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quarta-feira, 24 abril 2024

Cobrar ou não cobrar para cantar e pregar, eis a questão

Cada ministério tem seus custos, mas tem gente exagerando.

Há alguns meses, um irmão manifestou interesse em me levar para cantar e pregar em sua igreja. Quando ele compartilhou a ideia com o seu pastor, recebeu um recado, no mínimo, diferente, para me passar: quanto eu poderia “pagar à sua igreja” para cantar e pregar. Após quase 30 anos de ministério, dividido entre ações locais e itinerantes, confesso que tal proposta me surpreendeu e me soou bastante estranha. Logo, logo explico, mas antes, entenda como funciona a negociação entre artistas e empresas de comunicação.

Os músicos e cantores que vemos na TV ou ouvimos no rádio não chegaram ali exatamente por mérito ou porque são amigos dos apresentadores. Raras são as exceções em que isso acontece. Em geral, os artistas “pagam” para estar ali ou fazem algum tipo de permuta. Rádios e TVs são empresas (cristãs ou não cristãs) que cobram pela difusão de informações e conteúdos musicais. Quanto mais audiência essas empresas têm, mais caro cobram pela exibição do artista. Não há nada de errado nisso, desde que o preço seja justo. Agora, os problemas mais comuns nesse meio são os “jabás” (propinas), e as grandes somas de dinheiro que elevam ao topo das paradas até quem não merecia sequer ser chamado de artista. O “negócio” passa a ser mais importante que a arte. Quero crer que foi esse conhecimento que inspirou o supramencionado pastor do meu amigo.

Apesar de entender que exista, nas igrejas, um necessário e óbvio viés empresarial, haja vista as suas movimentações financeiras, creio que o princípio bíblico de 1Timóteo 5.18 nunca foi revogado: “o obreiro é digno do seu salário” – em algumas versões, “o trabalhador é digno do seu salário”. Ao contrário do que acontece nas empresas de comunicação, no ambiente da Igreja, os obreiros, pastores e cantores é que recebem ofertas por seus trabalhos, e não o contrário. Se o obreiro itinerante tivesse que pagar para pregar ou cantar, isso sim, se caracterizaria um “negócio”. Imagine o imenso prejuízo para a Igreja, já que nem todo obreiro tem dinheiro para investir. Muitos ministérios simplesmente não existiriam.

As igrejas, como as vemos hoje, não nasceram e cresceram apenas com o trabalho de seus membros e líderes locais assalariados. A igreja brasileira, por exemplo, cresceu a uma proporção de quase 1 milhão de membros por ano, nos últimos 40 anos, e isso se deveu, em grande parte, ao trabalho realizado pelos obreiros itinerantes. Não há como negar que milhares de pastores e de cantores que gravaram músicas, escreveram livros e saíram pelo país afora cantando e pregando, também foram os responsáveis diretos pelo crescimento e desenvolvimento da Igreja. Portanto, sendo eles obreiros, tal qual os obreiros locais, então são estes também dignos de remuneração. Não precisam pagar para exercerem seus ministérios. Pelo contrário, devem receber!

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A igreja brasileira cresceu a uma proporção de quase 1 milhão de membros por ano, nos últimos 40 anos, e isso se deveu, em grande parte, ao trabalho realizado pelos obreiros itinerantes

 

Obviamente, que sou contra quem cobra ofertas/cachês exorbitantes. Cada ministério tem seus custos, mas tem gente exagerando. Por outro lado, também sou contra quem sacrifica o rebanho, pagando fortunas que são exigidas por alguns artistas. Discordo, ainda, de líderes que se aproveitam de certos ministérios itinerantes para se autopromoverem. Por fim, sou contra quem afirma que os obreiros itinerantes visam apenas extorquir as igrejas.

Portanto, foi por isso que a proposta de “pagar algo à igreja” me soou tão estranha, e é por essas e algumas outras razões que acho injusto certos líderes criticarem tão pesadamente pregadores e cantores itinerantes que tanto têm contribuído para a propagação do Evangelho e o crescimento da Igreja. Será que não imaginam que algum dia eles mesmos poderão se tornar pregadores itinerantes? Se isso acontecer, será que permanecerão com o mesmo posicionamento? A propósito, o líder que me fez a proposta de pagar à igreja o tal “jabá gospel” é também um pregador itinerante. Tente entender!


Pr. Atilano Muradas

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