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quinta-feira, 28 março 2024

Iná Sobolewski: “cada bebezinho é um sinal do Senhor”

Iná Sobolewski: "cada bebezinho é um sinal do Senhor”
A preocupação com o bem-estar do próximo sempre marcou a trajetória da missionária Iná Sobolewski. Nascida em São Paulo e morando há mais de 20 anos em Chicago, nos Estados Unidos, ela trouxe para o seu país de origem o ministério Brazil4Life, que se dedica a ajudar mulheres fragilizadas por uma gravidez indesejada. Por meio de aconselhamentos, a iniciativa já salvou milhares de crianças.


Ainda jovem, a senhora teve em casa uma experiência ímpar, na qual a fé em Cristo e o poder da oração foram importantes durante o nascimento de seu irmão. Poderia falar sobre como o episódio mudou a sua vida?
Minha mãe engravidou de mim depois de um mês de casada. Então, 10 meses após o casamento dos meus pais, eu nasci. Mais outros 11 meses se passaram, e ganhei um irmão. E então, mais seis meses, e minha mãe engravidou novamente. Mas meu pai perdeu o emprego e ficou bastante tempo procurando uma outra oportunidade. Quando ela estava no quarto mês de gravidez, eles chegaram à conclusão que a única saída seria fazer o aborto. Mesmo com muita dor no coração – ela era católica na época – minha mãe foi até uma dessas casas onde parteiras fazem o processo. Depois de tudo feito, retornou para casa e disse que estava sagrando muito, se sentindo mal. Deitou no sofá e teve uma visão de uma mulher, vestida de enfermeira, caminhando com um passarinho na mão. A mulher então disse: “Você quase matou o meu passarinho”. Naquele momento, ela sabia que o bebê não havia morrido. Ela então orou pelo perdão de Deus e pediu uma segunda chance. Pela misericórdia dEle, um mês depois ela sentiu o bebê mexendo. Minha mãe me contou isso quando eu tinha 12 anos e afirmou que mesmo com a vida do meu irmão salva, ela se sentia culpada, com vergonha. Pediu para que nunca revelasse aquilo para ele enquanto ela estivesse viva. Muito tempo depois, quando minha mãe faleceu, revelei o fato para meu irmão, que disse: “Se a nossa mãe tivesse me contado, beijaria os pés dela”. Mas desde os 12 anos, o Senhor colocou no meu coração a missão de ajudar mulheres que estão enfrentando a situação de uma gravidez indesejada.

Como surgiu o Brazil4Life?
Fui criada na Escola Dominical da Assembleia de Deus. Perguntava a Deus: “Qual é o plano para a minha vida?”. Minha mãe sempre falava que todos precisamos saber o que Deus quer da gente. Não se pode chegar diante dEle de mãos vazias, é preciso apresentar alguma coisa que você fez na Terra. E fui crescendo, sempre perguntando ao Senhor como faria para criar o ministério. No Brasil não encontrei quem fizesse um trabalho de auxílio às mulheres que estão com uma gravidez indesejada. O tempo passou, e então fui fazer um curso nos Estados Unidos. Conheci meu marido, nos casamos e assim que me mudei de vez para lá, fiquei sabendo de um evento chamado “Caminhada pela Vida” (Ride for Life). Aquilo me tocou, e desde 1993 me envolvi.  Caminhamos na chuva,  conhecemos gente, comecei a dar aconselhamento nos núcleos. Meu filhos nasceram, e eu continuei atuando, atendendo a telefonemas no meio da noite, na minha casa. Tem muita mulher que pensa em fazer aborto e não tem com quem falar. Temos um número lá que ficava nas “páginas amarelas”, para que elas pudessem entrar em contato. E são muitas vezes meninas, que não querem que ninguém escute. Então, eu prestava auxílio de madrugada. É muito importante ouvir o que elas querem dizer, as angústias. Às vezes ficava três ou quatro horas com uma mulher, dando aconselhamento por telefone. Em 1995, o Senhor começou a falar comigo sobre trazer o trabalho para o Brasil. Três anos depois, passei a procurar ajuda para abrir o primeiro núcleo no meu país. Finalmente, em maio de 2000, a organização Life de Detroit veio a São Paulo dar um curso. E foi assim que tudo começou.

Você tem o apoio de sua família nesse ministério?
Total. Minha filha de 15 anos, por exemplo, está me acompanhando e palestrou recentemente aqui em Vitória sobre abstinência. A mais velha já participou de caminhadas. Meu marido, já falecido, também atuava no ministério e me apoiava sempre.

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Quantos são os núcleos criados com o respaldo do Brazil4Life?
Nós abrimos núcleos em vários estados. Começamos o núcleo em Perdizes (SP), e de lá para cá, já são 11, com mais de 10 mil mulheres atendidas. E cada um tem as suas regras, mas é exigido que todos tenham o atendimento 24 horas. Nos Estados Unidos já são 3 mil núcleos, conseguimos superar o número de clínicas de aborto, pela misericórdia de Deus.  Fazemos campanha de “40 Dias Pela Vida”, em frente à clinica, orando e jejuando. Somente no ano passado, fechamos 85 clínicas, e este ano, já estamos em 68.

O Espírito Santo poderá receber em breve o seu núcleo?
Sim! Vim a Vitória ministrar um curso, pensando na abertura de um núcleo no Espírito Santo, em nome de Jesus. Já temos o local e o grupo de voluntários, que serão treinados, em parceria com a Igreja Batista Filadélfia. A intenção é reunir a equipe e fazer uma estrutura inicial. De início, teremos uma casa trabalhando oito horas no atendimento às mulheres. No futuro, com mais condições, o desejo é ampliar o atendimento para 24 horas por dia. Entendemos que a Igreja, de forma geral, é a única instituição com respaldo para mudar a sociedade. É a partir daí que pretendemos dar esse passo.

Quais são os sentimentos notados nas mulheres que procuram ajuda? E como isso é trabalhado nos núcleos?
Estamos em uma batalha, e é muito importante conhecer as armas do inimigo. Sabemos como Satanás trabalha. Primeiro, ele convence a pessoa a errar, para depois acusá-la pelo resto da vida. Então, nós trabalhamos com as pessoas acusadas. As que já fizeram aborto e estão deprimidas, tomando remédio. Nos Estados Unidos, aborto é a segunda razão de suicídio de mulheres. A pessoa faz o aborto e depois Satanás fica acusando: “Você o matou! O bebê hoje estaria com 1, 2, 10 anos!” E se não encontra apoio, a mulher se mata. Então, nós damos assistência. Contamos com profissionais, psicólogos, pessoas que prestam trabalho voluntário e são capacitadas por Deus. Essas pessoas ouvem, aconselham. Quando a mulher vem ao núcleo, grávida, nós perguntamos: “Se você ficar com o bebê, quem a ajudará? Tem alguém que possa lhe dar suporte?” E aí vamos procurar, fazemos tudo para que a pessoa veja que ela não está tão sozinha como imaginou no início. Existe solução, sempre. Faço esse trabalho há 21 anos, já aconselhei milhares de mulheres. E de todas, nunca conheci alguma que tenha se arrependido de não ter feito o aborto. Mas das que fizeram, não conheço uma que não tenha se arrependido. Logo, é extremamente importante saber as preocupações e passar que existem alternativas.

Como tocam nos temas ligados à sexualidade?
Tudo tem hora, e assim uma gravidez não se torna indesejada. É preciso cortar o mal pela raiz. Falamos com adolescentes, por exemplo, e passamos que uma mulher não precisa se entregar para um homem para ter valor. Imagine o impacto ao convencer uma jovem que o correto é esperar até o casamento para ter relações sexuais e filhos. Eliminamos tudo o que leva ao aborto, mais tarde. Entregamos sempre a mensagem: “Você tem valor, não precisa se expor, engravidar, se arriscar a uma doença, só para ser amada por alguém”. Então, temos a parte de prevenção, para atuar com jovens, e a de aconselhamento, para a mulher que já engravidou e precisa de ajuda para permanecer com o bebê. Conversamos normalmente sobre sexualidade e percebemos que o problema, muitas vezes, é que a mulher não tem quem a ouça.É importante que a mulher se previna de uma gravidez indesejada, para que não aconteça de novo. Temos palestras, aulas e cursos sobre o tema. 

Além de Brasil e Estados Unidos, há a vontade de levar o ministério para outros países?
Minha intenção é ir à Índia e a alguns outros países. Já estive na China e vi como a situação é crítica. O Governo impõe o aborto. Agora é que falaram que haverá mudança nisso. Dizem que até 2030 faltará mão de obra na China, com o problema envolvendo o nascimento de meninas. Na Índia a mesma coisa. De qualquer forma, é algo muito triste, e estamos orando. Queremos abrir um núcleo na Índia, em nome de Jesus.

Como foi a história por trás do livro “Uma Jornada de Ana”, que conta com você como coautora?
Eu escrevi esse livro em inglês, com toda a história da minha mãe, Ana, e da minha família. Todos nós passamos por dificuldades, e Deus pega aquilo que nos levou ao fundo do poço e transformou para a glória dEle. Conto tudo: como meus pais se encontraram, o momento em que se pensou no aborto, como minha mãe se converteu a Jesus. Tive a ajuda de um editor americano para a publicação, e como nós trabalhamos com voluntariado, eu passei para ele toda a história e fiquei como coautora; assim não foi preciso pagar.

Quais os grandes desafios da Brazil4Life?
Quando se fala em desafio, o maior é sobre voluntariado. Infelizmente, vivemos em um mundo de interesses, as pessoas sempre querem algo em troca. Os apóstolos andaram com Cristo sem nunca pedir nada em troca. Para eles, bastava só ouvir e ajudar. E hoje em dia, temos poucas pessoas assim. As pessoas não dedicam tempo à obra de Deus como antigamente. E nós precisamos de voluntários dedicados. Precisamos, por exemplo, de gente para atender ao telefone. E a pessoa não precisa ficar na clínica, pode transferir as chamadas para a casa dela. Eu atendia às ligações na minha casa, à noite. É só uma questão de saber ouvir, basicamente. Mas está complicado de encontrar pessoas que façam. Muita gente se disponibiliza no início, mas então deixa de dar prioridade.  Também precisamos muito de grupos de oração. Nos Estados Unidos, infelizmente, quem mais nos apoia é a Igreja Católica. Os católicos são extremamente dedicados. São pessoas muito ocupadas, mas que mesmo assim dedicam dois ou três dias no mês para o trabalho voluntário. Ficam eles e um padre com terços nas mãos, e eu e uma irmã, evangélicas, orando para Jesus. É tudo questão de dedicação. E uma coisa eu digo: é um trabalho recompensador. O tempo que nós temos foi um presente de Deus. É mais que justo dedicar a Ele um pouco desse tempo.

Qual é o balanço que faz do seu ministério?
Olha, por ano, no mundo, são feitos cerca de 50 milhões de abortos. Por segundo, são 3,5. E nós tivemos milhares de mulheres aconselhadas, e seus bebês foram salvos. Ficamos felizes por termos alcançado essas, mas todas as vezes que olho as estatísticas, falo: “Meu Deus, eu poderia fazer mais”. Tem muita gente morrendo, seres humanos sendo abortados. Então agradeço e dou glória a Deus pela ajuda que conseguimos de pessoas e igrejas. Certa vez, parei em uma loja para comprar um produto, e um homem disse que tinha visto o adesivo contra aborto no meu carro. Ele me seguiu para agradecer.  A mãe havia engravidado aos 16 anos e pensava em abortar, até que falou com uma pessoa que fazia o trabalho de aconselhamento, exatamente como o que eu faço. Ele disse que a mãe desistiu de abortar, levou a gravidez adiante e o entregou a uma família maravilhosa, que o criou com todo amor. Hoje ele é um homem bem-sucedido e feliz. Eu vejo isso como um anjo que Deus usa, para mostrar que estou fazendo o que é certo. É uma batalha espiritual difícil. O inimigo quer destruir vidas, e nós lutamos contra isso. Mas a recompensa de Deus é muito grande, e Ele impede que qualquer mal nos alcance. Cada bebezinho que eu seguro é uma bênção, um sinal do Senhor para mim.

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