23.3 C
Vitória
sábado, 20 abril 2024

Cláudio Rodrigues

Diretor executivo da BV Films, uma das maiores distribuidoras de filmes evangélicos do País, Cláudio Rodrigues é pioneiro em fazer projeção de filmes cristãos em praças públicas, igrejas e cinemas desativados. Seu envolvimento com trabalhos voltados para a juventude vem desde que era adolescente. Durante anos, foi líder de mocidade e mantém até hoje forte ligação com os ministérios jovem e de comunicação de sua igreja, a Primeira Igreja Batista de Trindade, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. E esta afinidade o levou a promover projetos voltados para este público, a começar por “Para Salvar Uma Vida”, filme que aborda diversas situações vividas no cotidiano dos jovens, como sexualidade, gravidez, aborto, bullying, drogas, alcoolismo e suicídio. Na entrevista a seguir, exclusiva para Comunhão, ele fala sobre a importância da igreja no trabalho de restauração de jovens no BV Cine, o projeto missionário que utiliza o recurso do cinema como ferramenta evangelística no Brasil e na América Latina.

O que é o projeto “Para Salvar uma Vida”?
“Para Salvar uma Vida” fala sobre 19 pontos de conflitos: drogas, bullying, sexo, gravidez, educação e religião, entre outros. É um filme que visa resgatar jovens e adolescentes destes e de diversos outros tipos de conflitos. Pretende mostrar algo novo e fresco para o jovem, ou seja, uma alternativa para ele. Porque o jovem sempre procura na igreja uma religiosidade e o filme trata disso, fala de buscar mais a Deus nestas áreas e mostra que deve existir uma responsabilidade, um compromisso desse jovem não só com a igreja, mas com Deus também. O projeto em si é um despertamento para que o jovem procure ajuda – e eles precisam muito da ajuda dos líderes. O filme, em si, não tem o poder de transformação da pessoa, mas pode sensibilizar e dar oportunidade à igreja de trabalhar essas questões.

Esse objetivo tem sido alcançado?
Sim. Hoje mesmo eu recebi um e-mail de uma menina dizendo que estava prestes a cometer suicídio. Ele havia tentado se matar por três vezes e simplesmente não conseguiu mais realizar o ato depois de assistir “Para salvar uma vida”. Então, o filme veio trazer uma reposta para ela. Diariamente, recebo e-mails de muitas pessoas que têm mudado de postura após serem confrontadas com a forte mensagem do filme. Para jovens e adolescentes, ele trata das questões de forma direta; não é e nem tem a possibilidade de ser um entretenimento.

A fé é apresentada como o único caminho para a solução de dilemas e conflitos dos adolescentes e jovens?
Tem uma cena interessante no filme, quando um jovem comenta com um pastor: “eu não sou um religioso” e o pastor responde: “eu também não sou”. Não há uma alusão de que a pessoa seja obrigada a se converter e ir a uma igreja no filme e sim é enfatizado a importância de se ter um compromisso com Deus. Esse é o principal foco do filme e ele é bem claro em mostrar que os jovens mudam de geração em geração, de acordo com a época. Ah, mas eu havia dito que o filme não é religioso… a questão é que a igreja é que vai desenvolver a fé desse jovem, com auxílio da literatura que acompanha o projeto. Porque é a igreja que vai trabalhar com ele os seus conflitos. Aí, ele assume primeiro um compromisso com a igreja, e depois com Deus, porque é a igreja que vai ensinar sobre a fé, vai apontar qual é o caminho e vai fazer todo tipo de trabalho espiritual com o jovem, seja trabalho de acompanhamento ou devocional.

- Continua após a publicidade -

Você sempre esteve ligado ao ministério jovem. Em seu trabalho, você tem visto uma boa quantidade de adolescentes lidando com os assuntos abordados no filme?
Sim. Por isso vejo a necessidade de eles terem uma ferramenta para trabalhar determinados assuntos, porque o que vemos na maioria das igrejas é que os trabalhos voltados para o jovem são os cultos com muito louvor, adoração e pregação, mas às vezes isso não basta para ele o que ele está passando. E o filme faz com que ele seja ouvido. Em determinados momentos, o filme traz a seguinte mensagem: “Algumas pessoas querem apenas ser ouvidas”. Então, funciona como o divã de um analista. O filme tem inspirado pessoas a mandar e-mails e contarem sobre suas vidas, abrindo-se conosco e testemunhando, e não foi esse o nosso propósito inicial. Então, colocamos no site do projeto um link de ajuda, pensando naquelas pessoas que têm o desejo de se suicidar, ou que estejam passando por algum problema. E percebemos o quanto essas situações são comuns no dia a dia das pessoas. Eu presenciei e trabalhei com muitos jovens com esses tipos de conflitos e há muita depressão. Por incrível que pareça, existem muitos adolescentes com depressão.

Qual a proposta evangelística do projeto ‘Para salvar uma vida”?
Acima de tudo, é resgatar vidas. Saber conhecer, identificar o problema e resgatar os jovens, seja qual for o problema que eles estejam vivendo. E as reações dos jovens têm sido bem claras e contundentes, porque se eu não tiver, de alguma forma, um interesse genuíno pelo problema dele, eu não consigo ter uma relação definida das necessidades deles. E são vários os tipos de reações deles. Alguns ligam alegres e dizem que foram tocados, que é muito bom o filme. Já outros expressam sua revolta porque o filme veio coincidir com o problema deles, algo do tipo: “eu estou passando por esse problema e eu preciso de sua ajuda”.

Dos 19 pontos de conflito do filme, por quais os jovens mais se sentem confrontados?
Para minha grande surpresa, foi o suicídio. Quando contextualizamos as pesquisas, descobrimos que há um alto índice de suicídio entre jovens e adolescentes. E os e-mails que recebemos comprovam essa constatação, com depoimentos de quem tinha tentado cortar os pulsos. E a gente tenta entender essa atitude, sabendo que há um lado espiritual. Depois, vem a identificação com as drogas e, em seguida, as questões que envolvem o sexo. Na adolescência, começam a sentir o desejo de estarem um com o outro e não pensam nas conseqüências, que podem vir com uma gravidez ou uma doença. E a situação piora se o jovem não tiver uma família bem estruturada. É o que o filme mostra: quando o personagem recebe a notícia da gravidez da menina, ele não tinha uma família estruturada, seus pais eram separados e não recebeu apoio deles. Ele foi rejeitado pelo pai, que jogou a bola para a mãe, e pôde encontrar um refúgio, na igreja. Nesses três pontos, o conflito foi tratado na igreja, não com religiosidade, mas com diálogo e acompanhamento.

É aí que entra o papel da igreja no projeto BV Cine?
Sim. O papel da igreja, em primeiro lugar, é ter a coragem de modificar seu ambiente de igreja e passar a ser um cinema. Esse é o desafio inicial que a igreja deve superar em função do projeto. E, nessa mudança, vão sentir o resultado, como tantas igrejas vêm fazendo, na transformação dos jovens. Após a exibição do filme, a igreja tem como desafio levar esse projeto para as escolas. Tanto na projeção na igreja como na escola, há uma simples pergunta que tem que ser feita após a sessão: “Com qual personagem do filme você mais se identificou?”. O jovem pode responder: “Ah, eu me identifiquei com o Roger”. No filme, o Roger praticou suicídio. Aí, o líder, o pastor que estiver trabalhando nesse projeto no momento, deve estar atento, porque esse rapaz pode estar no mesmo caminho. Este é um desafio para a igreja, que deve tratar os pontos de conflito individualmente, passo a passo, com acompanhamento estreito. No kit que acompanha o filme, vem um material de apoio para a igreja usar e ajudar o jovem a ter um estreitamento da proximidade espiritual com Deus e devocionais que o ajudam a refletir em Deus e a sair dos problemas, com apoio na leitura da Palavra.

A maioria dos filmes voltados para adolescentes contém ação, comédia ou terror, ou são sexualmente instigantes. Como está sendo a reação dos adolescentes, já que o filme é um drama que aborda temas que propõem gerar uma reflexão social?
A reflexão entre eles é surpreendente, porque as questões tocam muito no seu aspecto emocional. Eu ouvi um testemunho de uma senhora no Recife que passou o filme quatro vezes para quatro adolescentes que estavam precisando de ajuda e ela disse que cada um reagiu de uma maneira. Outro exemplo que tenho é de um jovem homossexual que viu o filme e foi despertado a fazer mudanças em seu caráter, apesar de o filme não tratar diretamente sobre esse assunto. Depois de sair da sessão, os jovens pensam: “Eu preciso mudar meu estilo de vida e não posso continuar assim”. A repercussão foi além do que nós imaginávamos. Pensamos que haveria algum jovem se convertendo, sim, mas a gente nunca consegue mensurar o impacto do projeto nas pessoas. Eu não conheço um jovem que tenha visto o filme e não tenha sido confrontado com seus dilemas e sentido uma necessidade de mudança.

Tratando de temas bem atuais em debate no Brasil, como bullying e gravidez na adolescência, existe uma identificação imediata do público aqui?
O que acontece aqui é que a cultura brasileira não é muito forte na questão da comunicação entre pais e filhos. Existe vergonha dos filhos em se abrirem com os pais e dos pais com os filhos, e, na igreja, com o pastor. Então, o filme vem propor que as pessoas modifiquem isso, que sejam mais abertas e francas, e fazer com que o jovem desperte nessa área é uma das funções do filme. Quando estávamos analisando o projeto com nossa equipe, procuramos pesquisar e percebemos que o problema do bullying perdura ainda, fato para o qual várias mídias têm dado destaque. Nesse, como em vários outros pontos, percebemos que haveria identificação com a realidade daqui.

E como é fazer missões utilizando o recurso do cinema?
Excelente. As respostas são ótimas. Todos nós sabemos que há várias formas de evangelizar, mas a evangelização por meio de filmes traz uma resposta totalmente diferente, pois a pessoa se transporta para a história e se identifica com os personagens. Eu recebo muitos e-mails de jovens e quase todos começam assim: “Assistindo ao filme…”. Então, toca na vida e na ferida deles. Em “Para Salvar uma Vida”, temas como bullyng, drogas, divórcio de pai e mãe, aborto e sexo na juventude são tratados diretamente. Por isso, o filme tem esse poder de fazer rir, chorar, enfim, tem toda uma reação emocional que torna especial a hora de fazer o apelo e traz um resultado que é fantástico.

Na sua opinião, a igreja brasileira está preparada para lidar com adolescentes e seu conflitos ?
Não está e eu fiquei espantado com isso! A nossa idéia era projetar o filme em cada capital brasileira, mas paramos na segunda projeção exatamente porque esbarramos nesta barreira de muitas igrejas ainda não estarem preparadas para lidar com os dilemas dos jovens. E nós ouvimos fatos e depoimentos assustadores de jovens membros de igrejas após a projeção, que passa por muitas dificuldades e ninguém sabe disso em suas igjreas. Isso me dói muito no coração, porque não se vê a igreja pronta para isso. Como eu disse, há uma mesmice nas ações voltadas para eles. É o culto jovem em que eles cantam, batem palmas e ouvem uma pregação. Olhando do púlpito, eles estão lá, de bate-papo, mas não há um envolvimento real. Falta alguém preparado para ouvir, tratar e auxiliar o jovem, tornando a igreja saudável nessa área. Infelizmente, não tenho encontrado isso. Por exemplo, certo pastor teve o número de jovens dobrado em sua igreja, em função da exibição do filme, e ficou muito preocupado com isso, porque não sabia como lidar com as questões deles. Ele me ligou, dizendo: “Cláudio, eu preciso de uma ajuda. Estou perdido!”. Aí, nós o orientamos a utilizar o material de auxílio do projeto, que traz idéias de programações e atividades para inserir nas igrejas. Então, essa pergunta é muito pertinente, porque de fato não estamos percebendo um preparo adequado da igreja.

Qual a mensagem que você quer deixar para os líderes de jovens e pastores?
Eu digo a eles que os jovens e os adolescentes estão sedentos por atenção. Eu tenho dois filhos que já passaram da adolescência e, mesmo assim, o filme me ajudou muito a estar mais próximo e conversar mais com eles. E, ao dialogar, eu vejo quanto tempo eu perdi em não ter conversado antes. É uma situação que o filme desperta na gente. O filme traz a perspectiva de que os filhos precisam ser ouvidos, literalmente. Caso contrário, vão dar ouvidos à TV, à internet, à drogas e a tantas outras coisas. É necessário ter mais comunicação. É preciso o pastor chegar mais próximo e bater um papo, nem digo fazer um gabinete, mas parar para ouvir é fundamental. O filme também traz a possibilidade de se reunir em grupos e se abrir.

E qual o conselho que você daria aos adolescentes e jovens que passam por esses problemas?
O primeiro recado é não fazer loucura, e sim colocar o pé no freio diante de uma situação problemática. Quando eu leio os e-mails deles, a primeira coisa que eu respondo é para eles esperarem mais um pouquinho. O recado que sempre dou é que não cometam nenhuma loucura sem antes conhecer um pouco mais da Palavra de Deus e as perspectivas de ajuda que eles podem ter com o auxílio da igreja.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -