Os clubes que mantêm jovens atletas em treinamento devem ter uma estrutura mínima que envolva, principalmente, alimentação adequada e esquema de socorro e transporte em casos de emergência. O alerta foi feito pelo deputado Luciano Rezende (PPS), em discurso no Plenário Dirceu Cardoso da Assembleia Legislativa (Ales).
Médico especializado em Medicina Esportiva, o deputado baseou sua fala em tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, na tarde do dia 9 de fevereiro: Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, participava de uma avaliação técnica no Centro de treinamento do Clube de Regatas Vasco da Gama, teve um mal súbito e morreu.
O jovem atleta chegou a ser levado para uma Unidade de Pronto Atendimento, mas não resistiu. “Esse menino estava sem o café da manhã e não havia jantado no dia anterior. Imaginamos que essa criança foi para o Centro de Treinamento pela vontade de fazer o teste e vencer. Resistiu quase 24 horas sem alimentação e foi para o campo de futebol”, disse o deputado. Luciano Rezende prosseguiu em sua avaliação: a temperatura nesta época do ano é altíssima. Esse fator, mais um longo período de jejum e a ausência de uma avaliação médica mais profunda antes do treinamento, podem ter criado uma situação que, momentaneamente, se constituiu em alto risco. “Todos sabem que o sonho da maior parte dos garotos pobres do País é ser jogador de futebol. O Brasil é o País mais identificado com o futebol no mundo, o maior campeão de todos os tempos. Sediará uma Copa do Mundo em 2014. Mais do que nunca, as crianças brasileiras se espelham nos ídolos e querem ser jogador de futebol; se possível, um dia integrarem a Seleção Brasileira, a honra máxima de um jogador.
Essas crianças precisam receber condições para tentar a carreira de jogador”, acrescentou Rezende.

Estrutura
O parlamentar recordou que, quando Secretário de Estado de Esportes e Lazer, trabalhou para que os clubes tivessem uma estrutura mínima de segurança, de saúde para os seus atletas: “Mesmo que não pudessem ter uma estrutura material, era preciso que tivessem uma rota rápida de transporte, minimamente segura e aprovada pelos órgãos médicos, para que soubessem o que fazer numa emergência”.
Ponderou que alguns fatores aumentam o risco de acidentes e é preciso observá-los, com atenção especial para uma alimentação adequada, a intensidade dos exercícios e a ingestão de medicamentos, inclusive os que são aparentemente inofensivos. Em crianças, esses fatores devem ser considerados, pois as consequências podem ser mais graves.
Luciano Rezende alertou que crianças desmaiam nas escolas por falta de alimentação adequada, ou jejum prolongado: “Imaginem se essas crianças forem submetidas a um esforço físico”. O deputado acredita que os pequenos não podem ser submetidos, em teste inicial, a um esforço desconhecido, alertando os clubes e preparadores físicos que, se essa criança tiver algum fator de risco, pode ocorrer um mal súbito e até a morte.
“As pessoas estão sempre usando uma medicaçãozinha, um termo diminutivo para uma situação em que o uso dessas substâncias com o exercício físico pode ser um grande risco”, alertou, acrescentando que diuréticos desidratam, diminuem o peso por perda de água e não pelo emagrecimento. “Essas situações de emagrecimento, de jejum, de doenças cardíacas silenciosas, com alta intensidade de exercício físico, são sempre sinal de problema. Pessoas que realizam atividade física têm que se preocupar”.
Essa cautela pode evitar que tragédias como a do garoto Wendel aconteçam, garantiu Luciano. No caso, interrompeu uma carreira de atleta, “num clube de futebol de primeira grandeza como o Vasco da Gama”. No entender do deputado poderia ter acontecido em qualquer clube do Brasil, um risco que pode ser evitado com prevenção.
“Passei minha adolescência embalado no sonho de participar de uma olimpíada e cheguei muito perto como atleta, pois fui a um campeonato mundial universitário, mas depois participei de uma olimpíada como médico. Foi uma realização na minha vida. Esses sonhos precisam de uma estrutura mínima nos clubes e nos locais onde as práticas desportivas são desenvolvidas”, finalizou.