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sábado, 20 abril 2024

Paulo de Sousa Oliveira Junior: educação cristã e gestão

“São sete princípios cristãos que devem ser aplicados na educação: soberania, governo, individualidade, aliança, caráter, semeadura e colheita, e mordomia”

Participante do último Café de Comunhão, Paulo de Sousa Oliveira Junior é pastor da Igreja Cristã da Família, consultor de grandes empresas que querem se reposicionar no mercado e está à frente do Instituto Renovo, uma instituição de valores cristãos cujo objetivo é contribuir no desenvolvimento dos projetos sociais pelo Brasil, ensinando como gerenciar o terceiro setor como um negócio e não apenas como uma organização não governamental (ONG) pura e simplesmente. Em entrevista para a Revista Comunhão, ele fala sobre negócios e a dificuldade de se encontrar mão de obra qualificada no Brasil, cenário que pode ser mudado com a formação de pessoas através da educação por princípios cristãos. Filho de um capixaba, o especialista também aborda o gargalo na infraestrutura, que dificulta o fechamento de negócios no Estado.

O senhor diz que o Brasil pode chegar a ser centro de negócios do mundo. O que fazer para que o país possa chegar lá?
Quando falamos em centro de negócios, temos que entender que tipo de negócios. O Brasil tem uma vocação para várias áreas: de energia, de água, de agronegócios. Em todos, existem um centro de negócios, feiras, exposições e reuniões, mas o que concentra tudo isso é o setor de serviços.
O Brasil só pode se comparar com o mundo como centro de negócios quando ele for um grande centro de serviços. Agora, se pensarmos nas necessidades globais de um centro de negócios, vamos lembrar de cidades como Nova Iorque, Londres, Hong Kong, Frankfurt, Tóquio; todas são centros de serviços, elas proveem serviços. Existe uma definição de centro que chamamos de global, um lugar onde qualquer pessoa, de qualquer país, pode encontrar a contraparte do seu negócio naquela cidade. Londres e Nova Iorque são exemplos clássicos de centros globais. E existem centros regionais, onde qualquer pessoa, de qualquer país, pode fazer negócios naquela cidade que domina aquela região. Por exemplo, Ribeirão Preto é um centro de agronegócio; Goiânia, também de agronegócio; São Paulo tem todo tipo de negócio. Então o Brasil tem a vocação, a real condição de ser um polo regional de negócios latino-americano.
E quando eu me torno um polo regional latino-americano, vou representar a América Latina no mundo e começo a ser global.  Hoje temos 40% da sede das empresas multinacionais da América Latina em São Paulo. Isso significa que o poder de decisão da empresa está em São Paulo.

O senhor, como consultor, tem uma grande experiência na gestão de empresas e ainda trabalha com educação cristã. Como gerenciar bem os negócios, mantendo o equilíbrio e as orientações cristãs?
Em nossa experiência de trabalho e de vida no mercado financeiro, percebemos que hoje em dia, no Brasil e no mundo inteiro, promover desenvolvimento social é desenvolver as pequenas e médias empresas. Elas geram emprego e demandam educação. E é uma grande vantagem para o cristão empreender e não estar de baixo de uma regra que não condiz com o cristianismo, além de contribuir com o país sendo dono de uma pequena ou média empresa. Antigamente, para se abrir uma empresa, era preciso ter capital próprio ou conseguir algum financiamento, e para isso era necessário ter bom relacionamento com o Governo. Os mercados eram limitados e o segredo era a alma do negócio. Agora as coisas mudaram, os mercados estam se abrindo e é preciso aproveitar este bom momento para se investir nas boas ideias. Para isso, hoje existe o investidor-anjo, que consiste em pessoas que têm capital e investem seu dinheiro em pequenas e boas empresas que estão começando, que têm um bom negócio nas mãos. Precisamos incentivar esse tipo de empreendedorismo entre os cristãos, e as igrejas podem ajudar nisso. O cristão precisa aprender a ocupar esse espaço que está se abrindo. O Brasil é a sétima maior economia do mundo, o aumento do consumo é crescente e há o bônus demográfico que temos atualmente. Ou seja, o país tem mais jovens entrando na economia do que idosos se aposentando. A população economicamente ativa está crescendo no Brasil, ao contrário de Europa, Estados Unidos, Japão, China e Rússia.  Mas em 30 anos vamos nos tornar o que esses países são hoje e temos que aproveitar este tempo que temos e qualificar esta geração. E, a única maneira de qualificar é através de educação, e uma educação de liderança. Precisamos educar as pessoas a fazerem suas poupanças e previdências, porque no futuro a Previdência Social cada vez mais não terá como sustentar o número de idosos. E esta nova geração precisa se educar financeiramente para ter uma vida tranquila na velhice, caso contrário, não terá renda e, sem qualificação, será ainda pior.
A China passa por esse tipo de problema. Tem uma população velha e quando o filho chinês casa tem que sustentar uma família de 14 pessoas em média, com os pais, os filhos e até avós, porque não há renda suficiente para todos.

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Quais sãos os maiores problemas da educação no Brasil?
A educação no Brasil melhorou bastante em termos de quantidade dos anos 90 para cá, universalizando a educação fundamental, mas ainda estamos com má qualidade nas escolas. Um jovem de 19, 18 anos, vai para uma faculdade com o objetivo de obter o diploma, mas se esquece de que o empregador quer um bom profissional. Então geramos as faculdades por demanda do aluno, que paga e quer ter diploma, e não para o empregador, que precisa de mão de obra qualificada, de pessoas que possam ser líderes nos seus negócios.
O aluno acha que o diploma é um passaporte mágico, mas eu digo que ele vai passar, pagar e não vai levar, porque quando chega ao mercado a má qualificação faz a diferença.

E qual o papel da Igreja nisso?
A Igreja é o maior RH do mundo e ela está em todo o lugar. Tem filiais em todo o mundo, e por ela existe uma experiência multicultural.
A Igreja tem um papel de formar a mão de obra do século XXI. Foi assim no século XIX, que fez com que Inglaterra e Alemanha crescessem durante a Revolução Industrial junto com as igrejas protestantes.  No entanto, a Igreja não deve ser assistencialista, mas educacional. E as escolas precisam ter uma metodologia de ensino que tenha valores cristãos, incentivando as potencialidades e a capacidade de liderança. Infelizmente as escolas brasileiras não estão preocupadas com a excelência acadêmica, mas com o número de alunos que vão passar em vestibular. Também não estão preocupadas com o caráter e a visão de liderança, que é a base da educação cristã. Só que o que vemos é o sonho cristão de um emprego que dê muito e cobre pouco, justificando que é para ter tempo livre para Deus. Acabamos por tornar o serviço público um cabide de emprego. Esse pensamento precisa mudar.

O que fazer neste momento de estagnação econômica, como reverter esse quadro? O que precisa ser feito pelos brasileiros e pelo Governo?
Aqui no Brasil tudo depende do Governo. Porque é o Governo que cria o ambiente macroeconômico e institucional. Infraestrutura é Governo, pode até não ser, mas é. Precisamos ter uma política de longo prazo, uma confiança no Governo que vai gerar otimismo para as pessoas gastarem e investirem aqui. O problema número um é o Governo entender a linguagem de negócios e não ficar fazendo as coisas para estatizar, dizendo para as pessoas o que têm que fazer, dizendo para as empresas qual é o lucro que devem ter.  Eu vou ganhar correndo risco. Se algo der errado, eu vou ter que perder, mas se der certo, o lucro é meu. O Governo não está aqui para tirar do rico e investir nos pobres, o Governo está aqui para fazer com que ricos e pobres cresçam e tenham qualidade de vida juntos.

A sua consultoria em reposicionamento estratégico de empresas de grande porte é feita de que forma?
As empresas brasileiras de informática, construtoras, do mercado financeiro, estão crescendo numa estatura maior do que imaginava. Estão virando multinacionais, e elas não se preocupavam com isso, mas estão precisando mudar. Entre as multilatinas que estão em mais de três países, as brasileiras são o maior número. O que fazemos é tentar buscar o reposicionamento dessas empresas no mercado, focando na maneira de pensar, que precisa ser com planejamento e pensamento a longo prazo, além das mudanças culturais que precisam ser implementadas por conta da ligação com o mercado externo.

O que é o Instituto Renovo? Como surgiu essa ideia?
Como eu trabalhei no mercado de capitais, sei que a maneira mais rápida de fazer com que um negócio cresça é ter alguém que invista dinheiro nele. O investidor-anjo é aquele que aplica dinheiro em boas ideias, investe numa empresa para que ela possa se especializar e fazer acontecer seu negócio. Ou seja, colocar dinheiro bom em um negócio bom. Foi assim com o Facebook e com o WhatsApp, por exemplo. O acionista compra uma participação na empresa, através da Bolsa. Quando a empresa está começando e ainda não tem capital aberto, surge o investidor-anjo que se torna sócio e cresce junto com a empresa, trazendo assessoria, profissionalizando, para fazer o negócio crescer. Quando cresce, coloca para vender na Bolsa e consegue o retorno financeiro do que investiu. Então, pensamos em fazer isso de forma social. Pessoas voluntárias, com seu conhecimento específico em cada área, pegam empresas do terceiro setor, e aplicamos consultoria nessas ONGs com um guarda-chuva de projetos. São várias estruturas apoiando essa instituição até que ela possa andar sozinha, com boas ideias e um belo trabalho.

Qual o objetivo das ações do instituto?
Além de estarmos contribuindo com esses projetos, o nosso objetivo é transformar a sociedade através de valores cristãos universais. Se tiver esses valores saudáveis cristãos, a tendência é o negócio caminhar com resultados satisfatórios.

Que tipos de valores?
No ambiente de negócio, integridade, honestidade, visão de longo prazo, perseverança, excelência são fundamentais para se ter resultado, e esses são os valores que o cristianismo prega. Atualmente o que mais temos são pessoas pensando “para que ser honesto, se mentindo é possível conseguir as coisas com mais facilidade?” E antigamente se punia mais quando as pessoas faziam as coisas erradas. Hoje isso mudou, existe uma certeza de impunidade que faz com que as pessoas deixem esses valores de lado. O nosso objetivo é resgatar isso no ser humano através de vários projetos.

A Escola Renovo também é uma ONG ou é particular? Como funciona?
A escola é particular e tem bolsas. O Centro Renovo de Educação (CRE) é uma escola modelo que funciona em São Paulo, através da educação por princípios, baseada em princípios cristãos e de liderança. A Igreja brasileira por muito tempo disse aos jovens que não estudassem porque Jesus está voltando, então para que estudar? Muitos têm medo de que os filhos cheguem à universidade e abandonem a Igreja, que os filhos tenham conhecimento e tenham pensamentos moderninhos e não acompanhem a fé dos pais.  Existe uma posição cristã que precisa ser afirmada e precisamos ensinar aos nossos filhos para manterem essa posição e não fugirem do conhecimento, porque é isso que vai dar a ele o poder de pensar. Fazemos um trabalho em que fornecemos toda a expertise da escola e como planejar as aulas através de kits para igrejas ou empreendedores. É possível montar um CRE em qualquer lugar do país, bem como adequar uma escola que já exista aos princípios e valores cristãos, e até montar uma escola do zero com esses valores, sem precisar usar o nome do CRE. Através do Sistema Renovo de Ensino (SiRE), é possível comprar a marca CRE ou o treinamento para montar a escola, onde treinamos professores, orientamos toda a parte jurídica, como se relacionar com a delegacia de ensino. O custo para o licenciamento com o apoio pedagógico infantil varia entre R$ 6 mil e R$ 300 mil.

O senhor fala em sua palestra sobre educação no Brasil e no mundo e os desafios para a vida cristã. Como deve ser a educação para quem quer ensinar os filhos nos princípios cristãos?
São sete princípios cristãos que devem ser aplicados na educação: soberania, governo, individualidade, aliança, caráter, semeadura e colheita, e mordomia.
É introduzir nos estudos de Geografia, História, Matemática, que existe um Deus e que Ele é soberano, que estou debaixo da Sua autoridade e do Seu governo, e que Ele nomeou seus pais e seus professores para serem autoridade sobre você. Respeitar o Governo não é ser vendido, você mantém sua individualidade, sua condição de decisão, você honra autoridade, mas tem a decisão, mas se disser “ninguém manda em mim”, você não tem aliança.
Você tem que ser respeitado para que haja uma aliança entre todos esses e que, assim, vamos produzir um grupo que empreende junto e que tem um caráter para semear e colher os bons frutos.  Que não sou consumista, porque sou empreendedor e que empreender é investir. Adiar o consumo endividado de hoje para um consumo mais próspero no futuro. Penso ainda que essa riqueza não é só minha e que preciso reter para deixar um legado para os meus filhos e o mundo. Isto é mordomia. Mordomia é pensar que o que recebi não é meu, eu recebi a terra de Deus e vou entregar para a próxima geração. Essa riqueza que eu tenho que não é minha.

Como formar líderes?
Existe uma discussão grande sobre se o líder é formado ou nasce líder. Eu acho que tem vários ingredientes. Um deles é a formação e outros ter qualidades intrínsecas. Ser líder não é apenas ser o presidente ou dono de uma empresa, é saber influenciar pessoas. Posso ser gerente, colaborar, aprender a influenciar as pessoas com identidade fortalecida de não ser levado por qualquer onda. Tenho que saber influenciar pessoas de forma inspiradora, fazer com que as pessoas queiram ser da mesma forma, com qualidade e valores cristãos. Essa formação é feita no caráter.  É preciso fazer as pessoas entenderem o que é certo e errado, e o bom resultado será parte do esforço dela. A segunda camada é saber que sem competência você não vai influenciar ninguém. É preciso ter conhecimento. Só vou ser bom na minha vocação se eu estiver qualificado. As pessoas fazem teste vocacional, mas não sabem que vocação deriva do latim “vocare”, que quer dizer chamado. O chamado é ouvir uma voz que está dentro de você, do Deus que criou sua vida. Você não vai descobrir sua vocação apenas olhando para dentro, assim só irá descobrir suas qualidades e partir para algo baseado nisso. É muito bom quando você descobre para que foi criado e o porquê das qualidades que Deus colocou em você e assim ser competente. Ouvir Deus entendendo o propósito da minha criação é o que dá um sentido à vida.

A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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