na Igreja, esta deve agir como parceira da família. “É uma falha do departamento infantil da igreja assumir para si o papel que é dos pais. Cabe à Igreja dar ferramentas e subsídios para que os pais possam educar seus filhos”. O pastor ressalta que o mandamento dado ao povo de Deus em Deuteronômio 6:22 não se refere à Igreja, mas aos pais. “É um mandamento para a família, mas muitos não sabem como lidar, embora sejam pais capacitados no mercado de trabalho”. Os pais têm que ter um planejamento familiar, definir o padrão de vida, com tempo para educar seus filhos. “Vivemos hoje um sistema de valor de se ter mais e mais, mas é necessário avaliar o quanto é necessário para viver”, afirma o pastor e explica: “Se não se sabe aonde quer chegar, o quanto precisa ter, os pais vão trabalhar muito, pois não sabem o quanto basta”. Dinart chama à atenção para o resgate do valor das mães. Muitas mulheres veem sua autoestima relacionada apenas com o trabalho e não com a família, como se ser mãe e esposa não fosse uma atuação honrosa, e deixam se engolir pelo mercado de trabalho.  “Conheço muitas mulheres que optaram por serem mães, esposas, sem deixar de serem profissionais competentes, mas tendo a família como prioridade”.

Educar um ministério de Deus
Para a pedagoga e jornalista Nélly Bianco, membro da igreja Missão Surfistas de Cristo, Serra, o fato de chamar o professor de “tio” tem dois lados: “Não é algo bom para a formação da criança, porque se perde o referencial de família como estrutura de sangue e se estende isso às pessoas que nem sempre querem o bem da criança. Mas, também, o ideal de professor como formador fica perdido em meio ao conceito de tio”.
Mas ela ressalta: “Em contrapartida deixa a criança mais tranquila e mais confiante em relação ao professor. Ela se sente mais próxima, por mais que a intimidade não seja real. Também acho que o professor passa a se sentir mais responsável, pois está lidando com crianças que confiam nele como alguém da família e não só como um orientador da instituição escolar”.  Em relação à Igreja, Nélly ressalta que a essa educação faz muita diferença, porque os valores morais colocados em xeque nos tempos da pós-modernidade, em que tudo é relativo, são relembrados e discutidos, mostrando a diferença em um mundo que jaz no maligno e nas trevas no individualismo, na soberba e na falta de referenciais.
“Além disso, as crianças passam a ter mais desenvoltura diante de grupos e se sentem mais preparadas e mais bem-sucedidas nas atividades que exigem discussão, proatividade e desinibição, já que estão acostumadas a dinâmicas assim no ambiente da igreja”, pontuou.
“Os pais estão abrindo mão de um ministério dado por Deus e entregando seus filhos nas mãos de pessoas que não conhecem. A Igreja e a escola possuem papel fundamental na formação das crianças, mas a educação é papel da família. Os filhos estão perdendo a valorização do tempo com a família, os princípios, a moralidade, o amor, o respeito e sobretudo o referencial de a quem devem procurar quando precisam de opiniões, de amor e de serem acolhidos”, concluiu Nélly.

- Continua após a publicidade -

Educar para transformar
Para o pastor, coronel da Polícia Militar e membro Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, Samuel Souza Ribeiro, os adultos não estão entendendo o verdadeiro papel da escola. “Creio que a educação da criança precisa ser dada principalmente pelos pais no ambiente familiar. Muitos deles ‘depositam’ os filhos na escola e exigem da instituição os resultados de uma educação que deveria ter sido recebida em casa. A  escola dá a formação e a informação para a vida em geral e para um futuro promissor para aquela criança, que será o jovem agente participante e transformador da sociedade”. Já quanto ao ensino religioso, o pastor Samuel não vê grandes problemas, embora ressalte que os pais precisam ensinar aos filhos o caminho ético, moral e espiritual. “No que tange Provérbios 22:6, o texto não fala quem é que deve instruir a criança (os pais, a escola, ou a Igreja), mas deixa claro que a criança precisa de instrução para a vida a fim de que chegue à idade madura com sabedoria”.
Ele cita ainda o texto de Deuteronômio 6.2 como o retrato do papel da família, e afirma: “Os pais precisam ensinar a Palavra de Deus aos seus filhos em todo o tempo, mas nem todos têm a capacidade necessária para isso. Daí o grande papel da Igreja e da EBD, que precisa ter professores bem preparados, treinados, habilitados e instruídos para darem às crianças todo o respaldo bíblico, religioso e moral que necessitam”.
A Igreja deve agir de forma integrada com a família. “Acho que uma das sugestões é o Ministério Infantil solicitar aos pais que ajudem os professores do grupo. A Igreja não precisa que esses pais sejam ‘teólogos’ para ajudar no ministério, mas pais e mães que levem Deus a sério e usem seus talentos”.

E diante de um mundo tão tecnológico e com valores do “ter” e não “ser”, o pastor vê os pais com importante papel.“Eles devem estar preocupados com a formação técnica dos filhos, assim como com a sua humanização e maturidade emocional e espiritual, lembrando que é mais importante ser do que ter. Ser uma pessoa ativa e produtiva, mas, ao mesmo tempo, um cidadão preocupado em promover a paz, a harmonia e o bem-estar social, sendo capaz de transformar, por intermédio do seu conhecimento e exemplo, vivendo no mundo, para transformar o mundo”.
E ele ressalta ser o exemplo uma grande arma. “Por meio do exemplo, da oração e do ensino, os pais levarão seus filhos a terem desprendimento, humildade, honestidade, paciência, amor, perdão, confiança, generosidade, sinceridade, entre outras qualidades”.
Falha dos pais A psicóloga Cássia Rodrigues, membro da Igreja Evangélica Batista de Vitória, acredita que os pais estão terceirizando uma responsabilidade que é deles e com isso muitas crianças, adolescentes e jovens se envolvem com drogas ou com relacionamentos prematuros por falta de diálogo, atenção e amor.

“Vivemos uma realidade que a mulher tem que sair para o mercado de trabalho e, por isso, antes que tenha filhos, o casal tem que ter um planejamento, para ter tempo, pois o tempo é objetivo. Alguns pais estão colados nos filhos, mas não estão dando o tempo para eles”, acredita.
Ela ressalta que cabe aos adultos moldar o caráter e o temperamento dos filhos, assim como repassar os valores. “Se os ensinamentos não são passados pelos pais, os filhos vão aprender com outras pessoas. Tenho recebido no consultório meninos com 16 e 17 anos, que se sentem perdidos, não sentem o afeto da família, e isso é uma falha dos pais”. E adverte que há adolescentes namorando muito cedo e acabam forçando desejos para os quais não estão preparados.

Preocupados em ganhar dinheiro
Para a funcionária pública Vania Barcelos, da Igreja Batista em Cobilândia, Vila Velha, não há como abrir mão dessa responsabilidade. “Eu ensinei o caminho, e hoje eles andam na presença do Senhor. Vejo que os pais estão muito preocupados em ganhar dinheiro e se esquecem de cuidar dos seus. Filho é responsabilidade única e exclusiva dos pais. Eu busco agir como uma mãe cristã, e claro, que o pai contribui muito, pois ele está sempre cobrando horários, sabe onde estão e se for preciso leva e vai buscar. Estamos sempre presentes”.  Ela tem três filhos, Luara, 12 anos, Luciano 16, e Luana, 22, e disse que independente da idade, pois a mais velha trabalha, estuda e paga suas contas, está sempre conversando e incentivando que todos participem das programações familiares e das viagens.  “Nossas conversas são bem abertas, dou liberdade a cada um para expressar o que está sentindo, falo sobre tudo de bom e ruim que o mundo oferece e mostro sempre que o melhor caminho a seguir é buscar a Deus em primeiro lugar”.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -