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sexta-feira, 19 abril 2024

Caos Social

Não é preciso ser religioso para perceber que o mundo vive a era da desordem, da inversão de valores morais, sociais e espirituais. O reflexo está nas ruas, quando se presenciam famílias desestruturadas, jovens alienados, sem limites e esperança, isso sem contar a Igreja, paralisada diante do caos que se alastra. Como é possível reverter esse quadro?

O Brasil se tornou um dos países mais violentos do mundo. Mas será que a pobreza é o grande responsável por este quadro caótico e vergonhoso? Na opinião da mestre em Educação Eugênia Noronha, não apenas isso. Ela, que tem 40 anos de experiência na área educacional, afirma que um dos grandes problemas é a desagregação familiar. Essa desestruturação tem contribuído muito para este caos, pois a família deixou de ser, há muito tempo, o ambiente gerador de valores, formador de estruturas emocionais, psíquicas e afetivas saudáveis e equilibrados.

Entretanto, segundo Eugênia, “a pobreza leva à desagregação familiar, pois os pais saem em busca do sustento e quase não vêem seus filhos. Assim, as crianças crescem sem referências. Na classe média, o consumismo opera da mesma forma: crianças sem referências, desamparadas e buscando sobreviver”.

A maneira de criar filhos também mudou muito em relação ao passado. Os pais eram as primeiras referências, depois os professores. “A moral era mais rígida. Havia erros, limites e punições. Mas havia também amor”, destaca Eugênia. Porém hoje, segundo ela, os jovens estão perdidos, assim como seus pais.  Os lares estão se fragmentando e as referências se perdendo. A sociedade, de maneira geral, agora tem a função de “educar”, formando ou deformando cidadãos.

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Assim como Davi nos tempos bíblicos, muitos pais sonham com o bem dos filhos; no entanto, não são capazes de transformar suas boas intenções em investimento eficaz na sua educação. Os grandes problemas de Davi eram de ordem familiar e como ele era um pai omisso, sua postura acabou sendo a porta de entrada da desgraça na vida deste grande homem e de seu filho Absalão, por exemplo. Davi chegou a fugir de medo do próprio filho. Cenário comum nos dias atuais.

Numa época como a de hoje, em que pais e mães trabalham muito e passam pouquíssimo tempo com os filhos, eles tentam compensar essa ausência satisfazendo todas as vontades das crianças e adolescentes. As conseqüências imediatas dessas atitudes são jovens que não toleram frustrações, não conseguem formar uma escala de valores e colocam suas necessidades acima das dos outros. Cada dia mais os pais dão aos filhos uma autoridade que não lhes pertence, satisfazendo seus desejos e fantasias no limite da irracionalidade.

Viu-se isso tempos atrás, quando um grupo de jovens moradores de um condomínio da classe média alta do Rio de Janeiro espancaram a doméstica Sirley Dias Carvalho Pinto de forma cruel. Tão assustadora quanto a atitude dos jovens foi a reação de alguns de seus pais. Ouviu-se: “eles não são bandidos, merecem punição vinda de uma estância diferenciada”; “ela era só uma empregada”; Sirley é mais frágil por ser mulher, e por isso fica roxa com apenas uma encostada”. Um dos jovens disse: “pensamos que era uma prostituta”; “tenho condições financeiras e será fácil me livrar da punição”.

O papel dos pais

Educar filhos é certamente uma das atividades mais difíceis de ser exercida pelo ser humano. Nessa batalha eles acertam e erram muitas vezes. Transmitir valores, noções do que é certo e errado, que variam muito de pessoa para pessoa. Depende da situação econômica, da forma como os pais foram criados, de conceitos repassados de geração para geração. Mas o que todo mundo sabe é que se colhe aquilo que se planta. E que tipo de árvores/frutos estão sendo plantados dentro dos lares?

Na opinião do pastor Arnaldo José de Souza, quem ama dá limites. “Todas as crianças precisam aprender desde cedo a agir dentro de normas socialmente aceitáveis, de maneira adequada. O objetivo maior de toda educação é a autonomia responsável”.

Arnaldo, que é subtenente da Polícia Militar do Estado, já presenciou muitas situações em que fica clara a falta de limites transmitida de pais para filhos. “Hoje vemos pólos invertidos: filhos dominando pais. Isso sem contar os valores perdidos, pois hoje para muitos jovens o importante é ter suas vontades satisfeitas. A inércia dos pais faz com que os filhos vivam com o objetivo de satisfazer suas próprias vontades, e não aceitam ser contrariados. Por isso vemos tanta delinqüência”.

A falta de tempo é um problema na vida das famílias. Diante disso, fica difícil para os pais ensinar valores diariamente aos filhos. Os processos de informatização, industrialização e urbanização promoveram uma mudança na família, alterando o seu conceito e os valores. Arnaldo alerta para a importância do diálogo: “em vez de apenas impor comportamentos, os pais precisam propor aos filhos refletirem sobre suas atitudes”, disse o presidente da Igreja Batista Vida Nova, Vila Velha.

A psicóloga e especialista em atendimento pela Universidade de São Paulo, Valentina Pigozzi, afirma que a sociedade tem avançado para um modelo individualista. “Antes pais e filhos tinham o costume de fazer as refeições juntos – um ritual que mantém a família unida e transmite educação e autocontrole para os filhos. Mas hoje imperam as formas rápidas de se comer, para que se tenha o mínimo de trabalho possível”, falou em entrevista em rede nacional.

Na visão do pastor Arnaldo Souza, os pais devem ser firmes com os filhos na maneira de transmitir valores. “Antigamente os pais batiam e castigavam os filhos. Hoje os conceitos mudaram. Mas a Bíblia recomenda a correção. No caso dos jovens que espancaram a empregada doméstica Sirley Dias vemos o que a falta de correção faz. Os pais desses jovens os tratam como coitadinhos, talvez nunca tenham dito um não para eles, e um pai que permite que um filho faça tudo o que quer está incentivando sua irresponsabilidade”, falou.

Os filhos que respeitam os limites e são obedientes aos pais poderão exercitar e obedecer aos limites externos impostos pela lei social, pela moral e pela ética sem maiores choques. Para que isso seja possível, em primeiro lugar, é preciso esclarecer que limite e autoritarismo são assuntos bem diferentes. A autoridade que impõe limites é fundamental na relação entre pais e filhos – Efésios 6:4 diz aos pais: “não provoqueis a ira em vossos filhos, mas criai-os na disciplina” – e deve ser construída com exemplos de respeito e confiança. Já o autoritarismo é arbitrário, tem relação com a agressividade e é nocivo.

Tania Zagury, em seu livro “Limites sem trauma”, da Editora Record, fala que os limites são um dos pilares para uma boa educação, pois fornecem lições de autocontrole e comportamento ético. “Mas justamente porque ajudam a formar a estrutura da personalidade, os limites devem ser coerentes. Os pais nunca devem esquecer de que justamente eles devem ser exemplos dos mesmos limites que impõem”.

O papel da escola

Não é de hoje que a escola tem levado a carga de educar os jovens. E, conforme diz o psiquiatra e escritor Içami Tiba, essa área não compete a ela em primeiro plano, e sim à família. “Nós, educadores, temos tido uma tarefa muito maior, que é ensinar os filhos dos outros a conviver. Além disso, há uma grande dificuldade de transmitir valores éticos. É um desafio conseguir a consciência dos alunos para a importância de cultivar comportamentos éticos”, disse o autor do best seller “Quem ama, educa”.

A escola é a continuação do que acontece em casa. Hoje há alunos que desconhecem atitudes simples como dizer um “por favor”, “com licença”, “obrigado”, no relacionamento com outras pessoas. E como se não bastassem os desafios pedagógicos, os educadores presenciam a violências nas escolas e concluem que o ambiente de violência comum nos dias atuais também é fruto de uma educação fraca ou indisponível para alguns jovens.

O economista do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Néri, acredita que a educação e a violência têm uma relação estreita. Segundo ele, a violência na escola afeta o desempenho e a freqüência, atrasando o aprendizado. E, ao deteriorar essas variáveis, acaba criando um terreno fértil para a vida criminosa. “A violência atrapalha o estudo e a falta de estudo, de alguma forma, impacta na violência, no futuro”, disse.

O estudo Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros, divulgado em março de 2007 pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, mostra que jovens de 15 a 24 anos são as maiores vítimas de armas de fogo no país.

Levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas, com base em questionários do Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2003, mostra que mais de 47% dos diretores de escolas brasileiras já presenciaram agressões verbais de alunos a professores, e mais de 26% já viram estudantes se agredirem fisicamente. Além disso, um entre cada cinco diretores viu ação de gangues no entorno das escolas.

E como reverter tal quadro? Na opinião da educadora Eugênia Noronha, a escola é um importante suporte para a formação de cidadãos conscientes, saudáveis e produtivos – suporte este que precisa ser formulado em conjunto. “Os educadores precisam respeitar as diferenças, praticar a inclusão, trabalhar com um currículo que atenda às realidades e às necessidades da comunidade de alunos, tendo como meta o ler e o escrever, porque o aluno, quando  sabe ler e escrever, produz muitas outras coisas. Mas se nem isso ele aprende na escola, fica difícil reverter qualquer quadro”. A educadora ainda acha necessário a sociedade descobrir a importância da participação efetiva nas discussões sobre a elaboração das políticas educacionais.

O papel da Igreja

Para evitar o caos social, a Igreja tem importante papel a desempenhar. Essa é a opinião do secretário de Segurança Pública do Estado do Espírito Santo, Rodney Miranda. Para ele, nossos líderes religiosos têm uma parcela fundamental, promovendo a conscientização, falando aos pais, aos jovens ajudando-os a pensar no quem têm feito para reverter o quadro que está aí. “A polícia cuida de conseqüências da violência e do combate a essas conseqüências, mas se a gente não der um

Para a educadora Eugênia Noronha, a Igreja precisa focar mais sua atividade nas famílias. “Ela deve orientar mais os pais com palestras, encontros, debates sobre temas atuais e promover mais encontros em família como forma de ajudar a conter o avanço do desequilíbrio social”.

A Bíblia é um manancial de orientações para pais sobre a forma como criar os filhos. E todo cristão sabe que a boa educação e instrução no lar resultarão no aperfeiçoamento do caráter dos filhos, no relacionamento sadio da família, num grande benefício para a sociedade como um todo. É importante que os pais desde cedo se preocupem com a formação cristã dos filhos e os levem à casa de Deus.

É o que afirma o pastor Arnaldo Souza. Segundo ele, filhos que não temem a Deus não temem nada. “Para que o ensino no lar seja eficaz é necessário que a Palavra esteja, primeiro, no coração dos pais   que devem testemunhar para os filhos do amor e dos feitos de Deus. A Igreja precisa valorizar o ser humano. Deus está preocupado com as vidas! O que vemos hoje são discursos crentes voltados para o lado material e o ser humano relegado a segundo plano. Estamos colhendo o resultado disso, quando  questionam porque o Estado mais evangélico do Brasil é também um dos mais violentos!”.

O que a Bíblia nos ensina sobre a disciplina de filhos?

_ Disciplina significa treinamento para agir de acordo com regras estabelecidas. Os filhos precisam aprender que em todos os segmentos existem regras, normas, horários que devem ser cumpridos – Provérbios 22: 15
_ Disciplina significa correção. O texto de Apocalipse 3: 19 mostra o relacionamento de Jesus com uma igreja rebelde. Mas, apesar de ser rebelde, Ele a amava e por isso a corrigia;
_ Disciplina significa imposição de limites. Qualquer liberdade sem limite é prejudicial. É preciso que se estabeleçam limites e que estes sejam reconhecidos por todos – Provérbios 25: 28.
_ Disciplina tem resultados positivos. A correta e firme disciplina trará sabedoria aos filhos, descanso aos pais – Provérbios 29: 15-17; 23: 13-14.

Davi como pai

_ Não agia como um pai deve agir. Absalão tinha tudo: dinheiro, castelo, casas, prestígio, posição social, status, era bonito, mas não tinha pai, não tinha família. Absalão não queria um rei, mas um pai;
_ Transferiu sua responsabilidade para o avô de Absalão. Para quem você está transferindo a responsabilidade de administrar a alma de seus filhos? Para os avós? Para a televisão? Para os amigos deles?;
_ Era incapaz de confrontar seus filhos, mesmo sendo capaz de vencer gigantes. Não havia diálogo com os filhos;
_ Não fez de sua casa seu primeiro “campo missionário”. Que adianta ganharmos o mundo inteiro e perdermos nossa alma? Perdermos nossos filhos?;
_ Chorou, desiludido por seus erros: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!”.

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