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terça-feira, 16 abril 2024

Agora entendo…

Após terem sido feridas pela vida, elas conseguiram superar, mesmo sem entender imediatamente, a razão de sua dor…Agora entendo…

Quando o assunto é sofrimento, os olhares e o entendimento sobre o seu conceito são múltiplos. A perspectiva muda conforme a experiência de cada um. O contato com a dor, os golpes e as adversidades da vida, sejam elas relacionadas ao corpo físico, ao sentimento, à vida espiritual ou aos eventos circunstanciais, é capaz de endurecer ou amolecer um coração, enfraquecer ou fortalecer a fé. Mas será que a força da “tempestade” e o tamanho das “ondas” que se levantam contra alguém podem determinar o grau de sua dor? Os problemas nos ensinam algo?

O que tem de didático nessas agruras? Que proveito há em enfrentar tormentas? Diante das inúmeras dúvidas que possam surgir numa “via-crúcis”, uma pergunta quase inevitável toma conta do pensamento de quem foi ferido pela vida: “Por quê, Deus?”.

Para a psicóloga e escritora Maria Tereza Maldonado, que já publicou 40 livros, especialmente sobre construção da felicidade e da paz e gestão de conflitos, essa indagação surge às vezes a partir do sentimento de revolta e de injustiça. ‘“Se sou tão bom e cumpro meus deveres, por que estou passando por isso?’, pode alguém pensar. Mas é preciso lembrar que nossa capacidade de entender o plano maior da existência é muito limitada e, com frequência, só conseguimos compreender o sentido de uma experiência de perda ou de sofrimento anos depois do que aconteceu.”

Jesus, o maior exemplo de superação do sofrimento, disse a Pedro: “Agora você não entende o que estou fazendo, porém mais tarde vai entender!” (Jo 13:7). Quanto à busca por uma razão que explique fatos infelizes, o pastor e psicólogo Marcelo Aguiar observa que, no livro de Jó, a pergunta mais repetida é, exatamente, “por quê?”.

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“Só conseguimos entender o sentido de uma experiência de perda ou de sofrimento anos depois do que aconteceu” Maria Tereza Maldonado, psicóloga e escritora

Mas quando o Pai finalmente se dirige a esse serviço, nos capítulos finais, não oferece ao patriarca nenhum “porquê”. O que faz é questionar Jó sobre como o universo funciona e é sustentado. O patriarca admite que não sabe responder, mas também reconhece que o Soberano sustenta toda a Criação e a preserva muito bem. E o Senhor então questiona-o: “Será que eu governaria bem a esfera natural e não faria o mesmo com a esfera espiritual?”. O que Deus faz é pedir a Jó que confie nEle, mesmo sem saber o porquê. E essa importante figura bíblica, conhecida pela virtude da paciência, faz exatamente isso. Esse é o caminho apontado pelo livro de Jó para todos os justos que padecem.

Numa tentativa de expor a razão do sofrimento, Rubem Alves, teólogo, pedagogo, poeta e filósofo brasileiro, faz a seguinte comparação: “Ostra feliz não faz pérola”. O verso, que traz um tom de graça, guarda também a real dor do molusco com os ferimentos provocados pela entrada de uma substância estranha ou indesejável no seu interior, como um parasita ou grão de areia. E, se as águas estiverem agitadas, com ondas batendo fortemente, essas partículas e organismos do fundo do mar entrarão impetuosamente na ostra para machucá-la. Para isso, perfuram a concha e se alojam, causando dor. Mas na parte interna da estrutura é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar. Seria uma espécie de antídoto não exatamente para evitar ou combater a dor, mas para usá-la de forma positiva. Quando um grão de areia penetra a concha, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o elemento intruso com camadas e mais camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai se formando. Nesse sentido, pérolas são produtos da dor e, sem ela, a preciosa joia nunca existiria.

Aprendendo com o sofrimento

Poderia Deus usar o sofrimento contra nós? Ou seria… para nós? Marcelo diz que sim. “Pode ser um meio para que o Pai abençoe nossas vidas e faça a Sua vontade. Isso acontece porque, através do pecado, o padecer entrou no mundo. A partir daí, o Senhor lança mão das circunstâncias que encontra, incluindo a adversidade, para executar os Seus planos bons, perfeitos e agradáveis. Para nos trazer a salvação, por exemplo, Ele usou o sofrimento de Jesus, embora este sacrifício tenha decorrido do pecado de muitos homens (a traição de Judas, o abandono dos apóstolos, a covardia de Pilatos, o ódio dos líderes religiosos etc) e, em última análise, do pecado de todos nós.”

O pastor José Roberto, de Vila Velha, alerta para a importância de entendermos que o homem, apesar de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, é um ser terreno, de natureza imperfeita e não entendedor do curso de sua jornada, não sabendo desenvolver-se de forma positiva e saudável no seu contexto existencial.
“Daí então é que entra a ação divina, que uma vez compreendendo essa fragilidade humana usa de Seu poder e sabedoria para que, através da ferramenta do sofrimento, o homem possa chegar à conscientização de sua fragilidade e incapacidade para atingir um estado de total satisfação sem passar pelo deserto. Isto é, o sofrimento é pedagógico, e aprendemos através dele”, afirma.

Gênesis 3:14-19 esclarece que a dor não fazia parte do plano original destinado à humanidade pelo Criador, que passa a adotar esse recurso para disciplinar: “Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados” (Hb 12:11). “Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a Tua palavra. Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os Teus decretos” (Sl 119: 67,71).
E ainda aprende-se a ter esperança: “Espero no Senhor com todo o meu ser, e na Sua palavra ponho a minha esperança. Espero pelo Senhor mais do que as sentinelas pela manhã”; “Ponha sua esperança no Senhor, ó Israel, pois no Senhor há amor leal e plena redenção” (Sl 130:5-7).

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“O sofrimento é pedagógico, e aprendemos através dele” José Roberto da Silva, pastor batista

Quando passam pela prova, alguns se revoltam, e outros se quebrantam. Há quem se afaste de Deus e os que se aproximam dEle. É possível aprender lições distintas através de situações semelhantes, porque as pessoas são diferentes. O fator decisivo não é aquilo que nos acontece, e sim o modo como lidamos com os acontecimentos, como prega o ditado “O mesmo sol que amolece a cera endurece o barro”.
A história narrada no livro “Cura pela Palavra”, de Marcelo Aguiar, conta que um rei tinha o hábito de caçar na floresta, acompanhado de seu conselheiro. Certo dia, ao ser disparada, a arma explodiu e lhe arrancou um dedo da mão direita. O monarca perguntou ao subordinado como Deus deixara isso acontecer. O subalterno, citando Romanos 8:28, respondeu: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que O amam, dos que foram chamados de acordo com o Seu propósito”. Irritado com a afirmação de seu servo, o soberano mandou encarcerá-lo.

Tempos depois, o rei foi feito prisioneiro por selvagens que iriam sacrificá-lo à sua divindade, mas estes notaram que lhe faltava um dedo.
E, como não poderia ser uma oferta agradável, a “presa” foi solta pelos seus algozes. Com esse livramento, o rei finalmente conseguiu entender o que acontecera e mandou libertar o ex-conselheiro, que havia acertado em sua resposta. Se ele não tivesse perdido o dedo, teria perdido a vida. Intrigado, perguntou então ao servo como Deus deixara que ele, o rei, fosse injusto e o encarcerasse. O súdito respondeu que, se não tivesse sofrido essa privação, teria acompanhado o rei e, como não lhe faltava parte alguma do corpo, o sacrificado seria ele próprio. Nos dois casos, o Senhor agiu acertadamente.

Assim como Jó?

Embora para muitos possa ser difícil entender como o Senhor permite que passemos por experiências tão difíceis na vida, para a manicure Tânia Cristina Alves, do Rio de Janeiro, não foi isso que aconteceu. Pelo contrário, ela não só compreendeu, como também aceitou o fato e sentiu paz. Com apenas 24 anos, já mãe de uma menina de 5 e dois meninos gêmeos de 10, a então jovem entrou no deserto mais difícil de sua jornada.
Contraiu hanseníase (antiga lepra) e chegou ao estágio mais grave da doença. Seu sofrimento durou uma década, colocando-a várias vezes entre a vida e a morte; a aceitação e o abandono; a crítica e a compreensão; o deboche e o respeito. Essa experiência a fez lembrar a história de Jó, em alguns aspectos. Porém, Tânia não tinha riquezas, casa, bens, salário ou qualquer outra renda que garantisse seu sustento e tratamento.

“Os médicos demoraram muito a descobrir que havia contraído hanseníase e acabei sofrendo os efeitos da doença por todo o corpo, o que me levou quase à morte. Meus ossos, nervos, articulações e carne doíam a ponto de parecer que seriam arrancados. As dores e inchaços eram frequentes e fiquei por muito tempo impossibilitada até de me sentar na cama. Nesse longo período ouvi pessoas da família falarem para eu desistir de Deus, debochando da minha fé. Outros me culparam pelo meu estado, como se fosse castigo por um pecado. Vi muita gente com medo de se aproximar de mim; outras pessoas simplesmente desprezaram nossa amizade. Para piorar, fui despejada da casa onde morava”, detalhou.

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Fonte: Maria Tereza Maldonado, psicóloga

Por outro lado, esse episódio foi incrivelmente enriquecedor, pois as dores não foram capazes de abalar a sua paz e a sua fé. “Muitos irmãos em Cristo se compadeceram de mim, cuidaram de mim, e isso foi meu consolo. Sustentaram-me com alimentos e construíram uma casinha para eu morar com meus filhos. Claro que eu não queria ficar doente, mas consigo me alegrar, porque aprendi a dar valor à vida e a práticas simples como andar, comer e me vestir. Hoje estudo para atuar na área de saúde e cuidar de outras pessoas. Meus filhos cresceram, e sou uma mulher mais forte e grata a Deus e aos que me ajudaram a atravessar um deserto de 10 anos entre casa, hospital e quase cemitério.”

O mal que Deus cria

A Bíblia é clara ao afirmar que Deus é bom, e que nada de mau procede dEle: “Deus é luz, e não há nEle treva alguma” (1 Jo 1:5). O sofrimento é consequência do pecado, do mau uso do livre-arbítrio do ser humano (Rom 5:12). Quando, em Isaías 45:7, o Senhor afirma “eu faço a paz e crio o mal”, a palavra hebraica para “mal”, “ra”, tem o sentido de “calamidade, acontecimento mau, coisa desagradável, castigo”. A referência era às situações adversas que os israelitas enfrentavam como disciplina pelo seu afastamento do Pai.

Deus pode nos mandar coisas agradáveis ou desagradáveis, mas todas elas visam ao bem dos seres humanos ou à execução da justiça divina. Foi nesse sentido que Jó disse à sua esposa: “Recebemos de Deus o bem, e não receberemos o mal?” (Jó 2:10). Ou, em outras palavras: “Aceitamos receber de Deus coisas agradáveis, como filhos, saúde e bens; e não aceitaremos receber as desagradáveis, como doenças, perdas e escassez?”.
A intervenção divina também disciplina os Seus filhos amados, e isso nunca é algo agradável, embora seja necessário e, em longo prazo, um fato pelo qual agradeceremos mais tarde (Hb 12:11).

O Criador é justo, mas o mundo não. O Senhor concedeu ao homem o livre-arbítrio, que, se usado de forma incorreta, resulta em sofrimento tanto para quem comete o pecado quanto para quem é vítima dessa falta alheia. Vivemos em um mundo onde acidentes ocorrem, pessoas adoecem, tragédias se acumulam. E esses males atingem tanto crentes quanto descrentes.

Ninguém vence sozinho

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“Não foi Deus quem inventou o sofrimento, mas foi Ele quem descobriu como usá-lo!” Marcelo Aguiar, pastor e psicólogo

A experiência dolorosa do designer Clauber do Nascimento foi um misto de dois tormentos. “Passei por um período de crise de identidade que me levou à depressão. Foi um tempo em que larguei faculdade, emprego, ministério na igreja, e que passei quase um ano no clímax dessa crise. Foi um tempo em que minha fé foi testada e cheguei em muitos momentos a tê-la quase extinta. A crise que vivi me despertou para acertar as coisas que em mim estavam em desacordo com a visão do Pai. Percebo que eu vivia um sentimento de derrotado e não sabia me apropriar das promessas. Mas, mesmo não crendo como deveria, escolhi não perder o temor a Deus, e foi isso que me manteve firme. Acredito que todo tipo de crise e sofrimento sempre poderá ser encarado como oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento. É lógico que a dor nos torna míopes muitas vezes e também tendemos a negar e resistir às palavras e atos de ajuda que nos é dada. Eu já não sabia sonhar, mas Deus tinha sonhos em minha vida e estava me preparando para que pudesse realizá-los.

Apropriei-me da promessa dada por meio do profeta Ageu quando disse que “A glória desta última casa será maior do que a da primeira” (Ag 2:9), entendendo que, assim como no templo, Deus iria reconstruir minha vida e brilhar ainda mais Sua glória. E foi exatamente assim que aconteceu. Hoje, me vejo um homem vitorioso, tenho a esposa e os filhos que Ele sonhou, carreira profissional e acadêmica, me vejo sendo aperfeiçoado no serviço do Reino, vivo uma vida de alegria e satisfação e, além disso, Ele tem me dado a oportunidade de ministrar uma vida de sonhos e vitórias em outras pessoas. Conheci mais a Deus no sofrimento, sim, e aproveitei o máximo dessa experiência para crescer como pessoa e cristão. E sei que a oração dos irmãos e, principalmente, a estrutura da família, foi fundamental para que eu me reerguesse. Afinal, ninguém vence sozinho.”

O sofrimento chegou à vida Thiarliene Carvalho, moradora de Venda Nova do Imigrante (ES), com uma outra roupagem, atingindo seu casamento e filhos. Quem conta é o pastor José Roberto da Silva, membro da Igreja Batista do Ibes, em Vila Velha. “Fui chamado às pressas para socorrê-la. Era um caso de urgência, porque Thiarliene tomou grande quantidade de comprimidos para se matar. Após os primeiros socorros, ela nos relatou que os motivos da tentativa de suicídio foram o desprezo, os maus-tratos e o abandono de seu parceiro conjugal contra ela e os dois filhos. Com a vida sem sentido e cheia de tristeza, Thiarliene desejou morrer, mas escapou. Pregamos as boas-novas de Salvação e, passados sete anos, ela é uma nova criatura, que refez sua vida, batizou-se, formou-se profissionalmente e hoje serve ao Senhor Jesus em novidade de vida”, narra o pastor.

Dica de leitura


Agora entendo...Curando as feridas da alma

Editora Thomas Nelson
Sheila Walsh

 

 

Agora entendo...Sofrimento, propósito e graça

Ed. AD Santos
Ana Cristina e Andrade Silva

 

 

Agora entendo...Cura pela Palavra

Editora Betânia
Marcelo Aguiar

 

 


 

Uma aula de felicidade

Na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, as aulas mais procuradas são as do professor Tal Ben-Shahar. Motivo? Ele usa um ramo da psicologia para ajudar os estudantes de graduação na busca da superação da dor e da realização pessoal. Em outras palavras, ensina a ser feliz. “A primeira lição que dou na minha aula é que nós precisamos nos conceder a permissão de sermos seres humanos. Isso significa vivenciar emoções dolorosas, como raiva, tristeza e decepção. Temos dificuldade de aceitar que todo mundo sente essas emoções às vezes. Não aceitar isso leva à frustração e à infelicidade”, disse ele em entrevista concedida à revista Exame.

Na avaliação da psicóloga Maria Tereza Maldonado, há pessoas que entendem com mais facilidade ser o sofrimento parte inevitável da vida. E existem aquelas que o “fabricam” :
não conseguem sentir gratidão pelo que a vida lhes oferece. Por isso, vemos indivíduos que se sentem felizes, apesar de enfrentarem inúmeros problemas, e outros que se mostram em estado péssimo, mesmo quando, sob o olhar alheio, vivem com tudo para serem plenamente satisfeitos nesse aspecto. Não é possível nem necessário blindar a dor, porque é a capacidade de senti-la que abre a possibilidade da alegria e do prazer. Quem tenta se anestesiar para a dor também fica frio para os demais sentimentos. Não adianta se proteger com uma carapaça nem sufocar nenhum sentimento dentro de nós, porque eles encontrarão caminhos para se expressarem, inclusive por doenças em nosso corpo.

Pr. Marcelo diz que não existe um sofrimento específico para ensinar uma lição específica. As pessoas podem aprender lições diferentes através de situações semelhantes. O fator decisivo não é aquilo que nos acontece, e sim o modo como lidamos com isso. Há um ditado que diz que “o mesmo sol que amolece a cera endurece o barro”. Martinho Lutero afirmou: “Eu nunca entendi o significado da Palavra de Deus até que entrei em aflição”. E Jó, após passar por indizíveis adversidades, disse a Deus: “Antes eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5). Não foi Deus quem inventou o sofrimento, mas foi Ele quem descobriu como usá-lo!

Willian Douglas fala sobre perdas:

 

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