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sexta-feira, 29 março 2024

Dia da Escola – há algo a ser comemorado?

As famílias, de modo geral, têm sido acusadas de estarem transferindo para a escola a responsabilidade pela educação dos filhos. Isso é verdade?

Diante dessa pergunta, quase ouço um coro universal respondendo, em uníssono: “claro que é verdade”! As crianças são deixadas nas creches cada vez mais cedo e as mães desejam que a escola seja de tempo integral. Muitas mães reclamam por causa das férias, pois não sabem o que fazer com seus próprios filhos neste “período terrível”. Mas, continua o coro implacável, a terceirização não é apenas em relação à escola. Quando os pais viajam em férias, aqueles que podem, procuram hotéis nos quais sejam disponibilizadas atividades para as crianças, com recreacionistas treinados para cuidar dos filhos dos ouros durante todo o dia.

Nas festas de aniversário e nos eventos como Feira do Automóvel e outras similares, há também o “criançódromo”, ou seja, o lugar onde deixar os filhos para que os pais disponham do seu tempo da maneira que desejarem, entregando seus filhos para profissionais totalmente desconhecidos.

Bem, estes são os fatos e, contra os fatos, não há argumento. Ou será que há? Será que há alguma possibilidade de argumentar em favor da família e dizer que não é bem assim?

Na comemoração deste “Dia da Escola”, eu desejo, pelo menos fazer uma tentativa de argumentar em favor das famílias. Já que não é possível negar o fato de que as crianças não são mais educadas pelos pais, resta-nos perguntar o que veio primeiro: o ovo ou a galinha?

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Esse dilema ovo-galinha consiste em saber se as escolas precisam assumir a responsabilidade da educação porque os pais a abandonaram ou se os pais “abandonaram” a educação dos filhos porque o Estado usurpou deles não apenas a responsabilidade, mas também o direito à educação dos filhos.

A Linha do Tempo da educação pública mostra que a segunda opção é a correta. Os governantes foram, gradativamente, assumindo para si a tarefa de “educar”, visando formar “cidadãos”, ou seja, peças de uma engrenagem social na qual a família e o indivíduo desaparecem, restando apenas os coletivos.

Não dá para falar disso sem recorrer à História. Nos países de tradição cristã reformada, ensinar as crianças a ler e escrever era parte fundamental da teologia do sacerdócio universal. Se cada cristão é um sacerdote, se o único mediador entre o homem e Deus é o Senhor Jesus Cristo, então, todo cristão tinha o dever de aprender a ler para ler por si mesmo as sagradas Escrituras.

Nas colônias norte-americanas havia a clareza de que, além de ler as Escrituras Sagradas, cada cristão deveria ser capaz de ler a Constituição de seu país, o qual, naquele tempo era a própria Colônia na qual vivia. Nessas Colônias, em graus diferenciados conforme variava a teologia, as leis civis e eclesiásticas estavam muito intimamente relacionadas.

Neste tempo, família e igreja eram as instâncias responsáveis pela educação total da criança, incluindo formação intelectual, física, moral e espiritual.

Mas, na Alemanha, final do século XVIII, surge a Pedagogia científica, ou seja, a ideia de que agora há uma “ciência do educar” e que o Estado é o único capaz de definir quem está habilitado para exercer tão grandiosa tarefa, além de decidir também quais são os métodos e conteúdos necessários para a formação de todos os cidadãos.

Neste contexto da escola pública e “laica”, a família foi perdendo seu lugar. A escola passou a ser compulsória. Os pais passam a ser forçados pela lei a matricular seus filhos nas escolas, não importando o quanto estavam preparados para educarem, eles mesmos, as suas crianças. Nessas escolas, os pais são cada vez menos ouvidos. Afinal, existe uma autoridade sacrossanta por trás do professor e do diretor escolar. As reuniões escolares também se tornam massificadas


. Afinal, o professor tem a verdade sobre cada criança.

No início da década de 1840, Horace Man, um norte-americano aparentemente bem-intencionado, vai à Alemanha aprender sobre este movimento da escola pública. Ao retornar aos Estados Unidos, funda, em Massachusetts, o primeiro Conselho Estadual de Educação. Poucos anos depois, é criada neste mesmo Estado a primeira Associação de Professores que, mais tarde se tornaria a NEA – National Education Association (Associação Nacional de Educadores). Em meados do século XX, os membros do NEA estão entre os idealizadores da Unesco – órgão da ONU para a educação e cultura.

As famílias foram progressivamente restringidas e até proibidas de exercer seu direito de educar os filhos

No ideário desta monumental associação, está bem clara a intenção de trabalhar para que, por meio da Educação, as nações abram mão de sua soberania, em favor de um governo mundial.

Embora explicitado em poucas linhas, o que estou tentando dizer é que as famílias foram progressivamente restringidas e até proibidas de exercer seu direito de educar os filhos.

Muitas famílias que hoje não têm condições intelectuais, morais e espirituais para educar suas crianças precisam ser alvos de misericórdia, visto que são formadas por pessoas que também não foram educadas em casa. Milhares de crianças são deixadas nas creches desde os primeiros meses de vida. Dentre estas, a imensa maioria é constituída por filhos de pais e mães que também foram para creches quando ainda bebês. As famílias de hoje são produto de famílias que receberam maior influência da escola pública do que de seus familiares ou de suas denominações religiosas.

Considerando biblicamente, o papel da educação dos filhos é prioritariamente dos pais. Moisés entregou ao povo, ainda no Deserto, um currículo educacional. Tratava-se de um currículo para uma nação, mas cabia aos pais serem instruídos nas leis, estatutos e na história da formação e desenvolvimento da nação. Conhecedores destes fatos básicos (o que evidentemente incluía a leitura e a escrita) os pais eram os responsáveis por educar os filhos “assentados em casa, andando pelo caminho, ao deitar e ao levantar”. Os pais deveriam “escrever nos umbrais da porta” [Deuteronômio capítulos 4 a 6] e ter os textos escritos como frontal entre os olhos.

Essas são referências que levam autores como Thomas Ramson Giles a reconhecerem que os judeus constituem o primeiro povo a desenvolver alguma forma ou sistema educacional para toda a população, privilegiando a formação dos adultos em geral para que estes sejam os responsáveis pela educação das gerações seguintes.

Este é o modelo seguido também pelos cristãos, herdeiros, pelo menos em parte, da tradição educacional hebraica. Assim, primeiramente a família e depois a Igreja eram as instâncias de educação das crianças. Quase dois mil anos de Cristianismo formou pessoas de altíssima competência intelectual, moral e espiritual sem necessidade da escola Estatal.

As famílias de hoje são produto de famílias que receberam maior influência da escola pública do que de seus familiares ou de suas denominações religiosas.

Dizer que antes da escola pública as pessoas eram analfabetas é designar como analfabetas pessoas como Benjamim Franklin, Alexander Hamilton, Abgail Adams e a milhões de outras pessoas educadas em casa, as quais se tornavam capazes de exercer elevados cargos no cenário político sem ter sequer um diploma.

A obrigatoriedade da escola foi proposta pelos contemporâneos de Georg W. Friedrich Hegel, filósofo alemão contrário à divisão de poderes entre legislativo, executivo e judiciário, ou seja, defensor da forma totalitária de governo. A chamada educação democrática foi pensada desde o início para criar uma totalidade incapaz de pensar. Chega próximo do absurdo acreditar que educar é separar as crianças por idades, fazendo com que todas estejam literalmente “na mesma página”, pensando igual, lendo igual (ou sendo igualmente privadas de oportunidades de desenvolver sua própria capacidade para ler ou para apurar quaisquer outros dotes individuais.

Esta escolarização obrigatória já completou duzentos anos. Demorou um pouco para chegar ao Brasil, mas, agora, as leis já obrigam os pais a entregarem seus filhos para serem domesticados pelo governo a partir dos 4 anos de idade.

O resultado está muito claro, embora seja politicamente incorreto apontá-lo. Atualmente, milhões de brasileiros estão desempregados e, ao mesmo tempo, em todos os setores há uma extrema dificuldade para preencher vagas para cargos que exijam um mínimo de capacidade de leitura e compreensão de textos. Em praticamente todos os ambientes têm caído muito a qualidade dos serviços prestados, em virtude da baixa qualificação dos candidatos. Analfabetos funcionais (pessoas com diplomas, mas que são incapazes de compreender o que leem) estão por toda parte.

Evidentemente, isso tem reflexos na família, na qualidade da educação que os pais podem oferecer às suas crianças. Mas, ninguém se dá ao trabalho de parar e pensar no quanto todo este caos já é resultado da própria escola, que vem piorando, com toda a ajuda internacional, já há dois séculos.

Quando todos estes fatores explodem em um ato de indescritível violência como o deste 13 de março, poucas pessoas consideram sobre a responsabilidade da própria escola pública e do sistema educacional como promotores da tragédia. É bom lembrar que a escola particular também é controlada pelo Estado.

A escola tem cumprido cabalmente seu papel, conforme preconizado pela Pedagogia Prussiana – formar a horda, formar a manada. Assim, será possível impor um governo totalitário e ninguém terá recursos intelectuais, morais e espirituais para reclamar. Quem tem dúvidas sobre a validade destas afirmações, procure as fontes citadas e leia, com muita atenção, o PNDH 3 e outros documentos nos quais são pautadas todas as políticas educacionais do país. É neste documento que está previsto, por exemplo, “realizar campanhas e ações educativas para desconstruir os estereótipos relativos às profissionais do sexo” (PNDH 3, Objetivo estratégico III, h).

Se é isso o que as crianças devem aprender na escola e se os pais podem ser presos se não enviarem seus filhos para estas instituições, já aos 4 anos de idade, como recriminar as famílias por não mais se responsabilizarem pela educação de seus filhos?


Inez A. Borges. Doutora em Ciências da Religião, mestre em Educação Cristã e graduada em Psicologia.  É fundadora e presidente da Associação Nacional de Defesa e Apoio aos Pais na Educação dos Filhos (Andapef). Atualmente faz parte do Corpo Docente do Seminário Martin Buccer e do Programa de Mestrado da FCU – Flórida Christian University, como professora convidada. Lecionou na Universidade Presbiteriana Mackenzie durante mais de dez anos. Foi diretora da Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios (Aecep). Atua como Consultora Educacional e preletora em diferentes contextos educacionais.

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